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Entenda por que os números do Caged e do IBGE apontam em direções contrárias

Apesar de o mercado de trabalho formal registrar o quarto mês seguido de mais contratações que demissões, o índice de desemprego no País não para de subir

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Por Redação
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Nos últimos meses, a cada divulgação de dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que consolida os númerosdo mercado de trabalho formal, têm-se a impressão de que tudo está melhorando. Já são cinco meses seguidos de saldo positivo – ou seja, mais contratações do que demissões. Mas aí vem o IBGE e divulga seus dados do mercado de trabalho, a Pnad Contínua, e o que vemos é um balde de água fria. O desemprego não para de subir. Por que essa discrepância vem ocorrendo?

A principal causa disso é que são pesquisas bastante diferentes, com metodologias distintas, apesar de ambas trazerem um retrato do mercado de trabalho. No caso do Caged, o número se refere apenas às admissões e demissões feitas pelas empresas formalizadas. São os registros nas carteiras de trabalho dos empregados, dados que as próprias empresas enviam ao Ministério da Economia.

Os dados do Caged, do Ministério da Economia, consideram apenas as admissões e demissões feitas pelas empresas formalizadas Foto: Carl de Souza/AFP

Já no caso da Pnad Contínua, é uma pesquisa “amostral”, com perguntas feitas às pessoas, e se refere tanto ao trabalho formal quanto ao informal. Acontece que, no Brasil, a informalidade é bem maior que a formalidade. Segundo os dados do próprio IBGE, em setembro havia no País 29,1 milhões de empregados com carteira assinada no setor privado. Mas esse mesmo setor privado tinha 8,8 milhões de trabalhadores sem carteira assinada, que se somavam aos 31 milhões de informais e aos 21,5 milhões de trabalhadores “por conta própria”. Ou seja, o universo dos “sem carteira” é mais do que o dobro dos “com carteira”.

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Além disso, alguns analistas acreditam que, por causa da pandemia da covid-19, os dados do mercado formal de trabalho podem estar distorcidos. A avaliação é que os programas de auxílio lançados pelo governo federal para conter os efeitos da pandemia, como a suspensão dos contratos de trabalho, estariam segurando as demissões, que aumentariam assim que essas “muletas” sejam retiradas.

Daniel Duque, especialista em mercado de trabalho do Ibre/FGV, já levantou também a hipótese de que muitas empresas, sobretudo as pequenas, responsáveis pela maior massa de empregos, simplesmente fecharam as portas durante a pandemia e nem reportaram os desligamentos, o que ajudaria a melhorar os dados do Caged.

Seja lá qual for o motivo, o verdadeiro retrato do mercado de trabalho brasileiro só deve ser conhecido no ano que vem, quando os auxílios fornecidos ao governo, tanto às pessoas quanto às empresas, forem retirados. Haverá, nesse caso, um número muito maior de pessoas nas ruas em busca de uma ocupação. Ninguém tem muita esperança de que será um retrato bonito.