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Ex-presidente do BC e sócio da Rio Bravo Investimentos

Opinião|Ano que começou com Lula ralhando com presidente do BC terminou em churrasco

Em Brasília, às vezes é preciso percorrer um caminho muito sinuoso para tudo ficar no mesmo lugar

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Foto do author Gustavo H.B. Franco
Atualização:

O ano começou com presidente da República ralhando publicamente com o presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto, “aquele cidadão”, era o primeiro com mandato entrando por dentro de um governo de presidente adversário daquele que o nomeou.

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É feio quando o presidente assume posturas tolas, parecendo apenas agradar o seu cercadinho. Pior ainda quando é sincero e ecoado pelos áulicos.

No passado, quando podia demitir o presidente do BC, o Palácio se queixava dos juros em “off”. Fazê-lo abertamente convidava a pergunta sobre por que não demitir. Quando perdeu esse poder, o presidente ganhou o privilégio de reclamar publicamente, ainda que sem consequência. Parece que Lula se sente melhor nessa nova situação.

Em seguida a tentativa foi de pazuelizar a instituição nomeando como diretores os seus “homens de confiança”, uma solução comum para outros colegiados.

Campos Neto cumprirá sua meta no dificílimo primeiro ano de presidente da República inimigo daquele que o nomeou Foto: André Borges/Efe

Lula já indicou quatro novos dirigentes do BC, dois servidores da casa, e dois economistas “de fora”, Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti. Todos submergiram, absorvidos pela instituição e suas práticas.

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No final de 2024, terminam os mandatos de Campos Neto e de dois outros diretores. Lula terá o “controle” da instituição ao escolher seus substitutos, sobretudo o presidente, somando sete nomeados seus de um colegiado de nove. Terá?

A escolha do novo presidente do BC não será simples, uma vez que vai ocorrer, provavelmente, no mesmo momento em que o Copom vai se decidir sobre a taxa neutra, ou sobre até que nível vai cair a Selic.

Com todos esses pratos no ar, por ora, felizmente, tudo permaneceu como estava.

Em Brasília, às vezes, é preciso percorrer um caminho muito sinuoso para tudo ficar no mesmo lugar.

A meta de inflação para 2023 era de 3,25% com 1,5% de margem de tolerância, portanto com um “teto” de 4,75%. As expectativas para o IPCA em 2023 aferidas pelo Focus (de 22/12, último do ano) estavam em 4,46%.

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Campos Neto cumprirá sua meta no dificílimo primeiro ano de presidente da República inimigo daquele que o nomeou. Um feito tão “histórico” quanto a passagem da reforma tributária. Impossível dizer o que é mais difícil: domar o IPCA ou engolir em seco diante de provocações públicas.

Pois Campos Neto terminou o ano de 2023 participando alegremente de churrasco na Granja do Torto em harmonia com o presidente e seu entorno. Houve um “ganho institucional”, talvez com implicações para a definição do perfil do próximo presidente do BC. Mas convém não exagerar na transcendência do gesto. Um churrasco pode ser mais que uma refeição, ou não.

Opinião por Gustavo H.B. Franco

Ex-presidente do Banco Central e sócio da Rio Bravo Investimentos

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