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Fed acelera retirada de estímulos nos EUA e prevê três aumentos da taxa de juros em 2022

Federal Reserve, o banco central americano, decidiu elevar de US$ 15 bilhões para US$ 30 bilhões a redução mensal no programa de compras de títulos em reunião de política monetária nesta quarta-feira

Por Gabriel Caldeira, Francine De Lorenzo, Ilana Cardial, Camila Vech e Matheus Andrade

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou nesta quarta-feira, 15, que vai acelerar o ritmo de retirada dos estímulos à economia dos Estados Unidos em meio ao aumento da inflação no país, e agora espera aumentar as taxas de juros três vezes no ano que vem. 

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Em uma mudança abrupta de política monetária, o banco central americano anunciou que reduzirá suas compras mensais de títulos em US$ 30 bilhões ao mês, duas vezes mais rápido que o anunciado anteriormente no início de novembro. Assim, o programa de estímulo, adotado como resposta à pandemia no ano passado, pode se encerrar totalmente em março. 

Do total de US$ 30 bilhões que serão reduzidos, US$ 20 bilhões se referem aos títulos de do tesouro americano e US$ 10 bilhões, a títulos lastreados em hipotecas (títulos imobiliários).

Ao Congresso americano, Jerome Powell, presidente do Fed, reconheceu o aumento das pressões inflacionárias. Foto: Elizabeth Frantz/Reuters - 30/11/2021

As compras de títulos tinham o objetivo de manter baixas as taxas de juros de longo prazo para ajudar a economia, mas não são mais necessárias. Nos últimos meses, a taxa de desemprego vem caindo e a inflação nos EUA atingiu o maior nível em quase 40 anos. Segundo comunicado, os dirigentes do Fed avaliam que as reduções "provavelmente serão apropriadas a cada mês", mas dizem estar preparados para ajustar o ritmo se as perspectivas econômicas mudarem.

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que havia uma visão na autoridade monetária de que o avanço na inflação nos Estados Unidos seria temporário, mas que as pressões sobre os preços foram se mostrando mais persistentes. "Havia evidências de que seria transitória", disse ele, em coletiva de imprensa após a decisão de política monetária. Para ele, a decisão de é uma amostra de que o Fed pode "adaptar" as suas políticas se a perspectiva econômica exigir. 

Ele ainda afirmou que é apropriado reduzir gradualmente as compras de títulos do que encerrá-las abruptamente, sob risco de criar choques no mercado. 

O cronograma acelerado coloca o Fed no caminho para aumentar as taxas de juros no primeiro semestre do ano que vem. A nova previsão do Fed de que aumentará sua taxa básica de juros três vezes no ano que vem contrasta com as previsões anteriores. Em setembro, por exemplo, a autoridade monetária previa apenas um aumento na taxa de juros em 2022.  

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A taxa básica do Fed, agora próxima de zero, influencia muitos empréstimos ao consumidor e empresas, cujas taxas também tendem a subir. 

A maioria dos dirigentes do Fed espera que a taxa de juros em 2022 fique entre 0,75% e 1,0% em 2022. Para 2023, cinco dirigentes do Fed veem juros entre 1,25% e 1,5%, enquanto outros cinco esperam taxa entre 1,75% e 2,0%, segundo o comunicado. Outrostrês integrantes do comitê que esperam um juros maiores que 2,0%. 

A decisão foi tomada dentro da "luz da evolução da inflação e da melhoria adicional no mercado de trabalho" nos Estados Unidos, segundo o documento. Para o Fed, as compras de ativos em e as participações em "títulos continuarão a promover uma funcionamento do mercado e condições financeiras acomodatícias (que estimulem a economia), apoiando assim o fluxo de crédito para famílias e empresas."

Em entrevista coletiva, Powell afirmou que a entidade pode elevar a taxa básica de juros nos EUA antes mesmo da meta de pleno emprego ser alcançada. Segundo ele, uma participação forte da população na força de trabalho americana pode demorar mais que o normal para ser retomada. "Mesmo com a participação da força de trabalho abaixo da meta de pleno emprego, precisamos agir pois inflação está bem acima de 2% ao ano", ressaltou o dirigente. Caso a entidade queira subir os juros antes do previsto, o Fed teria que acelerar o fim do programa de estímulos mais uma vez, de acordo com Powell. Ele, porém, não espera que isso ocorra. 

