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Envelhecimento e transição energética vão pressionar inflação no mundo, diz especialista

Jean-Christophe Caffet, economista-chefe global da seguradora de crédito Coface, afirma que mudanças demográficas, reorganização das cadeias de produção e das fontes de energia vão pressionar preços no longo prazo

Foto do author Eduardo Laguna
Atualização:
Foto: Arquivo Pessoal
Entrevista comJean-Christophe Caffeteconomista-chefe da Coface, seguradora global de crédito

PARIS - Ainda que os bancos centrais das economias desenvolvidas estejam no caminho de recolocar a inflação na meta, o mundo vai ter que conviver no longo prazo com maiores pressões inflacionárias, avalia o economista-chefe global da seguradora de crédito Coface, Jean-Christophe Caffet.

As mudanças demográficas, a reorganização das cadeias de produção e a transição energética são tendências que, segundo o economista, vão pressionar estruturalmente os preços no longo prazo.

Apesar disso, levando em conta os efeitos do aperto monetário na atividade econômica, ele acredita que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) terá condições para começar a cortar os juros no verão do Hemisfério Norte - ou seja, possivelmente entre junho e julho. “Mas provavelmente não no tamanho que o mercado está esperando atualmente, de cinco a seis cortes neste ano”, pondera Caffet.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast no intervalo da conferência na qual a Coface reuniu, quinta-feira passada, especialistas da seguradora e de outras instituições para apontar riscos da economia global, Caffet manifestou ainda preocupação com a possibilidade de enfraquecimento do comércio se Donald Trump vencer o atual presidente, Joe Biden, nas eleições americanas em novembro. Leia trechos da entrevista a seguir:

Jean-Christophe Caffet, economista-chefe da Coface, seguradora global de crédito Foto: Divulgação/Coface

O sr. diz que o mundo está entrando num período de inflação estruturalmente mais alta. Isso significa que tanto o Federal Reserve quanto o Banco Central Europeu (BCE) não vão conseguir mais trazer a inflação para a meta de 2%?

No curto prazo, eles vão conseguir porque, em algum momento, o aperto monetário feito já há quase dois anos vai atingir a atividade. Já vemos sinais de alguma deterioração no mercado de trabalho, e a inflação está caindo. A dinâmica da renda deve trazer um alívio [aos preços] nos próximos trimestres.

Então, as metas podem ser alcançadas no ano que vem. Provavelmente, no fim deste ano os núcleos de inflação estarão perto da meta. Podemos até mesmo ter um cenário adverso no qual a inflação cai para abaixo da meta - se houver uma quebra no setor financeiro, com certeza. Porém, no longo prazo, entendo que estamos enfrentando maiores pressões inflacionárias em decorrência de dinâmicas estruturais.

Quais mudanças estruturais causam essa maior pressão inflacionária?

Basicamente, o envelhecimento da população, que leva a um encolhimento da força de trabalho nos países ocidentais, implicando uma dinâmica de renda cada vez mais alta.

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Há também a reconfiguração das cadeias de produção, com o fato de que teremos uma diversificação [da produção] para fora da China e de países de baixo custo. Se você passar a importar a mesma quantidade de insumos não mais de um fornecedor, mas de dois países, isso significa que você terá que pagar preços mais altos por unidade do que está importando.

Para completar, o preço da energia terá que subir para pagar os investimentos que estão sendo feitos na transição energética e na descarbonização, especialmente se esses investimentos forem financiados a juros mais altos. Tudo isso junto significa que vamos ter inflação mais alta por um prazo que vai além do ciclo atual.

Quando o Fed e o BCE estarão prontos para começar a cortar os juros?

Acho que no verão [do Hemisfério Norte]. Já vemos uma desaceleração nos EUA, ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha se mostrado muito resiliente. O PIB dos EUA no quarto trimestre [de 2023] cresceu 3,3% [na taxa anualizada], menos do que os quase 5% do trimestre anterior.

Então, devemos ter uma desaceleração da economia americana que, junto com a queda da inflação, deve permitir ao Fed cortar os juros. Mas provavelmente não no tamanho que o mercado está esperando atualmente, de cinco a seis cortes neste ano. O Federal Reserve tem deixado claro que serão apenas três cortes.

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