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Paulo Guedes contradiz Bolsonaro e diz que governo não irá renegociar dívida

Um dia após o presidente eleito afirmar que dívida precisaria ser renegociada, futuro ministro diz que processo 'está fora de questão'

Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Anna Carolina Papp
Por Idiana Tomazelli , Eduardo Rodrigues e Anna Carolina Papp
Atualização:

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Futuro ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro, o economista Paulo Guedes afirmou nesta terça-feira, 6, que "está fora de questão" renegociar a dívida brasileira. Ele acrescentou que a estratégia da futura equipe econômica para a redução do endividamento será realizar as reformas e acelerar as privatizações.

O economista Paulo Guedes será o ministro da Economia no governo JairBolsonaro (PSL) Foto: Sergio Moraes/Reuters

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A fala de Paulo Guedes contradiz a do presidente eleito Jair Bolsonaro. Em entrevista à Band no dia anterior, Bolsonaro disse que a dívida interna do Brasil não é impagável, mas precisaria ser renegociada. Na ocasião, o presidente eleito afirmou ainda que seu ministro da Economia se encarregaria dessa missão.

"Está fora de questão renegociar dívida, está fora de questão. O que existe é preocupação com a dívida. Por isso, faremos reformas e faremos o que empresas fazem, vender ativos", disse Guedes. "Não é razoável o Brasil gastar US$ 100 bilhões por ano para pagar juros da dívida", afirmou.

A dívida pública federal fechou o mês de setembro, último dado disponível, em R$ 3,799 trilhões, segundo o Tesouro Nacional – sendo R$ 3,628 trilhões de dívida interna e R$ 151 bilhões de dívida externa (com pagamentos em moeda estrangeira). 

Para captar recursos no mercado nacional – dívida interna –, o governo emite títulos públicos, negociados na plataforma do Tesouro Direto. Na prática, a União toma dinheiro emprestado e paga juros por isso – que podem ser prefixados ou atrelados a algum indicador, como Selic ou inflação. A parte externa da dívida é paga em outras moedas, sobretudo o dólar. A captação ocorre por meio da emissão de títulos e por outros contratos.

Recursos

Paulo Guedes disse ainda que pretende acelerar as privatizações para liberar recursos e ajudar não só no ajuste fiscal, mas também no alívio a algumas áreas que hoje reclamam da falta de verbas. “Em vez de pagar juros da dívida, vamos dar dinheiro para saúde e educação.”

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O grande problema dos últimos 30 anos, segundo o economista, é o “descontrole” sobre os gastos públicos – questão que ele promete atacar em sua gestão.

Simão Silber, professor da FEA-USP, acredita que falar em renegociação da dívida pública é preocupante. “A primeira impressão que uma declaração como essa passa ao mercado é de uma postura unilateral: admitir que pode não pagar, que pode haver um default (calote)”, diz. “Outra forma seria tentar fazer algum tipo de acordo; mas, mesmo assim é um sinal horroroso, pois indica problema de solvência.”

Ele pontua que, além do ajuste fiscal, seja via reformas – como a da Previdência – ou mesmo com mudanças mais simples, como revisão de renúncias tributárias, é necessário voltar os olhos e os esforços para que o País volte a crescer. “Precisamos de uma estratégia que associe o equilíbrio das contas públicas com a melhora do crescimento, pois isso traria uma melhora da arrecadação naturalmente”, diz. “Com ajuste sem crescimento, o Brasil está falido”, afirma Silber, que destaca a importância da retomada dos investimentos e do aumento de exportações.

Guedes falou a jornalistas na chegada ao Ministério da Fazenda para um encontro com o atual titular da pasta, o ministro Eduardo Guardia. No próximo governo, a Fazenda será incorporada ao Planejamento e à pasta de Indústria, Comércio Exterior e Serviços para formar o Ministério da Economia.

Ele negou que a pasta comandada por ele seja um "superministério" e afirmou que as fusões que serão feitas entre ministérios evitarão sobreposição de políticas.

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