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Bastidores do mundo dos negócios

InterCement foca em sua venda para evitar cobrança acelerada de dívidas

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Votorantim Cimentos já manifestaram interesse

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Foto do author Jorge Barbosa
Por Cynthia Decloedt (Broadcast), Ivo Ribeiro e Jorge Barbosa (Broadcast )
Fábrica da InterCement em Ijaci, MG: empresa quer vender suas 15 unidades no Brasil de uma só vez Foto: Divulgação/InterCement

A InterCement está empenhada em concluir sua venda para evitar um novo embate com credores e a aceleração da cobrança de suas dívidas em maio. Entre as empresas que já manifestaram interesse no ativo estão a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Votorantim Cimentos. Nenhum acordo de exclusividade foi fechado ainda com qualquer dos interessados e, apesar do tempo apertado, as conversas seguem em torno de uma proposta que atenda os interesses da companhia e de sua controladora, a Mover (ex-Camargo Corrêa).

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A venda da companhia é, aparentemente, a principal saída para encaminhar uma solução ao endividamento que pode superar R$ 8 bilhões e tem vencimentos em maio e em julho. O BTG Pactual foi contratado para tocar o processo de venda da InterCement e o Morgan Stanley assessora a CSN.

Em 08 de maio vencem obrigações financeiras com o Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, resultantes de três rolagens de empréstimos tomados no ano passado. Os três bancos têm US$ 584 milhões em debêntures com vencimentos de 2025 a 2027 que podem ser antecipados agora em maio.

Vencimentos estão atrelados

A mais recente rolagem foi formalizada com a condição de que essa dívida teria vencimento antecipado para maio se a InterCement não conseguisse renegociar US$ 549 milhões em “bonds”, títulos de dívida no exterior, com vencimento em 17 de julho, o que não aconteceu. As debêntures foram emitidas em 2020 pela InterCement Participações e pela InterCement Brasil ao custo de CDI + 3,75% ao ano, com vencimento a partir de junho de 2023, e somavam na época US$ 895 milhões.

Segundo fontes, os bancos podem, eventualmente, estender esse prazo se a negociação de venda não evoluir em tempo. Mas, de qualquer forma, restaria ainda a barreira dos “bondholders”, com os quais não houve nenhum acordo até o momento. A InterCement estaria priorizando a conversa com os interessados na companhia, para levar aos bancos e aos detentores dos “bonds” quais seriam as condições de uma renegociação considerando as condições da venda.

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A cimenteira gostaria de se desfazer da totalidade do restante de seus ativos em uma única operação. No ano passado, já vendeu ativos do Egito, Moçambique e África do Sul, levantando cerca de US$ 265 milhões. No Brasil, é dona 100% da InterCement Brasil, que opera 15 fábricas (cinco estão hibernadas). Na Argentina, a holding detém 52,14% de participação no capital da Loma Negra, maior cimenteira do país, com nove unidades industriais.

Venda de ativo na Argentina é difícil

A maior dificuldade para a venda da InterCement tem sido a alienação dos 52,14% do capital da Loma Negra, empresa líder em produção de cimentos na Argentina (domina 46% do mercado) e listada nas bolsas de Nova York e de Buenos Aires, com valor de mercado próximo de US$ 1,3 bilhão. Um grupo de investidores argentinos teria feito proposta apenas pela Loma Negra. Fontes disseram que a crise econômica no país vizinho tem prejudicado a atratividade da oferta feita pela cimenteira sobre seus ativos, embora exista o reconhecimento de que as operações no país são competitivas.

Segundo pessoas próximas das negociações, a CSN fez oferta pelos ativos do Brasil e Argentina. A chinesa Huaxin também teria interesse nas operações dos dois países. Por sua vez, Votorantim, o grupo Polimix (dono da Cimento Mizu) e a italiana Buzzi Unicem (controladora da Cimento Brennand) apresentaram ofertas em separado somente pelas operações no Brasil, de forma fatiada (por grupos de fábricas).

A venda em blocos dos ativos brasileiros é considerada a mais complexa do negócio, pois todas as contingências (fiscais, tributárias, multas e outras) ficariam a cargo da holding cimenteira.

Transação será objeto de análise pelo Cade

A compra da InterCement também será objeto de análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), visto que a cimenteira é a terceira maior em operações no Brasil, com participação de mercado em torno de 14% em 2023.

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O posto de vice-líder foi tirado dela pela CSN Cimentos no ano passado, após as aquisições da Cimento Elizabeth (2021) e da LafargeHolcim (2022). Com isso, a companhia do empresário Benjamin Steinbruch, principal acionista da CSN, elevou sua fatia a 21% das vendas no mercado brasileiro. A Votorantim Cimentos permanece na liderança, com cerca de um terço de participação das vendas totais no País.

O órgão antitruste poderá exigir alguns remédios anticoncorrenciais no caso de a CSN Cimentos levar a cimenteira da família Camargo, uma vez que passaria a ter uma forte concentração de mercado na região de Minas Gerais e Rio de Janeiro.

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Se comprar, CSN assume a liderança

Conforme especialistas do setor, se não houver nenhuma restrição do Cade, a cimenteira de Steinbruch assumiria a liderança do mercado brasileiro de cimento, com cerca de 35%, tirando da Votorantim Cimentos décadas de liderança.

O mercado cimenteiro no Brasil é controlado por 22 grupos empresariais, dos quais 11 são responsáveis por 95% das vendas, que somaram 62 milhões de toneladas no ano passado. O setor tem enfrentado dificuldades por conta da política monetária ainda restritiva no País, que tem prejudicado o nível de lançamentos imobiliários. Outro fator são os baixos investimentos em infraestrutura, um segmento que em outros países é grande consumidor de cimento. A indústria registrou retração no mercado nacional em 2022 e 2023. Para este ano espera melhora de 2%.

De acordo com fontes, a captura pela CSN dos ativos da InterCement no Brasil não provocaria repercussão negativa no segmento, que está mais preocupado em procurar alternativas para melhorar o nível da atividade produtiva. Procurada, a InterCement não comentou.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 12/04/24, às 16h33

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