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Intervenção de Bolsonaro na Petrobrás derrete ações de estatais e derruba Bolsa

Mercado financeiro não reagiu bem ao anúncio de troca na presidência da petroleira e papéis da empresa caíram mais de 21%; Ibovespa cedeu 4,9% e dólar teve alta de 1,3%, após bater em R$ 5,53 na máxima

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Por Redação
Atualização:

A intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobrás, com o anúncio, na sexta-feira, 19, de que iria trocar o presidente da estatal, trouxe forte impacto para o mercado financeiro nesta segunda-feira, 22. As ações da Petrobrás, claro, lideraram entre as perdas do Ibovespa, com queda de mais de 21%. Mas os efeitos não se restringiram à petroleira. Os papéis de outras estatais também tiveram queda forte: Banco do Brasil caiu 11,06%, e Eletrobrás, cerca de 0,69%, após recuar mais de 7% no começo do pregão.

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Em resposta, a Bolsa brasileira, B3, fechou em queda de 4,87%, aos 112.667,70 pontos nesta segunda, maior queda para um único dia desde 24 de abril e menor valor de fechamento desde 3 de dezembro. Na mínima do dia, o Ibovespa tocou os 111.650,26 pontos. menor nível intradia desde 2 de dezembro. Já os papéis ON e PN da Petrobrás tiveram quedas de 20,48% e 21,15% cada. "Sozinhas, as duas ações da Petrobrás derrubaram mais de dois mil pontos do índice hoje", aponta João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Perto do fim da sessão, a notícia de que um juiz federal de primeira instância em Minas Gerais determinou que o presidente Bolsonaro preste informações em 72 horas sobre a troca de comando na estatal levantou o temor de que a questão venha a ser judicializada, inclusive no exterior, observa um operador. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), anunciou que abriu um processo para investigar a troca no comando da estatal.

Interferênciade Bolsonaro nocomando da Petrobrás afugenta os investidores nesta segunda. Em resposta, ações afundam. Foto: Antonio Lacerda/EFE

A decisão do governo de trocar o comando da Petrobrás após os reajustes nos preços dos combustíveis tem viés negativo na análise de risco de crédito da estatal, segundo a Moody's, enquanto, para a S&P, a interferência pode afetar a lucratividade e o fluxo de caixa da empresa. Somente hoje, a perda em valor de mercado da companhia somou R$ 73,2 bilhões. No pregão anterior, depois das ameaças do presidente, foi registrada uma perda de R$ 28,2 bilhões.

Nesta segunda-feira, casas como XP, Bradesco BBI e Credit Suisse reduziram o preço-alvo e cortaram a recomendação para as ações da petrolífera - por sua vez, o JP Morgan rebaixou a recomendação para os bonds da empresa. "Evidentemente, temos uma situação negativa não apenas para os papéis da Petrobrás, como também para os ativos brasileiros em geral, levando o mercado a reprecificar o 'risco Bolsonaro'", diz Pedro Paulo Silveira, gestor da Nova Futura Investimentos.

Para o BTG Pactual, "o controle de preços dos combustíveis em meio ao aumento do petróleo é a razão óbvia para se preocupar, mas pode nem ser a principal". "Com o ano eleitoral se aproximando, nossa principal preocupação fica com o que o novo CEO e sua nova diretoria implicam para a alocação de capital e, mais importante, o fluxo de dividendos; e a venda de ativos não essenciais, principalmente a venda de refinarias e seus preços, com compradores agora podendo retirar propostas ou oferecer um tíquete muito menor", diz o relatório assinado pelos analistas Thiago Duarte, Pedro Soares e Daniel Guardiola. 

Colocando o cenário macro em revisão, a Ativa Investimentos prevê câmbio e juros mais elevados, deterioração fiscal possivelmente maior e PIB mais baixo. "O discurso dele (Bolsonaro) torna-se populista quando se vale de uma tentativa de colocar o povo como explorado. Ao afirmar que não vai interferir e adiciona um 'mas', ele está justificando a interferência, o que implica incoerência", observa em nota Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa.

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"Há um calafrio, pela lembrança recente do governo Dilma (Rousseff) e do que se viu então sobre o setor elétrico e a própria Petrobrás. O pesadelo passa de novo. E com os generais cada vez mais em evidência no governo, ainda faz lembrar a Venezuela, de Chávez, um líder militar a quem Bolsonaro chegou a elogiar no passado", diz uma fonte de mercado. O silêncio do ministro Paulo Guedes sobre a demissão sumária de Roberto Castello Branco, um liberal pós-graduado em Chicago indicado pelo próprio Guedes, também não passou despercebido. "O governo rasgou a fantasia."

Para membros do conselho de administração da Petrobrás, que têm reunião marcada para terça-feira, 23, a mudança no comando da empresa é vista como inevitável. Alguns conselheiros da estatal estudam votar pela recondução do presidente Roberto Castello Branco, mas o estatuto dá poder à União para fazer a troca.

Ações de ItaúBradesco também caíram 7,28% e 6,56% cada, de olho na baixa nos papéis do Banco do Brasil. Entre analistas, a percepção é a de que o presidente do BB, André Brandão, com quem Bolsonaro entrou em rota de colisão em janeiro, será o próximo da lista de demissões. 

Câmbio

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O câmbio também foi afetado pela pressão interna causada pela interferência na Petrobrás. O dólar fechou hoje em alta de 1,27%, cotado a R$ 5,4539, devolvendo os ganhos após a alta 'exagerada' do dia. Antes disso, o leilão de US$ 1 bilhão de dólares feito pelo Banco Central, quando a moeda bateu em R$ 5,53 na máxima do dia, alta de 3%, teve efeito moderado sob a moeda. A turbulência também faz crescer a aposta na alta dos juros: aumentaram as projeções de aumentos de 0,5 ponto porcentual da Selic, a taxa básica de juros brasileira, em março e maio.

No final do dia, o peso mexicano acabou superando o real como moeda com pior desempenho hoje ante o dólar, considerando uma cesta de 34 divisas mais líquidas. "Durante a tarde foi passando um pouco o exagero, teve um pouco de realização após a forte alta", afirma o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. O dólar futuro para março fechou em alta de de 1,57%, a R$ 5,4690.

Para Priscila Robledo, economista de América Latina em Nova York da Continuum Economics, consultoria de Nouriel Roubini, a tendência é de mais pressão no câmbio e nos juros pela frente por conta da interferência do governo na Petrobrás. Há ainda o risco de afetar a confiança dos investidores, podendo assim ter impacto negativo na atividade econômica. "A decisão de substituir Castello Branco é negativa na medida em que a intenção de interferir na Petrobrás fica clara. E a ameaça de que também haverá interferência no setor elétrico claramente não ajuda", comenta.

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Pela tarde, declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em defesa da retomada da agenda das reformas ajudaram a trazer certo alívio, desencadeando o movimento de realização de lucros. O dólar chegou a desacelerar a alta para R$ 5,43. O parlamentar confirmou que a votação da PEC Emergencial/Pacto Federativo com cláusula de calamidade está prevista para quinta-feira, 25, e o texto do Orçamento, com proposta de desvinculação total de receitas, para até 25 de março, ambos no Senado./ LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

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