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Insights de carreira com o headhunter mais influente do Brasil e um estudioso dos hábitos, comportamentos e habilidades que levaram os maiores líderes ao seu lugar de potência

Opinião|Solidão faz tão mal quanto fumar 15 cigarros; como empresas podem ajudar seus funcionários?

É imprescindível que líderes reconheçam a gravidade da pandemia de solidão e ajam para construir ambientes de trabalho que promovam conexão social

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Foto do author Ricardo Basaglia
Atualização:

Costumo dizer que um dos principais desafios da atualidade é reforçar nossas características intrinsecamente humanas. Afinal, numa era em que a tecnologia é o elemento chave nas mudanças das relações de trabalho, as habilidades e percepções que nos diferem das máquinas é o que nos manterá perenes e relevantes daqui para frente. Mas entre habilidades como empatia e criatividade, precisamos gerir outra questão essencialmente humana: a solidão.

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Na Antiguidade, em lugares como a Grécia, a solidão era vista como um momento valioso de autossuficiência e reflexão profunda, altamente valorizada por pensadores como Epicuro e Aristóteles. Já durante a Idade Média, a busca pela solidão era um caminho espiritual para monges eremitas que buscavam a solidão como forma de se aproximar de Deus e buscar a iluminação.

Contudo, à medida que as cidades cresciam e a era industrial se desdobrava, essa percepção começou a se alterar significativamente. A urbanização e a revolução industrial, embora promotores de progresso, também criavam um abismo entre as pessoas e suas redes de apoio comunitário, transformando a solidão de uma experiência valorizada para um sintoma de desconexão e isolamento.

Este contraste entre passado e presente destaca não apenas uma mudança na maneira como a solidão é experimentada, mas também reflete o impacto profundo que as mudanças sociais e tecnológicas têm sobre o tecido da conexão humana.

Líderes e empresas devem reconhecer a gravidade da pandemia de solidão e construir ambientes com conexão social. Foto: Girts - stock.adobe.com

Hoje, a solidão atinge patamares alarmantes. Justamente na era em que estamos conectados a mais pessoas do que nunca, temos 1.000 amigos nas redes sociais mas muitas vezes não temos um amigo próximo o suficiente para regar nossas plantas ou dar comida aos nossos pets quando viajamos. Esse paradoxo tem nos levado a enfrentar a solidão de maneira totalmente nova.

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Em novembro de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente a solidão como uma pandemia silenciosa que ameaça a saúde e o bem-estar em todas as partes do mundo. Para enfrentar esse desafio, a OMS estabeleceu a Comissão Internacional para Conexão Social, cuja missão é promover soluções globais para fomentar a conexão entre os indivíduos.

De acordo com um estudo publicado pelo U.S. Department of Health and Human Services em 2023, a solidão pode ser tão prejudicial à saúde quanto fumar 15 cigarros por dia, aumentando o risco de morte prematura em até 26%. E, segundo dados do The Cigna Group, especialista em seguros de saúde, mais da metade dos adultos, cerca de 58%, relatam sentir-se solitários.

Como líderes e gestores, é impossível ignorar a questão. Embora não seja responsabilidade exclusiva das empresas solucionar um problema dessa proporção, elas desempenham um papel fundamental na construção de ambientes que promovam o bem-estar e a conexão humana. Portanto, é imprescindível que os líderes e gestores reconheçam a gravidade da pandemia de solidão e ajam ativamente para construir ambientes de trabalho que promovam a conexão social e o bem-estar emocional.

A seguir, há cinco desafios que líderes e gestores precisam encarar diante deste problema e também propostas de estratégias que podem ajudar a lidar com eles, a fim de promover a conexão social e combater a solidão nas empresas.

  • Trabalhadores solitários são menos engajados e menos produtivos

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Solução: implementar programas de mentoria, grupos de suporte e atividades de team building para promover a interação entre os funcionários, fortalecer os laços sociais e criar um senso de comunidade no local de trabalho.

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  • Colaboradores que se sentem sozinhos têm duas vezes mais chances de faltar no trabalho devido à doença e cinco vezes mais chances de faltar devido ao estresse

Solução: oferecer suporte de saúde mental e programas de bem-estar que os ajudem a gerenciar o estresse e a promover um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. Além disso, fornecer opções flexíveis, como trabalho híbrido, pode ajudar no equilibro entre trabalho e saúde.

  • Trabalhadores solitários acreditam que a qualidade de seu trabalho é inferior ao que deveria ser

Solução: criar uma cultura que valorize o reconhecimento e o feedback, fornecendo oportunidades de desenvolvimento profissional e incentivando-os a se engajar.

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  • Trabalhadores solitários pensam em desistir do emprego mais do que o dobro em comparação com trabalhadores não solitários

Solução: estabelecer canais abertos de comunicação e programas de apoio que permitam aos colaboradores expressar suas preocupações e receber assistência para resolver problemas relacionados ao trabalho. Além disso, criar uma cultura organizacional que promova o apoio mútuo e a resiliência diante dos desafios.

  • Trabalhadores remotos têm mais chances de se sentirem sozinhos

Solução: implementar ferramentas de comunicação e colaboração remota eficazes, criar oportunidades para interações sociais informais ou grupos de interesse comum. Adotar o modelo híbrido, em vez do modelo totalmente remoto, caso seja possível, também pode ajudar nas conexões entre colegas.

Ao fundamentar culturas empresariais ancoradas no apoio mútuo, respeito e inclusão, estamos, na essência, pavimentando o caminho para enfrentar a solidão nos locais de trabalho. Essa jornada não apenas alivia a solidão, mas também tece uma rede de resiliência que nos protege coletivamente contra tempos difíceis. Ao reconhecer que liderar não implica solucionar todas as adversidades do mundo, mas sim em criar refúgios seguros e acolhedores em nossas empresas, damos passos significativos em direção ao bem-estar.

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Não se trata apenas de criar um ambiente de trabalho desejável; é sobre modelar um microcosmo onde o bem-estar e a conexão humana floresçam, refletindo e ampliando a qualidade de vida além dos limites organizacionais.

Esta missão, embora ambiciosa, ressoa com a sabedoria de Antoine de Saint-Exupéry: “Se queres construir um navio, não convoques homens para juntar madeira, dividir tarefas e dar ordens. Em vez disso, ensina-os a desejar a vastidão do mar.” Da mesma forma, ao inspirarmos nos nossos times o desejo por uma comunidade mais conectada e resiliente, instigamos ação e mudança.

Adotar essas estratégias significa elevar não somente a qualidade de vida dos nossos colaboradores, mas contribuir para o esculpir de uma sociedade mais robusta e unida. É um convite para cada líder refletir sobre o poder de transformação que reside na criação de espaços onde as pessoas não só queiram estar, mas onde se sintam parte de algo maior, conectadas por fios invisíveis de apoio mútuo e compreensão mútua.

Opinião por Ricardo Basaglia

Mestre em Administração (FGV/EAESP) com extensão em Behavioral Science of Management (Yale). Como CEO da Michael Page, lidera as operações do grupo no Brasil. Produz conteúdo de carreira e liderança nas redes sociais (@ricbasaglia) e no podcast Lugar de Potência. É o headhunter mais acompanhado do País, impactando milhares de pessoas diariamente.

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