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Economia e políticas públicas

Opinião|Cenários nos EUA e na China e impactos no Brasil

Pouso suave da economia americana e desaceleração sem ruptura na China ajudariam Lula e Haddad a tocar desequilíbrio fiscal do Brasil com a barriga. Mas há riscos nas duas principais economias do mundo.

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Foto do author Fernando Dantas

Com uma política econômica que mantém um olho no eleitorado e outro no mercado, evitando um ajuste fiscal definitivo mas também recusando o "gasto é vida" da esquerda do PT, Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, provavelmente estão bem conscientes de que seu sucesso depende em boa parte da evolução do quadro internacional no qual está inserida a economia brasileira.

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Estados Unidos e China, em particular, são as economias cujo comportamento em 2024 e até o final do presente mandato de Lula podem ajudar ou atrapalhar os planos de reeleição do atual presidente. Assim, é útil acompanhar e interpretar o que ocorre nos dois competidores pela hegemonia global.

Hoje, em particular, os mercados ficaram felizes com a divulgação da deflação de 0,1% do PPI (índice de preços ao consumidor) dos Estados Unidos em dezembro. A projeção média era de alta de 0,2%.

O economista Tony Volpon, ex-diretor do BC brasileiro, nota que a importância da surpresa favorável no PPIde dezembro é que o indicador é utilizado para as projeções do "core PCE", isto é, do núcleo do deflator do consumo das famílias no PIB americano. E o núcleo do PCE é justamente o indicador que o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) elege para perseguir o cumprimento da sua meta de inflação de 2%.

Volpon exemplifica com o fato de que o banco UBS, depois da surpresa do PPI, reduziu sua projeção do 'core PCE' de dezembro de 0,24% para 0,16%.

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O economista, entretanto, observa que o mercado vem oscilando para um lado e para outro com divulgações de índices que por vezes apontam em direção contrária. O CPI (índice de preços ao consumidor) de dezembro, por exemplo, veio em 0,3%, acima do 0,2% da projeção mediana do mercado.

De qualquer forma, o PPI de hoje ajudou a derrubar juros de mercado nos Estados Unidos e em outros países, como o Brasil.

"Quase toda a piora com o CPI parece ter sido corrigida com o PPI, mas a gente tem que aguardar a semana que vem para ver qual será de fato o 'core PCE' de dezembro", comenta Volpon.

Ele aponta que, paralelamente ao processo de desinflação, tem havido um afrouxamento das condições financeiras muito forte desde o final do ano passado, nas asas das expectativas crescentes de que haja de fato um pouso suave da economia americano. Esse sentimento, por sua vez, foi estimulado pela recente mudança, na direção de maior frouxidão, do discurso do chairman do Fed, Jerome Powell.

Mas Volpon vê alguns riscos para a concretização do cenário de pouso suave. Componentes do consumo mais sensíveis aos juros, como habitação e bens manufaturados, poderiam reagir mais fortemente do que o esperado ao ciclo de afrouxamento monetário que se antecipa (e antecipado na prática pelo relaxamento das condições financeiras). Ele nota que os preços dos bens caíram no CPI desde junho do ano passado, mas o movimento foi zerado em dezembro.

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Risco adicional é o preço do petróleo que, como se ensaia nas últimas sessões de negociação, pode subir em função das balbúrdias geopolíticas que vêm ocorrendo no mundo.

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No front da China, o especialista Livio Ribeiro, economista do IBRE-FGV e sócio da consultoria BRCG, considera que uma questão importante no momento é saber qual será a meta de crescimento do PIB chinês a ser estabelecida pelo governo para 2024.

Ribeiro vem chamando a atenção para o problema de ativação da demanda doméstica na China, mas não se coloca entre os alarmistas que preveem uma crise de grandes impactos disruptivos no país asiático. A notícia mais recente, segundo o economista, são dados qualitativos indicando um quadro levemente mais favorável no setor de serviços.

Ribeiro projeta que o governo chinês deve estabelecer a meta de crescimento de 2024 no intervalo de 4,5%-5%, "possivelmente mais perto de 4,5% do que de 5%". Ele considera que o governo chinês não deverá arriscar muito numa meta de crescimento ousada, diante das dificuldades bem reais de a economia chinesa ganhar tração. Assim, antevê que "vão se reconhecer os limites do possível em 2024".

Em termos de impacto no Brasil, ele considera seu cenário para a China em 2024 como neutro, observando que, de forma meio fora do usual, as exportações brasileiras para o mercado chinês cresceram no ano passado mesmo com o país receptor desacelerando.

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"Uma China que desacelera mas não sai do trilho é neutra para o Brasil, a coisa só fica mais complicada se a gente vai para movimentos extremos", diz.

Um alerta final do especialista sobre a China em 2024 é que uma eventual eleição de Trump no final do ano vai causar "ranger de dentes" no grande rival econômico e geopolítico dos Estados Unidos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/1/2024, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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