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Cooperativa do Paraná conquista suíços

Citricultores de Paranavaí, com apoio de universidade da Suíça, exportam produção direto para uma das maiores redes varejistas do país alpino

Foto do author Anna Carolina Papp

Nas prateleiras do supermercado Migros, uma das maiores redes varejistas da Suíça, um suco de laranja brasileiríssimo. O fornecedor, no entanto, não é nenhum gigante da indústria nacional, mas sim uma cooperativa de pequenos e médios citricultores de Paranavaí (PR), a 500 quilômetros de Curitiba. Com o apoio de uma universidade suíça, a Coacipar está exportando sua produção diretamente para a empresa alpina, num movimento crescente chamado de “comércio justo”, que valoriza o pequeno produtor.

Nesta safra, a cooperativa – com 57 membros que juntos plantam 1.200 hectares – vai exportar para a Suíça um total de 2 mil toneladas de suco concentrado de laranja. Lá, o produto é processado pela Bischofszell Nahrungsmittel, fornecedora que faz parte do Grupo Migros, e é transformado em dois tipos de suco: o Gold, considerado premium, e o M-Classic, de qualidade padrão.

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“Em 2013, começamos a procurar um parceiro que pudesse entregar suco concentrado de laranja com 100% de rastreabilidade”, afirma Arnold Graf, gerente de produto da Bischofszell. “Estamos muito satisfeitos com a Coacipar, pois nos tornamos realmente parceiros, e não comprador e produtor.”

A ponte da cooperativa com o Grupo Migros, que detém 40% de participação do mercado na Suíça, foi feita por meio da Universidade Saint Gallen, instituição suíça que possui um escritório em São Paulo e organiza intercâmbios com estudantes. O objetivo é que os alunos, que fazem aulas de português antes de vir para o Brasil, não apenas desenvolvam pesquisa, mas criem projetos de gestão com efeitos práticos na comunidade local.

“A gente vem trabalhando com a Coacipar desde 2012, quando ela ainda era um pouco desorganizada e vendia a fruta para o mercado local”, diz Angélica Rotondaro, diretora executiva do escritório da universidade para a América Latina. Na época, a Coacipar, criada como uma associação em 1995, havia acabado de se formalizar como uma cooperativa.

Em turmas rotativas, os estudantes suíços, que podem permanecer até dois anos em cada projeto, prestaram consultoria para a Coacipar, de planejamento estratégico a prospecção de mercados. “Trabalhamos a perspectiva de criação de valor, o papel dos atores na cadeia produtiva e como eles poderiam se inserir no mercado internacional”, explica Angélica.

Os resultados foram expressivos. “Somos muito gratos à universidade, porque depois da parceria com o Grupo Migros, a renda dos cooperados aumentou 35%”, diz Vanusa Toledo, diretora da Coacipar. Ela afirma que a cooperativa pretende expandir as vendas para mais varejistas, tanto no mercado local como no exterior. “Também estamos firmando parcerias com outras cooperativas”, diz.

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Comércio justo. O projeto integra uma modalidade de comércio que vem sendo cada vez mais apreciada e incentivada na Europa: o “fair trade”, ou comércio justo, que tem como objetivo aproximar o consumidor do produtor, valorizando a agricultura familiar. As embalagens dos sucos Gold e M-Classic, por exemplo, exibem um selo indicando o “fair trade”.

“Começamos o projeto com a laranja e queremos ampliá-lo para todos os sucos de frutas”, afirma Graf, da processadora suíça. “É importante conhecer as pessoas por trás dos produtos, para entender o que elas precisam e como produzem”, observa. Além da vinda do time suíço para Paranavaí, representantes da Coacipar também foram ao país alpino conhecer a empresa.

A cooperativa recebeu uma certificação internacional para exportar via comércio justo, o que lhe garante preços mínimos acima dos praticados no mercado. Nesta safra, por exemplo, uma caixa padrão do suco concentrado de laranja no mercado convencional custa US$ 3,30. Com o selo fair trade, a cooperadora obtém US$ 5,20 pelo mesmo produto. As margens são vantajosas: a tonelada é vendida a R$ 2,3 mil, sendo que o gasto com processamento é de R$ 713 mil.

Investimento. Além dos preços mais atraentes, a cooperativa também recebe um prêmio adicional, valor que pode ser aplicado em melhorias e investimentos. “Do prêmio, 45% são usados para manutenção da cooperativa, 45% em projetos sociais da comunidade e 10% para os próprios produtores”, explica Vanusa. Foi economizando o prêmio também que a cooperativa decidiu em assembleia comprar uma parcela da indústria que processa suas laranjas. Com R$ 600 mil, a cooperativa adquiriu 7,5% da indústria.

“Essa aquisição mudou a cadeia e trouxe muito mais valor ao produto. Com isso, esse é hoje o principal grupo de produtores de laranja de comércio justo vendido na Europa”, diz Angélica, a diretora da universidade suíça no Brasil. “Já os alunos têm uma melhor compreensão do que é o Brasil – e muitos deles têm o desejo de continuar aqui depois do projeto”, conta.

Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Brasil tem hoje 6,5 mil cooperativas, que juntas exportaram US$ 5,3 bilhões em 2015.

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