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Economia e políticas públicas

Opinião|No ano da pandemia, mais pobres no mundo, menos na América Latina

Base de dados do Banco Mundial mostra que, em 2020, extrema pobreza aumentou no mundo, puxada pelo Sul da Ásia. Com a ajuda dos programas fiscais de apoio a famílias e empresas, porém, como no Brasil, América Latina se saiu melhor.

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A pandemia fez com que, pela primeira vez em décadas, a pobreza mundial tenha aumentado no ano de 2020. Esse aumento foi puxado pelo Sul da Ásia. Já na América Latina e no Caribe, a pobreza continuou a cair em 2020, num resultado que foi puxado pelo Brasil. Esse último fato se deveu ao papel da política fiscal no Brasil e em alguns outros países da América Latina de mitigar os impactos econômicos da Covid-19.

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Essas informações constam de relatório do Banco Mundial de março de 2024, que atualiza os dados sobre pobreza e desigualdade no mundo. Os dados são da Plataforma de Pobreza e Desigualdade (PIP, na sigla em inglês) do Banco Mundial, derivados de mais de 2,3 mil pesquisas de mais de 160 países.

Segundo os dados do Banco Mundial, a extrema pobreza medida pela linha de pobreza de US$ 2,15 por dia (com poder de paridade de compra, PPP, com base em 2017, como outras linhas de pobreza citadas na coluna) subiu de 8,9% para 9,7% da população mundial de 2019 para 2020. O PPP mensura a renda descontando variações de custo de vida entre os países.

No caso dos países do Sul da Ásia, naquele mesmo período, houve um aumento de 2,4 pontos porcentuais (pp) na extrema pobreza medida por aquela linha, que subiu de 10,6% em 2019 para 13% em 2020.

Na América Latina e Caribe, pela mesma linha de extrema pobreza, o percentual caiu de 4,2% em 2019 para 3,8% em 2020.

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O PIP do Banco Mundial trabalho com outras linhas de pobreza: US$ 3,65 (PPP 2017), mais apropriada para países de renda média baixa; e US$ 6,85 (PPP 2017), mais apropriada para países de renda média alta.

Entre 2019 e 2020, a pobreza na América Latina caiu de 10,2% para 9,9% na linha de US$ 3,65, e subiu de 27,2% para 27,6% na linha de US$ 6,85.

Tomando-se o ano de 2022, o último coberto pelos números de pobreza e desigualdade do Banco Mundial, a extrema pobreza medida pela linha de US$ 2,15 caiu para 9% (equivalente a 712 milhões de pessoas), ainda ligeiramente acima do número de 2019 (8,9%), embora em trajetória declinante.

Em termos de regiões (segundo a desagregação do Banco Mundial), Leste da Ásia e Pacífico, América Latina e Caribe, Europa e Ásia central, outros países avançados e Sul da Ásia tiveram queda da extrema pobreza no período 2019-22.

O Banco Mundial não tem dados desagregados para além de 2019 das três regiões em que divide a África subsahariana. Porém, dado que a extrema pobreza mundial ficou quase estável e todas as outras regiões fora da África subsahariana melhoraram, fica evidente que esta piorou no período 2019-22. Mais da metade das pessoas em extrema pobreza no mundo habitam a África subsahariana.

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Outra indicação de que a recuperação pós-Covid foi mais rápida nas regiões menos pobres do mundo é o fato de que, tomando-se as linhas de pobreza de US$ 3,65 e de US$ 6,85, e ao contrário do que ocorre com a de US$ 2,15, a pobreza diminuiu no mundo entre 2019 e 2022. No caso da linha de US$ 3,65, de 23,4% para 22,7%. Já na linha de US$ 6,85, a redução foi de 46,4% para 45,5%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/03/2024, quarta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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