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''Sem solução, iremos ao inferno'', diz Kahn

Reportagem do 'Estado' acompanha bastidores das tensas negociações da União Europeia e do FMI em busca de uma saída para a crise grega

Por Jamil Chade
Atualização:

Tenso, inquieto e caminhando sem direção, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, percorria ontem os corredores de um elegante hotel em Zurique com algumas preocupações em sua mente: salvar a Grécia, a Europa e o euro. "Se não houver uma solução, iremos todos para o inferno", disse em uma conversa telefônica. Enquanto a Europa e os mercados financeiros seguravam a respiração esperando uma solução para a crise grega, a cúpula do FMI quebrava a cabeça em busca de uma fórmula que pudesse atender às necessidades de financiamento da Grécia. Porém, essa solução não deveria assustar os mercados sobre a incapacidade da comunidade internacional em dar uma solução para a crise. O Estado foi um dos poucos jornais que acompanhou os bastidores dessa busca por uma solução, que também envolve a União Europeia (UE). Dentro de um dos hotéis de luxo de Zurique, alguns dos maiores economistas do mundo se reuniram para debater o cenário financeiro internacional em uma sala de conferência. O tom do debate demonstrava o desespero das autoridades. "Não adianta esperar algumas semanas. A situação não vai melhorar", dizia um dos principais conselheiros do FMI a Strauss-Kahn. O FMI, normalmente rígido em relação as suas declarações, rompeu ontem uma barreira psicológica e parecia nem se importar em debater a situação da Grécia, mesmo sabendo que a imprensa estava na mesma sala. A avaliação da cúpula do FMI é de que a Grécia não pode ser abandonada. Mas os economistas sabem que terão de apresentar um projeto "suave" para não causar mais polêmica em países como a Alemanha e Finlândia, em que os governos não querem mais gastar dinheiro público para salvar os maus alunos da Europa. "Temos de arrumar logo esse problema", dizia o conselheiro. "Essa maldita coisa pode explodir. Seria um fracasso da UE", alertava outro. Todos usaram dezenas de vezes a palavra "reescalonamento" para explicar como apresentariam a "restruturação" da dívida grega e, assim, não feririam as sensibilidades de contribuintes do resto da Europa, que não querem dar mais seu dinheiro para pacotes. Até mesmo o momento do acordo era debatido. "Tem de ser feito num fim de semana, logo na manhã de um domingo para que os alemães tenham tempo de convencer a oposição durante a tarde e para que o acordo esteja pronto para a segunda-feira", sugeriu um assessor à Strauss-Kahn. Leiloar. Em determinado momento, Strauss-Kahn pediu o celular de um dos seus assessores e fez uma ligação. Mas, uma vez mais, o assunto era a Grécia. Caminhando sem parar, o diretor do FMI foi enfático. "Precisamos de um plano de três anos, com ou sem eleições. Lamento muito dizer isso", afirmou. Os governos de Portugal e Irlanda já caíram, justamente, por causa dos pacotes de austeridade que tiveram de adotar. Na mesma tarde, Strauss-Kahn e a ministra de Finanças da França, Cristine Lagarde, se reuniram por mais de uma hora para debater o que fazer com a Grécia, deixando o evento para o qual foram convidados. Ao deixar o encontro, Lagarde foi enfática em relação ao compromisso da Europa com a Grécia. "Estamos socorrendo eles por um ano e vamos continuar."

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