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Ex-ministro argentino pede ampla abertura do Mercosul

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-ministro da Economia da Argentina, Ricardo López Murphy, defendeu que o Mercosul promova uma abertura comercial ampla para todos os países, sem contrapartidas. De acordo com ele, isso facilitaria a integração do Mercosul com o Chile e favoreceria a inserção dos países do Mercosul no mundo. Essa opinião é radicalmente contrária à do Brasil. Segundo o diretor-executivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Mário Marconini, a posição majoritária entre o empresariado e os parlamentares brasileiros é a de que o Brasil abriu muito o seu comércio nos anos 90 sem exigir contrapartida, e agora deve estar mais atendo para só abrir mais se houver reciprocidade por parte de outros países. Murphy e Marconini participaram do seminário "Economia e política exterior na América Latina", onde o choque de opiniões entre argentinos e brasileiros ficou visível também em outros momentos, como quando o diretor do Centro Argentino de Relações Internacionais (Cari), Felipe de la Balze, defendeu o fim do princípio de que ou se negocia tudo ou não há nada a negociar na busca de acordo entre o Mercosul e a União Européia. Para ele, esse princípio, que foi adotado em boa parte atendendo às autoridades brasileiras, "é típico da paixão latina, mas não produz bons resultados práticos". Para o economista, se o Mercosul conseguir uma vantagem parcial devemos assegurá-la e não desprezá-la em nome de um acordo totalmente vantajoso e que, na realidade, não sai. Ricardo López Murphy fez uma defesa enfática da necessidade de os países do Mercosul conseguirem equilíbrio fiscal, para não dependerem de capitais externos. "A principal política industrial que temos que implementar é acabar com os déficits públicos e criar confiança na economia", disse ele. O economista, que atualmente é presidente da Fundação de Pesquisa sobre a Economia Latino-Americana, de Buenos Aires, comparou uma sociedade que quer crescer sem acabar com o déficit público com uma pessoa que vai ao médico e diz que quer curar os pulmões sem parar de fumar. Ele afirmou que não há nada pior para o emprego e para o crescimento econômico que o aumento do déficit público. O economista lembrou que, na década de 90, a dívida pública só fez crescer na Argentina, o que também aconteceu no Brasil. De acordo com ele, a principal contribuição da Alemanha para a Itália, Portugal, Espanha e Grécia, entre outros países da União Européia, foi impor a disciplina fiscal nesses países. "Se tivéssemos seguido as metas fiscais da União Européia teríamos tido fortes superávits durante os anos 90, e se tivéssemos tido esses superávits teríamos reagido muito melhor às crises da Ásia, da Rússia e do Brasil", afirmou concluindo que ter superávit fiscal é a melhor política industrial. Lopéz Murphy citou o Chile como "uma fortaleza" diante das crises externas justamente por ter bons resultados fiscais. Ele disse, também, que não há em nossa mentalidade coletiva a idéia de que déficit público empobrece. Para ele, "essa tara coletiva" precisa ser superada. López Murphy defendeu que sejam retirados todos os impostos ao trabalho para gerar emprego e reduzir a informalidade aumentando, também, a quantidade de contribuintes. Ele disse, ainda, que o pior erro do Mercosul foi a falta de coordenação macroeconômica, e pediu para que sejam explicitados os déficits dos sistemas de previdência, incluindo os déficits futuros potenciais. "Há esqueletos todo o tempo e a dívida só cresce, cresce, cresce. Precisamos de um ambiente em que não haja esqueletos, em que não haja surpresas. Temos que criar confiança na economia", disse. Para ele, ter superávits fiscais é a "única forma de responder à demanda por emprego e à pobreza".

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