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Setores econômicos terão recuperação desigual após crise do coronavírus

Estudo mostra que, enquanto segmentos como ensino a distância podem se beneficiar da crise, eventos e turismo devem sofrer no longo prazo

Foto do author Fernando Scheller

Em um cenário em que ainda não está claro quando será o melhor momento para a retomada do contato social – e de atividades paralisadas em meio ao combate ao novo coronavírus –, estudo da Bain & Company mostra que a recuperação entre diferentes setores estará longe de ser uniforme. Com a pandemia, as prioridades da população mudaram, colocando pesados desafios para as companhias de bens de consumo. Compras de “pânico”, como desinfetantes, máscaras, refeições prontas e medicamentos, ganharam espaço, enquanto laticínios, bebidas alcoólicas e produtos de luxo tiveram recuo.

Nas últimas semanas, a demanda por atividades como comida fora de casa, passagens aéreas, turismo e eventos praticamente se extinguiu. Em um cenário em que o medo deve predominar, a tendência é que segmentos que dependam de concentração de pessoas enfrentem desafios de longo prazo, enquanto atividades virtuais poderão preservar parte do “boom” que registraram na crise.

Fábio (E), Luciana e Miguel mudaram as prioridades de consumo na crise Foto: Felipe Rau/Estadão

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Os restaurantes hoje só operam com delivery e, no Brasil, as companhias aéreas reduziram o tráfego em cerca de 90%. No sentido contrário, ferramentas de trabalho e ensino a distância viram a demanda explodir. A ferramenta de videoconferência Zoom, por exemplo, viu sua média de usuários subir 340% desde o início do isolamento.

Para Luciana Batista, sócia da Bain & Company, esses dois grupos se posicionam em polos opostos. Enquanto as ferramentas online – grupo que também inclui cursos e streaming de vídeo e games – ganharam força e devem se fortalecer no médio e longo prazos, atividades que dependem da reunião de pessoas – grupo que também inclui restaurantes, eventos e turismo – vão demorar mais para ganhar fôlego. Quanto maior a necessidade de aglomerações, provavelmente mais difícil a recuperação. “Para essas atividades vai ser difícil voltar ao antigo normal.”

Estoques. A venda de gêneros alimentícios e de produtos de limpeza nos supermercados teve forte alta à medida que, amedrontadas, as pessoas viram necessidade de fazer estoques para a crise. Para esses itens de primeira necessidade, a tendência é que haja um retorno das vendas aos patamares anteriores após a crise, diz a especialista.

Já produtos de consumo não essenciais – como eletrodomésticos, produtos de beleza, roupas e calçados –, que sofreram neste primeiro momento, poderão ter um período de bonança. “Esses bens podem se beneficiar do ‘consumo de vingança’”, diz o estudo da Bain, referindo-se à necessidade de os clientes “compensarem” o consumo represado na crise.

Professora de uma escola particular de São Paulo, Luciana Vidal, de 44 anos, passou a comprar mais carnes congeladas e produtos de limpeza para higienização da casa. “Mas não corri para fazer grandes estoques. Passamos a ir a supermercados do bairro, comprando verduras e legumes para cozinhar em casa.” Ela e seu marido, o empresário de marketing de incentivo Fábio Goulart Ambrózio, de 40 anos, estão trabalhando em home office. Mas as prioridades da família mudaram. “Roupas e sapatos estão fora da minha lista.”

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A família sente a falta da rotina, mas entende que o isolamento social é a melhor estratégia para evitar a contaminação. “É óbvio que a gente tem vontade de sair, dar uma volta no shopping. A Páscoa está logo aí e não podemos ir a uma loja comprar chocolate.”

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