O cheque especial assumiu a dianteira entre as modalidades de crédito com os maiores juros do sistema financeiro brasileiro. A taxa média cobrada de pessoas físicas, conforme dados divulgados nesta quarta-feira, 27, pelo Banco Central, chegou a 311,9% ao ano em maio, desbancando da liderança a taxa média do rotativo do cartão, que ficou em 303,6% no período. A maioria dos consumidores que recorrem ao cheque especial, no entanto, desconhecem o custo desse tipo de empréstimo.
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Uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil, e obtida com exclusividade pelo Estado, mostra que 17% dos consumidores precisaram recorrer ao limite do banco pelo menos uma vez no último ano. Desses, 63% desconheciam as taxas e os juros cobrados pelas instituições sobre esse financiamento.
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Ao todo, os brasileiros devem cerca de R$ 24 bilhões no cheque especial, segundo os dados mais recentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), divulgados em abril. O valor médio é de R$ 900.
O efeito “bola de neve”, no entanto, faz com que essa dívida se multiplique rapidamente. Um empréstimo de R$ 1 mil feito na modalidade de cheque especial vira R$ 4.119 depois de um ano. No crédito pessoal, seria R$ 1.392 no mesmo período.
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Uma parcela relevante dos consumidores que incorporaram o limite concedido pelos bancos na conta corrente usa esse dinheiro como parte do orçamento mensal. Segundo o SPC Brasil, dos clientes que estão no cheque especial, 46% recorrem a ele todos os meses. Para 34% dos consumidores, o objetivo é cobrir imprevistos com doenças e medicamentos. Outros 12% usam o limite para fazer compras no supermercado. A pesquisa também mostra que 23% pagam dívidas em atraso e 18% fazem manutenção em automóveis.
“De uma forma geral, esses dados mostram que um bom número de pessoas não faz ideia do que é o cheque especial e, principalmente, do impacto negativo de seu emprego no cotidiano”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, responsável pelo estudo.
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A história da representante de vendas Laíza Sabino, de 22 anos, é um exemplo disso. Ela migrou de uma conta poupança para uma conta corrente pela primeira vez ao completar 18 anos. “Não sabia, mas recebi um limite de cheque especial de R$ 700. Quando vi o dinheiro, pensei que fosse meu e gastei. Dois meses depois, recebi uma carta de cobrança de R$ 1,2 mil”, lembra. “Fiquei desesperada e aceitei um acordo com o banco para pagar a dívida em seis vezes. Acabei pagando quase R$ 2 mil.”
Para a economista e pesquisadora do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) Ione Amorim, o caso de Laíza é mais comum do que se imagina. “Acontece o tempo inteiro, pela ausência de educação financeira e pelo fato de uma pessoa ter acesso a uma conta corrente e nem saber dos produtos que estão ali incluídos. Além disso, há uma prática de mercado de vincular o cheque especial ao saldo do correntista, o que leva a confusões desse tipo”, afirma.
Rotativo. Apesar de liderar o ranking entre as modalidades de crédito, a taxa média cobrada de pessoas físicas no cheque especial chegou a recuar de 321% em abril para 311,9% ao ano em maio. Só que, segundo o BC, essa taxa ainda ficou acima do que é cobrado no rotativo do cartão de crédito, que caiu de 328,6% ao ano em abril para 303,6% ao ano em maio.
No início de abril, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou uma medida de autorregulamentação: os próprios bancos vão oferecer, a partir de julho, um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção valerá para débitos superiores a R$ 200. A expectativa da entidade é de que essa migração do cheque especial para linhas mais baratas acelere a tendência de queda do juro cobrado ao consumidor.