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Para mercado financeiro, Selic cairá a 2,25% nesta quarta

Levantamento realizado pelo 'Estadão/Broadcast' aponta que ainda há dúvida sobre quando o ciclo de queda deverá terminar; decisão será anunciada nesta quarta pelo Copom

A queda da taxa Selic de 3,00% para 2,25% no Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês é praticamente consenso no mercado financeiro, com 52 de 54 estimativas coletadas pela pesquisa do Projeções Broadcast apostando em corte de 0,75 ponto porcentual para a decisão que será anunciada nesta quarta-feira, 17. O que ainda gera debate, porém, é o fim do ciclo de flexibilização monetária. 

Copom ainda considera um último ajuste no preço da Selic. Foto: Beto Nociti/Banco Central

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Segundo a maioria dos consultados (35 de 48) a queda esperada para junho deve ser a última desse orçamento, mas a melhora recente das condições financeiras - em um contexto de inflação aquém da meta e grave recessão devido à pandemia de coronavírus - tem fortalecido apostas na continuidade de cortes. O dólar, por exemplo, estava em torno de R$ 5,60 no último Copom e caiu para baixo de R$ 5 recentemente.

De qualquer forma, a maioria dos economistas consultados avalia que o Banco Central não deve ser incisivo sobre os próximos passos, considerando o alto nível de incerteza no cenário, mantendo discricionariedade para as decisões futuras.

Para o fim do ciclo, assim como para o fim de 2020, as projeções variam de 1,00% a 2,50%, com mediana de 2,25%. No caso de 2021, a expectativa majoritária é de gradual normalização da taxa básica de juros, como mostra a mediana de 3,00%, encontrada a partir do intervalo de 1,75% a 5,00%.

No encontro de maio, o Copom sinalizou que considerava um último ajuste de política monetária, não maior do que 0,75 ponto porcentual, "para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19". Na ata da reunião, o BC também introduziu a discussão sobre limite mínimo efetivo da taxa de juros, que, para a maioria do comitê, seria acima de zero no Brasil, por causa do prêmio de risco.

E o discurso seguiu o mesmo atualmente, conforme apresentação feita pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no dia 8 de junho. "Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual", repetiu, notando que há limites para o grau de ajuste adicional da Selic.

O diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, por sua vez, destacou em live no dia 9 que "é inequívoco que nas últimas três semanas o mercado melhorou muito, seja em câmbio, juros ou commodities, em vários lugares no mundo" e que a queda das estimativas de inflação tem grande peso na modelagem. Mas, por outro lado, disse que o risco de dominância fiscal no futuro influencia o aumento do juro neutro.

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Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o Banco Central deve confirmar, sem surpresas, um corte de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic em junho, queda sinalizada pelo Copom e reforçada pela conjuntura de deterioração da atividade.

O destaque da decisão do dia 17 vai ficar com a sinalização do balanço de riscos da autoridade monetária, que, para Sanchez, deve confirmar a interrupção do ciclo nesta reunião. O economista espera que a autoridade monetária sinalize que os riscos fiscais e a volatilidade do cenário recomendam cautela nos próximos movimentos.

"Apesar de os números de atividade mostrarem a necessidade de mais estímulo, o risco associado é muito elevado e a política monetária atua com defasagem sobre a economia. Com a volatilidade e a imprecisão da conjuntura, não tem por que precipitar um movimento mais arriscado. Neste momento, é necessário ser muito preciso", afirma.

Para Sanchez, a atividade deve descrever um movimento de recuperação gradual que deixe a autoridade monetária confortável em manter a taxa Selic em 2,25% até o fim de 2021, levando em conta, também, o risco fiscal embutido na curva de juros. Ele estima contração de 5,0% no PIB de 2020.

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O economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart, concorda com a avaliação de que a autoridade monetária contratou um corte de 0,75 ponto porcentual na Selic em junho, mas avalia que a apreciação dos ativos brasileiros na última semana mostrou ao Banco Central que a taxa ainda não se aproximou do nível contraproducente.

"Com os juros longos recuando, o câmbio apreciando, vimos que a deterioração que existia não vinha da política monetária, mas de um prêmio de risco político e um prêmio de risco externo. O BC vai enxergar que tem espaço para levar a Selic mais para baixo - a questão, agora, é se isso é necessário", afirma.

Para o economista, o ponto-chave a ser observado agora pelo Copom nas suas decisões deve ser o nível de estímulo requerido pela atividade. As previsões para o PIB de 2020 passaram por uma enxurrada de revisões negativas - de 2,3% no primeiro relatório Focus do ano para -6,48% no mais recente -, mas o resultado da produção industrial de abril sinalizou que a queda pode ser menos severa do que o esperado, avalia.

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"A produção industrial foi ruim, mas muito melhor do que as expectativas do mercado (-18,8% contra -31,7%), e isso causou uma mudança, porque antes a única direção para o PIB era para baixo e, agora, tem uma dúvida sobre se não pode ser um pouco menos pior. Essa avaliação é que deve guiar a política monetária", diz Goulart.

O economista estima outro corte, de 0,50 ponto porcentual, na taxa Selic, que encerraria o ano em 1,75%. A projeção está associada a uma queda de 7,5% do PIB no ano, mas Goulart afirma que passou a incorporar no seu cenário a possibilidade de uma baixa menos intensa, que elevaria a chance de manutenção da Selic em 2,25%.

Já o economista e sócio da 4E Consultoria, Juan Jensen, defende uma postura mais cautelosa do BC já em junho, conforme sua projeção de 2,5% para a taxa Selic, devido à proximidade com os juros de outros países, principalmente os EUA.

"Acreditamos ser delicado a Selic testar patamares mais baixos, sobretudo abaixo de 2,0% como começou a ser discutido no mercado. Uma redução maior poderia causar disfuncionalidade no mercado de câmbio, com saída de recursos, justamente no momento que o câmbio começa a se comportar mais de acordo com seus fundamentos. É um pouco a discussão do BC do limite inferior de queda para a taxa de juros, em que o nosso 'zero' não seria o zero nominal, seria algo mais condizente com o nosso patamar de prêmio de risco", explica, completando que a 4E estima inflação na meta em 2021.

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