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Cooperativas de crédito querem ampliar atuação

Por Agencia Estado
Atualização:

A determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para encontrar formas de fortalecer as cooperativas de crédito trará à tona uma rivalidade velada que impera nos bastidores do sistema financeiro. O grupo formado por representantes do setor e do governo que vai estudar o assunto ainda não oficializou a data da primeira reunião mas, na pauta, certamente estará a reivindicação das cooperativas para ampliar a atuação por meio da criação de cooperativas regionais, mais diversificadas. Os bancos, apesar de manterem a aparência de cordialidade com os concorrentes, são contra. Como são consideradas instituições financeiras, as cooperativas de crédito estão sujeitas à regulamentação do Banco Central (BC). As regras em vigor atualmente limitam a atuação. Elas devem obrigatoriamente ser direcionadas a uma categoria específica. O máximo liberado recentemente foi a criação de cooperativas que reúnam atividades afins ou complementares. Assim, pode existir uma cooperativa de médicos e farmacêuticos, mas uma mesma entidade não pode atender as áreas rural e de saúde, por exemplo. As entidades representativas do setor, como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Unicred, defendem a criação de cooperativas regionais que atuariam em diversas cidades, como uma espécie de central de várias cooperativas menores. Elas alegam que essa seria a forma de ganhar escala, aumentando os pontos de atuação em todo País. "Essa é a melhor forma que vemos para ajudar na distribuição de renda", diz o presidente da Unicred em Minas Gerais, Geraldo Magela Couto. "Em vez de criarmos várias cooperativas singulares de diversas categorias profissionais, teríamos agências para atender os cooperados em cidades pequenas onde não há atendimento bancário, por exemplo", completa. Hoje, a atuação das cooperativas está muito concentrada. Segundo um levantamento do BC, das cerca de 1.400 cooperativas de crédito existentes no Brasil, 1.030 estão nas Regiões Sul e Sudeste. Apenas 224 estão direcionadas para áreas mais carentes de crédito, como Norte e Nordeste. O pleito para ampliar a atuação já foi entregue ao BC, mas o diretor de Normas, Sérgio Darcy, encarregado do assunto, disse que o assunto ainda não foi estudado. "Essa questão precisa ser avaliada com profundidade. Isso pode possibilitar o crescimento do setor, mas a formatação atual já é bem abrangente", argumenta. A preocupação do diretor é encontrar fórmulas para fortalecer o setor sem perder a qualidade do serviço e preservando a saúde financeira das cooperativas. O tema entrará na pauta do grupo criado pelo governo para propor medidas que estimulem o setor. Na sexta-feira, as cooperativas encaminharam ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, os nomes dos representantes do setor que participarão das discussões. Agora, eles aguardam a data da primeira reunião. "Cooperativas já têm liberdade suficiente para atuar. Se elas querem crescer, crescer, crescer e ter atuação nacional, é melhor virar um banco", critica um dirigente de um grande banco com forte atuação na área de crédito. Mais cauteloso, o presidente da Federação das Associações de Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira, afirma ser favorável às cooperativas de crédito desde que elas se atenham "ao seu ambiente". Ele é contrário à ampliação indiscriminada do universo de atuação. "No passado, elas cresceram demais e acabaram se tornando inviáveis", diz. Vantagens - Uma das grandes vantagens das cooperativas é ter margem de lucro e custo de operação mais baixos que permitem oferecer tarifas e taxa menores. Segundo o presidente da Unicred enquanto a taxa média de juros no cheque nos bancos é de 9% ao mês, as cooperativas cobram por essa modalidade de crédito uma taxa média de 6% ao mês. Além disso, o índice de inadimplência é mínimo. Para o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, essa visão dos bancos contrária à criação de cooperativas regionais é "míope". "Há espaço para todos. O maior país capitalista do mundo, os Estados Unidos, tem uma das maiores redes de cooperativas", afirma. Segundo ele, a filosofia de uma cooperativa é completamente diferente da de um banco comercial e isso precisa ser melhor entendido pelo governo e pela população. "Ela é uma ferramenta de desenvolvimento econômico. Quando a pessoa entra numa cooperativa, ela se tornar sócio, no banco, é um cliente", afirma. "Cooperativa não visa o lucro, mas resultado que é distribuído entre os cooperados. A instituição financeira fica com o lucro", completa.

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