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Jornalista e âncora da CNN Brasil

Opinião|Qual Brasil você quer? Recados opostos de Lula e Haddad tornam difícil entender a resposta

Declarações do presidente sobre Vale e Eletrobras atrapalham o desempenho do próprio governo

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Atualização:

Divergências são naturais dentro de qualquer governo, mas, na área econômica, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva manda sinais cruzados o tempo todo.

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A fonte de instabilidade é o próprio presidente. Na semana passada, Lula disse em entrevista à Rede TV que “a Vale não pode pensar que é dona do Brasil”.

É uma frase que faz eco aos adjetivos que já utilizou para se referir à privatização da Eletrobras como “escárnio” e “sacanagem”.

Porém, mais preocupante que palavras e frases é o raciocínio embutido nelas. O presidente afirmou que “as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”.

Haddad muitas vezes evita que situação degringole na gestão econômica do governo Lula Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Na Petrobras, a mudança é clara. A atual gestão está desmontando a governança e voltando a construir refinarias e estaleiros dentro da filosofia do “Brasil grande”.

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Agora o governo parece seguro de que Eletrobras e Vale também são alavancas de crescimento, mesmo que as contas não fechem.

Utilizar uma estatal para a perpetuação no poder de um grupo político é ruim, mas tentar fazer isso com empresas privadas é descabido. Vale e Eletrobras já estiveram na órbita de influência dos governos. Não estão mais.

Esse tipo de ameaça provoca insegurança jurídica, afugentando investimentos. E é aí que se instala a esquizofrenia do governo.

Divulgado na sexta-feira, o PIB surpreendeu com alta de 2,9%. É resultado do bom desempenho das exportações do agronegócio, e também de uma gestão fiscalmente responsável dentro do possível.

São corretas as críticas de que o governo não tem um programa de corte de gastos e que boa parte do ajuste é feita via aumento da arrecadação. Contudo, diante das pressões, não é pouco que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha evitado que a situação degringolasse.

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O que decepcionou no ano passado foi exatamente o investimento, que ficou estagnado. Para este ano, as perspectivas são mais animadoras. O País deve crescer menos se a agricultura estiver menos pujante, mas os juros caíram, o que barateia a compra de máquinas e equipamentos.

Só que, para aumentar a capacidade produtiva, as empresas também precisam da tal segurança jurídica. E, nesse aspecto, as declarações de Lula sobre Vale e Eletrobras atrapalham o desempenho do próprio governo.

O tiro no pé é tão evidente que cabe uma pergunta à atual gestão. Qual é o Brasil que vocês querem? Do juro baixo e do crescimento sustentável ou da inflação alta? Os recados opostos emitidos pela Fazenda e pelo Planalto tornam difícil entender a resposta.

Opinião por Raquel Landim
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