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Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Discurso de Lula contra austeridade preocupa em 2024

Há boas notícias na economia, mas o PT continua propenso a repetir erros do passado

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O País deve terminar o ano com expansão de 3% no PIB, inflação sob controle e saldo na balança comercial caminhando para US$ 100 bilhões. Em condições normais, tudo isso deveria apontar para perspectivas promissoras em 2024.

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Há, contudo, uma área de sombra. Em que medida o presidente e seu partido serão capazes de mostrar a convicção requerida para manter nos trilhos a condução da política macroeconômica que se faz necessária?

A chamada área política do governo não tem escondido suas insatisfações. Há poucos dias, foram dados a público os clamores da principal corrente do PT – à qual pertencem a presidente do partido e o presidente Lula da Silva – contra a política de “austericídio fiscal” e a “ditadura do Banco Central (BC) independente”.

Dia 9, em Brasília, Gleisi Hoffmann denunciou a meta de resultado primário zero e defendeu um déficit de até 2% do PIB. Três dias depois, foi respaldada pelo próprio presidente Lula. “Se for necessário este país fazer endividamento para crescer, qual é o problema?”

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, tenta manter os gastos do governo sob controle Foto: Diogo Zacarias / Ministério da Fazenda

Como sempre, não faltará quem se apresse a retrucar que esse discurso não reflete o que Lula de fato pensa. Seria só para agradar à militância. Mesmo que tal racionalização tivesse fundamento – quando não tem –, seria lamentável que um partido da importância do PT, que se crê sério e moderno, ainda tivesse que cevar sua militância, a cada tanto, com um discurso econômico tão populista e primitivo, no qual o líder inconteste do partido supostamente não acredita.

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Com a expressão “austericídio fiscal”, o PT pretende denunciar a imposição de um alegado arrocho de gastos tão despropositado que, para o partido, significaria suicídio político. O problema é que tal denúncia não tem aderência aos fatos. Caso a gestão das contas públicas seja pautada pelo novo arcabouço, as simulações disponíveis apontam para um salto de espantosos 10 a 12 pontos porcentuais (talvez mais) na dívida bruta do governo como proporção do PIB, ao longo do atual mandato presidencial. “Austericídio fiscal”?!

É inacreditável também que boa parte do PT continue sonhando com um BC aparelhado com um grupo de paus-mandados, sob estrito comando do Planalto, prontos a atrelar a condução da política monetária às urgências eleitorais do governo.

O segredo da manutenção da popularidade de Lula é bem outro: reduzir a incerteza sobre a coerência da política macroeconômica, assegurar ambiente propício à expansão de investimentos e manter a economia em rota de crescimento sustentável. Simples assim.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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