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Investimentos chineses no Brasil triplicam de 2020 para 2021

Aumento foi de 208%; valor atingiu US$ 5,9 bilhões, o maior desde 2017, quando somou US$ 8,8 bilhões

Por Célia Froufe
Atualização:

BRASÍLIA - Depois de um ano de paralisação econômica global por causa da pandemia, os investimentos chineses no Brasil mais que triplicaram no ano passado em relação a 2020, atingindo US$ 5,9 bilhões, um aumento de 208%. Trata-se do maior valor desde 2017, quando somou US$ 8,8 bilhões, de acordo com um estudo apresentado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), levando em conta os recursos de origem apenas da China continental.

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O diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, salientou que, como a base de comparação é fraca por causa dos impactos do surto em 2020, vale observar também o número de projetos confirmados. De um ano para o outro o salto foi de 250%, com um total de 28 empreendimentos – mesma quantidade de 2017. A taxa de efetivação dos negócios chegou a 97%, a maior da série histórica, iniciada em 2007.

“Os dados têm de ser vistos com muito cuidado e contextualizados. Só o valor em si não diz muita coisa, mas o salto de três dígitos em termos de valor e, principalmente, projetos chamam a atenção”, disse o autor do trabalho em entrevista ao Estadão/Broadcast. “O interesse da China de investir aqui nunca deixou de existir, e o que vemos agora é uma retomada para o patamar próximo ao níveis pré-pandêmicos. A curva está retomando à normalidade em 2021″, continuou. Para se ter uma ideia, o volume de recursos da China tendo o Brasil como destino em 2019 foi de US$ 5,6 bilhões.

O estudo salienta que o crescimento dos investimentos chineses no Brasil foi muito superior ao aumento de 23% no total de aportes estrangeiros no país em 2021 registrado pelo Banco Central. Enquanto a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) aponta para expansão de 79% do investimento estrangeiro no País, pelos cálculos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o crescimento foi de 89%. Os investimentos estrangeiros no Brasil seguiram a tendência desses aportes no mundo de forma geral, que tiveram um crescimento de 64% em 2021 (US$ 1,58 trilhão), segundo a Unctad, e de 88% (US$ 1,8 trilhão), de acordo com entidade com sede em Paris.

“Com essa gradual retomada da economia de forma geral, vimos que houve aumento de investimentos chineses no Brasil, acompanhando os investimentos de forma geral no País. O fato é que, além e ter crescimento de recursos no mundo geral, os que chegaram ao Brasil de vários lugares subiram e o chinês apresentou ainda uma taxa muito maior”, comparou Cariello.

Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, repetiu que o governo está comprometido em reduzir impostos, abrir a economia e gerar mais empregos. Admitiu, no entanto, que sua empreitada em reduzir o IPI é para tornar a indústria nacional mais competitiva. “Não queremos a chinesada entrando aqui quebrando nossas fábricas. Queremos uma coisa moderada. Baixei o IPI em 35%. Vamos acabar com o IPI. O IPI é um imposto de desindustrialização em massa. Está destruindo o Brasil há 40 anos. É ridículo, é patético, está errado. É um imposto pago antes de ter renda”, disse na ocasião.

Petróleo, TI e energia

A área de óleo e gás absorveu 85% dos investimentos de US$ 5,9 bilhões feitos pela China no Brasil no ano passado, de acordo com o estudo do CEBC. Com esses pouco mais de US$ 5 bilhões para a commodity, o setor quebrou pelo menos momentaneamente o domínio do segmento de energia elétrica como principal destino em um ano.

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Plataformas de exploração de petróleo; setor de óleo e gás absorveu 85% dos investimentos de US$ 5,9 bilhões feitos pela China no Brasil no ano passado.  Foto: Fabio Motta/Estadão

O incremento na área se deu basicamente pelos investimentos apontados como volumosos de duas estatais: a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e China National Oil and Gas Exploration and Development Company (CNODC). Recentemente, o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, destacou que apenas neste ano começou a existir a volta dos investimentos na área. Apesar da disparada dos preços do barril de petróleo, havia a preocupação de que um menor aporte no setor poderia significar mais inflação à frente.

De acordo com o diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, o setor de óleo e gás é o segundo em maior valor acumulado em projetos, desde que o levantamento começou a ser feito, em 2007, com 30,9% do total. Eletricidade lidera a lista, com uma fatia de 45,5%. A China vai continuar investindo petróleo, ainda que não esteja apostando mais tanto em combustíveis fósseis e preferindo energia mais limpa”, comentou, lembrando que o país asiático é o maior poluidor do mundo e que tem a meta de emissão zero de carbono até 2050.

Já o segmento de tecnologia da informação (TI) chamou a atenção do diretor porque 46% dos projetos efetivados no ano passado são da área. “TI ficou em segundo lugar no ano passado, com 36% dos projetos, um total de 10. De 2007 a 2020, tivemos 12 projetos no conjunto. Só em 2021, foram 10. Em um ano só, quase o mesmo valor de toda a série anterior. Isso é o grande destaque, pois mostra o interesse das empresas”, enfatizou.

Cariello disse que houve uma variedade de setores que receberam recursos, como serviços financeiros, indústria e automotivo, lembrando a compra da fábrica da Mercedes, por exemplo. “É óbvio que um projeto de construir um porto ou um linha de transmissão vai ser muito mais custoso, demandar mais capital, do que comprar participação de capital em TI ou abrir uma fábrica em Minas Gerais, mas os investidores chineses estão apostando em mercados certos. Já conhecem o mercado brasileiro, a burocracia...”, considerou. “A chance de um investimento chinês no Brasil hoje não dar certo é menor do que em 2010.”

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