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Sob pressão das fintechs, bancos tradicionais remanejam estrutura para focar no cliente

Chegada das rivais e novas gerações acenderam um alerta: o que trouxe os bancos tradicionais até aqui não os garantirá no futuro, o que pode representar o início do fim da venda somente pela geração de resultados

Foto do author Aline Bronzati

Os grandes bancos estão repaginando suas estruturas para dar um maior foco na satisfação do cliente, o que pode - se a promessa for cumprida - representar o início do fim da era da venda somente pela geração de resultados. A mudança de postura vem em meio à pressão da concorrência com empresas que têm a tecnologia na veia, como fintechs e bigtechs. A chegada das rivais e as novas gerações colocaram os lucros crescentes e os gordos retornos em xeque, acendendo um alerta: o que trouxe os bancos tradicionais até aqui não os garantirá no futuro.

Na semana passada, o Itaú Unibanco anunciou, em evento fechado para funcionários, uma série de ajustes futuros que fará em sua rede de varejo, considerando a satisfação do cliente em várias frentes, apurou o Estadão/Broadcast. As mudanças estão em estudo há cerca de dois anos e começam a ser implementadas em 2021, de forma gradual. A defesa do Itaú é de que não se move um banco de mais de R$ 2 trilhões em ativos, o maior da América Latina, do dia para a noite.

Programa de remuneração dos gerentes das agências do Itaúdeve ser revisto. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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São várias ações que formam o que o banco chamou de "Visão Cliente", diz um executivo, na condição de anonimato. Algumas já estão em curso como, por exemplo, a reestruturação das agências físicas. Além de menos numerosas - o banco reduziu sua rede em mais de 500 pontos de 2019 para cá -, elas estão, aos poucos, ganhando uma outra cara. O novo desenho tem como foco melhorar a experiência do cliente nesses ambientes, seja ele acostumado com a estrutura "de tijolos" ou virtual.

"Os bancos começam a repensar seus modelos de negócio sob a ótica de ganhar eficiência. Os bancos de varejo tem uma rede bastante ampla. Isso precisa ser revisto para que o banco continue rentável e eficiente", diz o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings para América Latina, Claudio Gallina.

Dentre as mudanças previstas no Itaú, o programa de remuneração dos gerentes das agências deve ser revisto. O cálculo hoje é feito por pontos acumulados ao longo do mês conforme a venda de produtos financeiros - e as metas estabelecidas. A ideia do Itaú é, conforme duas fontes, incluir na conta também a satisfação dos clientes - hoje, elogio não rende nada para os gerentes. O programa também será rebatizado. O famoso 'Agir' dará lugar ao 'Gera'.

Outro avanço tem relação com um atendimento mais omnichannel, ou multicanal, unindo os mundos físico e digital. Antes, os clientes eram divididos entre um e outro. A saída aqui foi criar o cliente 'figital', garantindo-lhe um melhor atendimento, independente de onde esteja, seja na agência física ou no aplicativo, por exemplo.

Para o analista da Genial Investimentos, Eduardo Nishio, a mudança com um olhar mais atento ao cliente é urgente para os grandes bancos. "Do ponto de vista do cliente, precisam melhorar a experiência. Tem muita competição vindo. As novas gerações não estão aderentes aos bancos antigos", avalia.

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Nesse sentido, o novo presidente do Banco do Brasil, André Brandão, decidiu criar uma nova unidade voltada à satisfação do cliente. A instituição já tinha áreas com esse foco, mas o executivo, que assumiu o comando do BB em setembro, viu a necessidade de um reforço.

"Não é só falar da experiência do cliente com uma forma simples... Eu particularmente acredito nisso. Não é a única, mas uma das boas formas de competirmos com a indústria, e com a indústria nova, que tem chegado, as fintechs, é melhorar a experiência do cliente", enfatizou Brandão, a investidores e analistas, durante a divulgação de resultados do BB do terceiro trimestre.

Para ele, a melhora da experiência do cliente passa pela atitude dos funcionários do banco, que são quem interage com os clientes, e ainda o digital. Para tocar a nova unidade, Brandão nomeou uma mulher, a gerente executiva Emanuelle Oliveira, da diretoria de tecnologia, que se reportará diretamente a ele. Além de independente, ela relatará quais são as reais dores dos clientes dentro do conglomerado. Será uma espécie de "cão de guarda" do bom atendimento.

Boas práticas

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O foco do BB não é olhar apenas de dentro para fora. O banco também quer mapear boas práticas que estão sendo adotadas no mercado para fazer uma lição de casa quando o assunto é satisfação do cliente. Segundo Brandão, estão previstas ainda mudanças na área de produtos com essa mesma visão, e também com o objetivo de ganhar sinergias entre o banco de atacado e de varejo, que devem começar a aparecer a partir do ano que vem.

"A intenção aqui é muito simples, é essa proximidade com a diretoria, o vice-presidente, a gente poder dissecar qualquer problema que tenha que ser dissecado e trabalhar com ele de uma forma com muita celeridade", disse Brandão, na divulgação de resultados.

Além da unidade de satisfação do cliente, o novo presidente do BB também fez mudanças na ouvidoria externa, que passou a se reportar diretamente a ele. Aqui, o desafio é melhorar como se monitora a satisfação e a fidelidade dos clientes do banco, atacando diretamente na fonte. A área funcionaria como um porta-voz dos correntistas.

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O mesmo movimento já foi feito pelo atual presidente do Itaú, Candido Bracher. Criada em 2005, a ouvidoria do banco está sob sua alçada desde o início do ano passado. O movimento foi um marco gestão de Bracher. No comando do Itaú desde maio de 2017, o executivo considera mais importante manter os insatisfeitos por perto, ainda que seja um trabalho mais árduo, e sempre pregou o mantra de "centralidade no cliente".

Ele completa 62 anos nesta semana, idade limite para o presidir o banco. Será substituído pelo vice-presidente de finanças do Itaú, Milton Maluhy, em fevereiro de 2021. Procurados, Itaú e BB não comentaram.

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