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Funcionários apontam ‘fogo amigo’ de Levy contra o BNDES

Críticas aos controles de corrupção, feitas pelo presidente do banco na sexta-feira, repercutiram mal entre a equipe

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - Grupos formados por funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas redes sociais vêm registrando insatisfação com o presidente da instituição, Joaquim Levy, por causa da reação à denúncia do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Bullish. Na noite de quinta-feira, 14, dia da apresentação da denúncia, o banco soltou uma nota de um parágrafo. Na sexta, Levy disse que apenas em 2016 o banco criou uma área responsável pela verificação do cumprimento de normas e leis (“compliance”, no jargão do mundo corporativo) e que, por isso, não se surpreendia com o fato de terem acontecido “coisas esquisitas”.

Reações de servidores ao comentário de Levy começaram já na sexta-feira. Foto: Paulo Whitaker/Reuters

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A Operação Bullish, a cargo de delegados da Polícia Federal (PF) e de procuradores da República do Distrito Federal, foi deflagrada em maio de 2017. À época, funcionários do BNDES criticaram a posição da diretoria diante das investigações, por não ter saído em defesa do corpo técnico – cerca de 40 funcionários do banco foram levados a depor por condução coercitiva. Dias depois de deflagrada a operação, a então presidente do banco, Maria Silvia Bastos Marques, que já vinha tendo atritos com os funcionários, pediu demissão, na primeira baixa da equipe econômica do governo Michel Temer.

A denúncia, apresentada quase dois anos depois de deflagrada a operação, acusa 11 pessoas de crimes, entre elas os ex-ministros Guido Mantega e Antônio Palocci e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho. Os demais denunciados são operadores financeiros e cinco técnicos do banco – três já estão aposentados. No documento, o MPF cobra um total de R$ 5,5 bilhões dos denunciados, sendo R$ 1,8 bilhão por causa do suposto prejuízo causado ao banco público e outros R$ 3,7 bilhões como reparação de danos.

No dia seguinte à apresentação da denúncia, Levy participou de um seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio. Questionado pelo moderador de uma mesa-redonda sobre as mudanças no papel do BNDES na política econômica, Levy fez críticas às gestões do banco nos governos do PT. 

“Até 2016, não tinha área de ‘compliance’. Engraçado. Que surpresa terem acontecido coisas esquisitas, né?! Não tinha área de ‘compliance’...”, afirmou Levy, sem fazer referência direta à Operação Bullish nem explicar o que seriam as “coisas esquisitas”. 

Naquele dia, o executivo deixou o evento sem responder perguntas de jornalistas.

As reações de servidores ao comentário começaram na própria sexta-feira. Em um grupo fechado formado por funcionários do banco no Facebook, alguns chamaram a posição de Levy de “fogo amigo”. Outros lembraram que o BNDES manteria atividades de controladoria interna desde 2001. Essas atividades teriam sido absorvidas pela Área de Gestão de Riscos (AGR).

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Na seção “Quem somos” do site do BNDES, uma “linha do tempo” situa em 2007 a criação da AGR. Em 2016, são situadas oito ações, como a criação de um “programa de integridade”, a revisão do Código de Ética interno e a criação de uma “política de compliance”. Conforme a linha do tempo, na ocasião foi criada uma “unidade dedicada a compliance” na AGR.

A nota divulgada pelo BNDES na noite de quinta-feira também foi alvo de críticas em pelo menos um grupo de mensagens formado por funcionários do banco. Uma versão maior do texto – acompanhada da observação de que teria sido vetada por Levy – circulou pelo grupo. Fontes que acompanharam o processo confirmaram que havia um rascunho inicial da nota oficial. Procurada, a assessoria de imprensa do BNDES não se pronunciou sobre o assunto. 

Na sexta-feira, 15, funcionários do banco de fomento se reuniram, de tarde, num ato de protesto contra a denúncia do MPF. Segundo a AFBNDES, associação que representa os funcionários e convocou o protesto, cerca de 600 pessoas participaram do ato, no pátio da sede do banco, no Centro do Rio.

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