São cada vez maiores os indícios de que o aperto monetário nos Estados Unidos, conduzido pelo Federal Reserve (Fed), o principal banco central do mundo, será bem mais duro do que a maioria do mercado imaginava à medida que já não há mais quem refute que a inflação americana vai demorar a desacelerar.
Nesta semana, o presidente do Fed, Jerome Powell, voltou a falar grosso e disse que a alta de juros poderá ser a um ritmo mais forte do que 0,25 ponto porcentual por reunião, sinalizado na reunião de política monetária da instituição do último dia 16.
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Na ocasião, quando a taxa básica foi elevada em 0,25 ponto, o Fed já havia surpreendido o mercado ao indicar que iria fazer um total de sete altas de juros em 2022, enquanto as apostas mais agressivas apontavam para seis elevações, no máximo.
Se seguir à risca a projeção de um total de sete altas de juros em 2022, a taxa básica nos EUA encerraria o ano a 1,9%. Ao fim de 2023, o Fed prevê que os juros americanos vão subir para 2,8%.
O sócio e diretor de investimentos da gestora Kairós Capital, Fabiano Godoi, é um dos que acreditam que o Fed vai elevar os juros além do que indicou na sua última reunião de política monetária. E ajustes de 0,50 ponto ficaram mais prováveis. Para Godoi, os juros americanos vão subir até 3,25% em meados de 2023, a menos que o Fed reduza o seu balanço patrimonial mais agressivamente, o que resultaria também em maior aperto.
“Diferentemente do que acontece no Brasil, a inflação nos EUA não está sendo pressionada apenas por choques de ofertas sequenciais, diante de problemas nas cadeias de produção mundial, causados pela pandemia, por situações climáticas adversas e pela guerra na Ucrânia”, explica Godoi. “A inflação americana tem ficado mais elevada do que se previa – e por mais tempo – em razão também de um choque de demanda.”
Os pacotes de gastos aprovados pelo Congresso dos EUA para lidar com o impacto da pandemia de covid incluíram, além de transferência em dinheiro aos cidadãos americanos, benefício emergencial de desemprego. Não à toa, as vendas do varejo do país cresceram quase 17% em 2021, impulsionando o PIB, que registrou alta de 5,7%.
Em fevereiro, a inflação americana subiu a uma taxa anual de 7,9%, recorde em 40 anos. Vários analistas projetam que o pico atinja 9% nos próximos meses. A meta nos EUA é de 2%. Com a pressão da demanda agravando os choques de oferta, o Fed terá de elevar os juros para muito além do que indicou se quiser trazer a inflação de volta à meta. E isso vai reverberar no resto do mundo.
*COLUNISTA DO BROADCAST