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‘Tenho maior convergência com o atual governo’, diz banqueiro Ricardo Lacerda, que vota em Bolsonaro

Banqueiro diz que, embora a situação esteja longe de ser ‘uma maravilha’, viés de reformas do governo Bolsonaro pesou na decisão

Foto do author Fernanda Guimarães
Atualização:

O banqueiro Ricardo Lacerda, presidente do BR Partners, decidiu tornar público seu voto em Jair Bolsonaro (PL). Ele afirma que a gestão de Bolsonaro possui um viés de reformas, sendo essa uma das razões para ter “maior convergência com o do atual governo”, explica. Na visão de Lacerda, o PT “atrapalhou a vida” de quem trabalha e empreende durante seus governos.

Ricardo Lacerda é um dos fundadores do banco BR Partners. Foto: JF Diorio/Estadão

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Unindo-se a uma parte da Faria Lima, corredor financeiro paulista, que tem demonstrado preferência pela reeleição, Lacerda “quebra” um movimento em que os economistas e pesos-pesados do PIB anunciaram voto em Lula, pelos perigos iminentes à democracia – entre eles Armínio Fraga e Persio Arida. “Confesso que compartilho em parte dessa preocupação. O presidente tem muitas vezes um discurso amedrontador, que devemos todos combater. Mas creio que possamos fazer isso no ambiente democrático”.

Seu posicionamento ocorre logo após anunciar desfiliação do partido Novo, em apoio ao fundador da sigla João Amoedo, que declarou semana passada voto em Lula, e sofreu ataques do partido.

Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista:

O sr. já criticou o governo Bolsonaro e recentemente disse que Lula “era o pior dos últimos 40 anos”. E agora há um segundo turno entre os dois. O seu voto está decidido?

Eu não me identifico com nenhum dos dois candidatos. Mas colocando seus programas lado a lado, tenho maior convergência com o do atual governo, principalmente nos temas econômicos. É isso que vai nortear meu voto.

Por que o mercado questiona tão pouco o atual governo sobre seu programa em relação à economia?

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A despeito de um discurso muitas vezes agressivo, as políticas econômicas do atual governo são claras em favor das reformas e redução do tamanho do Estado. Mesmo com um ambiente de crescimento macroeconômico baixo, o atual governo deu enorme espaço ao empreendedorismo. O mercado reconhece isso.

Confesso que compartilho em parte dessa preocupação (com a democracia). O presidente tem muitas vezes um discurso amedrontador, que devemos todos combater. Mas creio que possamos fazer isso no ambiente democrático.”

Ricardo Lacerda, presidente do BR Partners

Quais pontos em relação ao programa de governo de Bolsonaro em relação à economia que o senhor acredita ser positivo?

A postura reformista é de longe o ponto mais positivo do atual governo. Nunca foram feitas tantas reformas para impulsionar a economia. E o PT insiste, erroneamente, em remar contra essa tendência tão clara da sociedade brasileira.

Quais reformas?

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Reforma da Previdência, Independência do Banco Central, marco do saneamento, marco do gás, marco das startups, capitalização da Eletrobrás e outras privatizações. Mas não se engane, meu voto é comparativo. Estamos longe de estarmos numa maravilha.

Na semana passada o senhor anunciou sua desfiliação do Novo. Como fica sua participação política depois disso?

Não sou político. Sou empresário, e o PT atrapalhou muito a vida do empresário que trabalha e empreende. Seja com corrupção, aparelhamento do Estado, excesso de burocracia ou sindicalismo. Vejo uma eventual volta do PT como um enorme retrocesso. Anulei meu voto em 2018, mas agora acho que tenho de me posicionar claramente pra evitar o pior e manter o bom momento da economia.

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O que sr. achou de João Amoedo (fundador do Novo) ter deixado público o voto em Lula no segundo turno?

Tenho enorme respeito pelo Amoedo e tantos outros que veem nossa democracia em risco. Mas eu acho que ela nunca esteve tão vibrante. Ambos os candidatos que disputam o segundo turno tiveram mais de 50 milhões de votos. Tivemos um primeiro turno transcorrendo sem qualquer incidente. Nunca empresários se manifestaram tanto publicamente numa eleição. Temos amplas alianças de ambos os lados. O PT e o PSDB não têm o monopólio da democracia. A sociedade está dividida, mas uma grande parte dela está enviesada. O establishment político, da imprensa e uma parte do empresariado quer eleger Lula a qualquer custo. Sinto-me compelido a tomar uma posição mais clara contra esse viés tão evidente.

Como o sr. analisa o mercado e situação do Brasil para 2023?

Temos enormes desafios. Se o governo atual for reeleito, teremos um viés positivo para reformas, mas teremos de administrar esse risco institucional. Numa eventual mudança de poder, teremos um viés contra reformas, mas talvez um maior equilíbrio de forças. Não há receita clara. Nossa democracia será testada qualquer que seja o resultado das urnas.

No cenário após eleições, o sr. acredita que haverá fluxo de entrada de capital estrangeiro ao Brasil. Por quê?

O Brasil está muito barato. Estamos saindo bem da pandemia, com a economia crescendo, a saúde das empresas em alta e concluindo o ciclo de aperto monetário. Acho que o mundo enxerga o Brasil como uma boa opção de investimento.

Muitos economistas e empresários têm apontado um perigo em relação à democracia com a reeleição de Bolsonaro. Qual sua visão?

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Confesso que compartilho em parte dessa preocupação. O presidente tem muitas vezes um discurso amedrontador, que devemos todos combater. Mas creio que possamos fazer isso no ambiente democrático. Sempre fui extremamente crítico ao governo e nunca sofri qualquer retaliação. Por outro lado, o Judiciário também assumiu uma postura autoritária, que foge completamente do razoável. Isso acabou equilibrando o jogo de forças. Olhando o copo meio cheio, talvez estejamos diante da melhor manifestação das nossas instituições democráticas.

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