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Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|Será difícil manter a recuperação da economia

Se o negacionismo se estender aos riscos econômicos, poderá provocar danos ao emprego e à renda

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Por Claudio Adilson Gonçalez
Atualização:

O ministro Paulo Guedes disse que as revisões para baixo que os economistas vêm fazendo para o crescimento da economia brasileira em 2022 não passavam de conversinhas. Não é bem assim. Na verdade, os ventos contrários à recuperação da atividade, tanto internos quanto externos, crescem de maneira preocupante.

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No front doméstico, destacam-se as incertezas fiscais e eleitorais, escancaradas na investida irresponsável do governo contra o teto de gastos, o inevitável aperto monetário que poderá levar a Selic para a casa dos 12%, no primeiro trimestre do ano que vem, o alto nível de endividamento das famílias e a corrosão do poder de compra dos consumidores.

Externamente, como reconheceu o próprio Banco Central, o cenário também se tornou mais desafiador. Os países desenvolvidos estão se defrontando com uma surpreendente escassez de produtos manufaturados, matérias-primas e energia, que deverá forçá-los a endurecerem suas políticas monetárias antes do que era esperado. A redução da liquidez internacional, na atual fase do ciclo econômico brasileiro, seria uma péssima notícia.

Mas a maior preocupação é a possibilidade de redução brusca do crescimento da China. Os desequilíbrios macroeconômicos do gigante asiático são flagrantes. Os investimentos, que respondem por mais de 40% do PIB, são sustentados por dirigismo estatal, juros subsidiados à custa de sub-remuneração das poupanças privadas e excessos de alavancagens. Isso prenuncia queda de rentabilidade do capital em vários setores e, consequentemente, aumento de inadimplência.

As dificuldades financeiras da empresa chinesa Evergrande podem ter sido apenas um primeiro sinal de alerta Foto: Aly Song/Reuters

No setor imobiliário residencial há uma profusão de indicadores que demonstram a existência de bolha com risco de estouro iminente. As dificuldades financeiras da empresa chinesa Evergrande, gigante do setor, podem ter sido apenas um primeiro sinal de alerta. Em grandes cidades, como Shangai, Hangzhou, Shenzhen e Beijing, o aluguel médio está em torno de 35% da renda das famílias e o preço do imóvel chega a superar 60 anos de custo de locação. Mas as taxas de desocupação de imóveis já começaram a crescer.

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Como o mercado financeiro e de capitais chinês é fechado, um eventual estouro da bolha imobiliária não teria potência para provocar crise financeira internacional da magnitude da que ocorreu após a quebra do Lehman Brothers, em 2008, mas a desaceleração brusca que provocaria no crescimento econômico daquele país seria muito danosa para o Brasil. Afinal, a China é nosso maior parceiro comercial. Haveria queda das exportações brasileiras, aumento da percepção de risco soberano e pressões sobre a taxa de câmbio.

O negacionismo na saúde amplificou o número de vítimas da pandemia. Se se estender aos riscos econômicos, como as manifestações e ações do ministro Guedes sugerem, poderá provocar danos adicionais ao emprego e à renda dos brasileiros.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez
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