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Empresas tentam se ajustar à menor demanda mundial

Expectativa é que as vendas brasileiras cheguem ao fundo do poço no primeiro trimestre do ano que vem

Foto do author Márcia De Chiara

Empresas e cooperativas ligadas à produção de matérias-primas agrícolas, minerais e metálicas já sentem o tranco do freio de arrumação que ocorre hoje na economia mundial. Ainda discretamente, o ajuste no ritmo de produção começa com paradas técnicas para se adequar ao tamanho menor do mercado internacional. A expectativa é de que o quadro de desaceleração seja revertido a partir do segundo semestre de 2009, depois de atingir o fundo poço no primeiro trimestre do ano que vem. A Votorantim Metais, por exemplo, que produz zinco, matéria-prima que teve o seu preço em dólar reduzido em 39% nos últimos três meses e meio, decidiu dar férias coletivas a 550 funcionários que trabalham na fábrica de Juiz de Fora (MG) no mês que vem, após a demissão de 55 trabalhadores. De acordo com a empresa, a redução na produção ocorre por causa da queda na demanda internacional por metais e a necessidade de adequar a companhia a uma nova realidade de custos. Apesar de ser um ilustre desconhecido do cidadão comum, vários setores usam essa matéria-prima, como as indústria química e automobilística e a construção civil, entre outras. A Suzano Papel e Celulose é outra que paralisou neste mês a produção da fábrica em Mucuri (BA) por oito dias para enxugar os estoques de celulose em razão da menor demanda dos clientes da China, da União Européia e dos Estados Unidos. O corte na produção significa 30 mil toneladas a menos de celulose destinada à exportação. O investimento de US$ 6 bilhões programado para ocorrer até 2011 está mantido por enquanto, informa a empresa. É que, desse total, os 15% destinados à formação de florestas já foram desembolsados. A parte do investimento voltado para a construção de novas fábricas deve receber o sinal verde no fim do ano que vem. De julho até a metade de novembro, os preços da celulose no mercado internacional caíram 15%. O alumínio é outra commodity que despencou nos últimos meses. Entre julho e a metade deste mês, os preços caíram 37%, em média. Hoje, a tonelada do produto está cotada em US$ 1.820 no mercado internacional. "Com preço abaixo de US$ 2.100 a tonelada, 40% das fábricas deixarão de operar", afirma o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Luis Carlos Loureiro. Ele atribui a queda de preço à redução da demanda e, com isso, os estoques aumentaram. O executivo acredita que o ajuste na produção deve levar uns seis meses. "Nos últimos anos, a demanda crescia na faixa de 7% a 8% ao ano e a produção também." Quanto aos investimentos, diz que, antes da crise eles estavam travados por causa da falta de oferta de energia elétrica. "Agora, com o mercado menor, não haverá necessidade de investimentos", pondera. A Braskem, a maior companhia petroquímica da América Latina, pretende reduzir os investimentos em 2009 na comparação com o total aplicado neste ano. Os planos iniciais consideravam a aplicação de R$ 1,35 bilhão neste ano na expansão da produção de resinas plásticas, mas, ante o cenário atual, haverá redução de R$ 100 milhões. Para 2009, a tendência é de uma cifra menor. Em outubro a empresa reduziu em 6% o ritmo de produção e, neste mês, está mantendo o nível menor. "Estamos vivendo o momento de aguardar definições", afirma o vice-presidente-executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes. Ele observa que hoje o s negócios estão paralisados no mercado internacional por falta de demanda e de crédito. Com isso, as siderúrgicas decidiram antecipar as paradas para fazer manutenção dos equipamentos e ganhar tempo até que o mercado volte ao normal. "Por enquanto, não há férias coletivas nem demissões." Na soja, que está em fase de plantio, a parada técnica está sendo feita pelos agricultores que ainda não venderam toda a produção da safra passada. Em Campo Mourão (PR), a Coamo Agroindustrial tem 25% da safra passada de soja estocada. "Os negócios estão meio travados. O produtor não quer vender a soja que restou da safra passada", conta o presidente da cooperativa, Aroldo Galassini. De toda forma , ele acha que, em relação a outros setores , a soja está em melhor posição. "Estaria mais preocupado se produzisse automóveis."

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