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‘Prefiro falar com robô': jovens buscam conselhos profissionais no ChatGPT e evitam chefes

Em vez de falar com seus líderes, profissionais mais jovens, buscam orientação de carreira em inteligência artificial

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Por Amanda Fuzita
Atualização:

Jovens profissionais relatam que preferem procurar conselhos profissionais em ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT em vez de acionarem seus gestores.

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Um estudo da agência de pesquisa Workplace Intelligence e da consultoria INTOO, apontou que 47% dos profissionais da geração Z afirmam que têm recebido melhores conselhos de carreira do ChatGPT do que os seus gestores.

O levantamento ouviu 1.600 líderes de RH e outros profissionais nos EUA durante novembro e dezembro de 2023, e foi divulgado no começo deste mês.

A mesma pesquisa apontou que cerca de 1 em cada 5 funcionários afirma nunca ter conversas sobre carreira com seu gestor.

Entre os entrevistados, 62% afirmaram que gostariam de falar mais frequentemente com os seus gestores sobre a sua carreira, mas que eles estão ocupados para isso. O diagnóstico da pesquisa é de que os trabalhadores da Geração Z têm se sentido “desconectados” da sua chefia.

Melhor falar com um robô do que com uma pessoa

O Estadão ouviu jovens profissionais que consultam o ChatGPT em suas decisões profissionais. Veja a seguir:

“Por que vou mandar uma mensagem para um gestor ou qualquer pessoa perguntando algo, se eu consigo descobrir sozinho na internet? Sempre vai ser mais rápido recorrer ao ChatGPT, poupa muito tempo. A minha geração já cresceu muito ligada a internet, a gente vê a internet desde sempre como a única fonte que vai saber dizer tudo que a gente precisa. É uma relação de confiança que já foi sendo construída com o tempo e agora mais com o ChatGPT, que vai gerar uma resposta exclusivamente única para você” afirma Vinicius Marotti de 19 anos, estudante de marketing e analista de Insights Jr. no iFood.

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Vinicius Marotti, 19 anos, estudante de marketing e analista de Insights Jr. no iFood Foto: Acervo pessoal

Indo para um lado mais social da coisa, eu e muitos amigos evitamos falar com pessoas. Falar com o robô, por vezes, é mais cômodo do que falar com alguém. Principalmente quando tenho que mandar uma mensagem para perguntar algo para quem eu não conheço, eu prefiro mil vezes falar com o robô.

Vinicius Marotti

Laura Vilela, especialista de Marketing no Nubank, conta que utilizou o ChatGPT durante o recente processo de transição de carreira, e traz um contraponto sobre a substituição dos gestores.

“Eu fui da área de pesquisa para o marketing. E, durante essa transição, eu usei muito ChatGPT para adquirir alguns conhecimentos e entender um pouco mais do dia a dia desses profissionais, aspectos específicos do marketing e conhecimentos que precisava adquirir. E principalmente entender como eu poderia utilizar todas as habilidades que eu tinha nessa minha nova área de atuação”, explica.

Laura Vilela, 25 anos, especialista de marketing no Nubank Foto: Divulgação

Não acredito que substitua o conselho do gestor, mas uso bastante no meu dia a dia de trabalho. O chat me ajuda, principalmente a economizar tempo. Eu consigo fazer mais tarefas em menos tempo e com maior eficiência. Por exemplo, um documento que eu preciso produzir normalmente passaria por duas ou três sessões de feedback até chegar na escrita perfeita. Com o chat posso evitar tudo isso e já obter uma versão pronta final, então economiza tempo geral da equipe.

Laura Vilela

Falta tempo de qualidade com seu chefe

Segundo a mentora de carreira Paula Boarin, esse não é um fenômeno novo. Para ela, as gerações passadas também tinham dificuldade de encontrar tempo de qualidade com o seu gestor.

“Muitas pessoas de gerações passadas já reclamam da falta de tempo da gestão para fazer gestão de pessoas”, afirma.

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Na visão da mentora, não trata-se de um fenômeno novo, pois as gerações passadas também enfrentavam dificuldade de encontrar tempo de qualidade com o seu gestor. “Já buscávamos conhecimento em cursos, Google e YouTube, justamente pela indisponibilidade de tempo. A grande vantagem da IA é a disponibilidade full time, nenhum ser humano está à nossa disposição 24 horas por 7 dias como a inteligência artificial”, explica. “O ponto positivo é que ela está sempre disponível, mas em contrapartida oferece apenas soluções gerais, sem o conhecimento da cultura, que é percebido por quem vive, com sutilezas, vieses e regras ocultas”, completa.

Como usar o ChatGPT para orientação profissional?

Se você vai consultar uma IA para ter dicas profissionais, pelo menos vale a pena fazer perguntas mais certeiras.

O especialista em IA Edney Souza, conselheiro de Tecnologia e Inovação, indicou alguns exemplos de comandos para usar no ChatGPT buscando desenvolvimento profissional:

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Como conselheiro profissional especializado em orientação de carreira para jovens profissionais, forneça um plano detalhado de desenvolvimento profissional para um jovem que acaba de se formar em [campo de interesse] e está começando em uma nova empresa. Este plano deve ajudar a resolver o problema específico de [descrever o problema específico], e incluir as seguintes seções:

1. Adaptação ao Ambiente de Trabalho: [descrever o problema específico];

2. Desenvolvimento de Habilidades Profissionais;

3. Estratégias de Networking Interno;

4. Técnicas de Resolução de Conflitos;

5. Planejamento de Carreira a Curto e Médio Prazo;

6. Recursos de Suporte.

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“Lembrando que ele vai dar uma resposta resumida para cada um dos 6 tópicos acima. Para ter uma resposta mais completa, sugiro pedir um tópico de cada vez”, explica.

“É importante lembrar que a máquina alucina (inventa respostas incorretas), e esses conselhos devem ser usados com cautela, bom senso e pensamento crítico”, afirma o especialista.

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