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Economia e políticas públicas

Opinião|Aquecimento global e produtividade

Estudo de economistas do Fed (BC dos EUA) de São Francisco mostra que efeito da elevação da temperatura global pela ação do homem no crescimento da produtividade não é permanente.

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O aquecimento global pela ação humana, se não for mitigado de forma decisiva ao longo deste século, trará consequências negativas ambientais, sanitárias e na qualidade de vida em geral de grandes proporções, segundo inúmeros estudos publicados nas últimas décadas.

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Para além desses impactos, existe o efeito econômico do aumento da temperatura média do planeta. Nesse quesito, entretanto, estudo recém-publicado não chega a trazer uma "notícia boa", mas pelos menos traz uma notícia "não tão ruim".

Os economistas Gregory Casey, Stephie Fried e Ethan Goode, do Federal Reserve (BC dos EUA) de São Francisco, utilizaram um grande massa de dados de 155 países de 1960 a 2010 para chegar ao resultado de que um aumento de temperatura global tem um efeito negativo de  curto prazo, mas não de longo prazo, na produtividade e no PIB mundial.

Segundo as estimativas do seu modelo de crescimento, a elevação da temperatura deve ter um efeito de redução do PIB global per capita de 3,4% até 2100. Já se o impacto fosse permanente, a perda de PIB até o final deste século triplicaria, para aproximadamente 10%.

Um exemplo de canal de redução da produtividade por aumento da temperatura, citado pelos autores, é a diminuição do rendimento de determinadas lavouras, mas os efeitos são mais amplos, afetando particularmente o setor de construção.

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Os resultados do modelo indicam que a temperatura média que maximiza a produtividade é 13 graus centígrados, ou 55 graus na escala Fahrenheit. Dessa forma, em países frios, definidos como aqueles com temperatura média anual abaixo de 13ºC, a elevação da temperatura aumenta a produtividade, por aproximá-la do nível ótimo. O inverso ocorre com os países quentes, definidos como aqueles com temperatura média anual acima de 13ºC. Neste caso, elevação da temperatura afasta-os ainda mais do nível ótimo. A relação entre temperatura e produtividade no modelo é não linear, e varia de acordo com a média de temperatura anual de cada país.

Os economistas exemplificam com a Suécia, um país frio (sempre na definição acima), onde uma alta de 1ºC aumenta a produtividade em 0,71%. Já na Índia, um país quente, a alta de 1ºC na temperatura reduz a produtividade em 1,05%. Os Estados Unidos, com uma temperatura média anual de 13,5ºC, está muito próximo do nível ótimo de temperatura, de 13ºC. De acordo com os pesquisadores, o aumento de 1ºC da temperatura reduziria a produtividade norte-americana em 0,05%.

Os cálculos do impacto econômico até 2100 da temperatura global levam em conta um cenário comumente utilizado nesse tipo de pesquisa, que pressupõe que o mundo não age de forma muito substancial para deter o aquecimento global.

Voltando aos exemplos acima, até 2100 a Suécia terá um PIB per capita 4,4% superior ao cenário sem aumento de temperatura; os Estados Unidos, 2,3% inferior; e a Índia, 8,5% inferior. O Brasil, nesse caso, teria um PIB per capita 7,3% inferior. Em todos esses casos, supõe-se o impacto temporário, não permanente. Obviamente, o exercício pressupõe constantes todos os demais condicionantes do PIB per capita.

Quando se combinam todos os ganhos e perdas de PIB per capita dos diversos países nesse cenário de impacto temporário, chega-se à redução de 3,4% até 2100 em termos globais.

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Os autores notam que o cenário muda totalmente de figura quando a hipótese é de que o aumento de temperatura causa uma queda permanente do crescimento da produtividade. Nesse caso, a já mencionada perda de 10% no PIB per capita global é fruto da combinação de oscilações muito maiores do PIB per capita dos países: o da Suécia ganharia 85,2%, e o dos Estados Unidos e da Índia perderiam, respectivamente, 42,6% e 61%.

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Essa diferença de resultados entre os dois tipos de cenário, segundo os autores, mostra o quão decisivo é saber se a elevação da temperatura causa choques temporários ou permanentes no crescimento da produtividade. O estudo por eles realizado indica que os choques são temporários, a melhor hipótese.

Os pesquisadores fazem algumas ressalvas, como a de que o trabalho só leva em conta os efeitos diretos da temperatura no PIB per capita, mas não impactos indiretos como os causados pela alta do nível do mar, desastres naturais e perda de biodiversidade. O exercício também supõe, ao utilizar dados históricos, estabilidade futura no tempo da relação entre temperatura e produtividade. Ainda assim, ao detectar que os choques de temperatura não afetam o crescimento da produtividade de forma permanente, o estudo traz uma rara nota de alívio no cenário do aquecimento global.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fojdantas@gmail.com) 

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 28/6/2023, quarta-feira.

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Opinião por Fernando Dantas
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