Pressões inflacionárias

A mudança de política monetária ocorre duas semanas depois de o presidente do Fed, Jerome Powell, reconhecer o aumento das pressões inflacionárias em depoimento ao Congresso americano. Ele afirmou que o Fed precisava começar a restringir o crédito para consumidores e empresas mais rapidamente do que ele projetava apenas algumas semanas antes. 

O Fed passou grande parte de 2021 pisando em ovos, mas a inflação se mostrou persistente. Foto: Daniel Slim/AFP - 12/12/2021

Na decisão de hoje, o Fed elevou sua expectativa para a inflação dos EUA em 2021, de 4,2% em setembro para 5,3% neste mês. Para 2022, a previsão da inflação passou de 2,2% para 2,6%.

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Nos últimos meses, o Fed vinha caracterizando o pico da inflação como um problema "transitório" que desapareceria à medida que os gargalos de oferta causados ​​pela pandemia fossem resolvidos. 

Mas a alta nos preços persistiu por mais tempo do que o esperado e se espalhou para produtos como alimentos, energia e automóveis, aluguéis, refeições em restaurantes e acomodação. 

A inflação pesou muito sobre os consumidores, especialmente as famílias de baixa renda e, em particular, para as necessidades diárias, e anulou os aumentos salariais que muitos trabalhadores receberam. 

Em resposta, o Fed está deixando de focar na redução do desemprego, que caiu rapidamente para ​​4,2%, para focar no controle dos preços mais altos. Os preços ao consumidor subiram 6,8% em novembro em comparação com o ano anterior, segundo dados do governo divulgados na semana passada, o ritmo mais rápido em quase quatro décadas. 

Segundo o comunicado de hoje, o Fed reforça que "está empenhado em usar toda a sua gama de ferramentas para apoiar a economia dos EUA neste momento desafiador, promovendo assim o seu emprego máximo e metas de estabilidade de preços". 

Riscos

A nova mudança de política do Fed traz riscos. Aumentar os custos dos empréstimos muito rapidamente pode sufocar os gastos dos consumidores e das empresas. Isso, por sua vez, enfraqueceria a economia e tende a aumentar o desemprego. No entanto, se o Fed esperar muito para aumentar as taxas, a inflação pode ficar fora de controle. Pode então ter que agir de forma mais agressiva para restringir o crédito e potencialmente desencadear outra recessão.

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Consumidores em Nova York na semana passada. O forte avanço da inflação deixou o Fed surpreso. Foto: George Etheredge/The New York Times - 8/12/2021

Autoridades do Fed disseram esperar que a inflação esfrie no segundo semestre do ano que vem. Os preços do gás já atingiram seus picos. Os gargalos da cadeia de suprimentos em algumas áreas estão diminuindo gradualmente. E o auxílio emergencial do governo americano, que ajudou a impulsionar um aumento nos gastos, provavelmente não retornarão. 

Mesmo assim, muitos economistas esperam que os preços altos persistam. Essa probabilidade foi reforçada esta semana pelo indicador de inflação no atacado, que subiu 9,6% nos 12 meses encerrados em novembro, o ritmo mais rápido desde o início da série histórica, em 2010. 

Custos de habitação, incluindo aluguel de apartamentos e o custo da casa própria, que representam cerca de um terço do índice de preços ao consumidor, têm subido a um ritmo anual de 5% nos últimos meses, calcularam economistas do Goldman Sachs. 

Os preços dos restaurantes aumentaram 5,8% em novembro em relação ao ano anterior, uma alta de quase quatro décadas, refletindo em parte os custos salariais mais elevados. Esses aumentos provavelmente manterão a inflação bem acima da meta anual de 2% do Fed no próximo ano. /COM ASSOCIATED PRESS

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