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Projeto do Facebook vai acelerar carreira de profissionais negros

Com plataforma de mentoria para negros, o Projeto Goma será lançado na terça-feira, 24, em parceria do Conselho de Clientes do Facebook com a consultoria EmpregueAfro

Foto do author Leon Ferrari
Atualização:

Com o objetivo de combater a desigualdade racial no mercado de trabalho, o Conselho de Clientes do Facebook no Brasil e a consultoria EmpregueAfro criaram o Projeto Goma, um hub online e gratuito com conteúdos sobre como desenvolver programas de mentoria para acelerar a carreira de pessoas negras e promover diversidade e inclusão. A plataforma será lançada na próxima terça-feira, 24, após live.

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A transmissão ao vivo, às 17h, terá debate sobre a importância da mentoria para negros, com a presença de Sulamita Theodoro, da catalisadora antirracista Pulsos; Adriana Barbosa, do marketplace Feira Preta; Amanda Abreu, da consultoria de conexões Indique uma Preta; Helen Andrade, da Nestlé; e Willian Assis, da Publicis. Para participar, basta se inscrever gratuitamente no site (clique aqui)

Logo após a live, os conteúdos ficarão disponíveis para acesso de empresas e profissionais que queiram montar programas de mentoria, ou para trabalhadores negros que desejam ser mentorados. O projeto é dividido em cinco módulos: “Contexto para Empresas”, “Capacitação para Mentores”, “Capacitação para Mentorados” e “Consciência Racial e Modelo de Mentoria”.

Os segmentos da trilha de mentoria podem ser visitados da maneira como o usuário preferir. Cada bloco de conhecimento conta com materiais diversos para a consulta, como vídeos, e-books e podcasts - 70% deles foram produzidos por pessoas negras, segundo a CEO da EmpregueAfro, Patrícia Santos: “Pensamos em representatividade para trazer legitimidade ao conteúdo”, explica.

ParaPatrícia Santos, da Empregueafro, a mentoria do Projeto Goma vai ajudar a corrigir as dificuldades que impedem negros de ascenderem profissionalmente. Foto: Alex Silva/Estadão-2/6/2020

Representatividade, ou melhor, a falta dela no mercado de trabalho foi uma questão chave no processo de criação do Goma. Publicado em 2016, um estudo do Instituto Ethos mostrou que menos de 5% dos cargos executivos e dos conselhos de administração das 500 maiores empresas do Brasil eram ocupados por negros. As mulheres negras, especificamente, ocupavam apenas 0,4% dessas cadeiras. Todas as 100 maiores companhias listadas na Bolsa brasileira (B3) são presididas por brancos.

Com a pandemia, esses números podem ter ficado ainda menores, pois, em 2020, a desigualdade racial no mercado de trabalho bateu recorde, conforme revelado pelo Estadão.A diferença na taxa de desemprego entre pretos e pardos e o restante da população alcançou em junho 5,45 pontos porcentuais, maior patamar desde 2012.

Conselho de Clientes do Facebook

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Diante desse cenário, o Conselho de Clientes do Facebook, formado por membros profissionais de grandes anunciantes e agências do País, como Johnson & Johnson, Magazine Luiza, Natura, Nestlé e Netflix, buscaram a ajuda da EmpregueAfro para desenvolver o que viria a se tornar o Projeto Goma. 

"Precisamos atuar de maneira intencional contra a desigualdade social e a falta de oportunidades. Sabemos que ainda há muito a evoluir, mas estou certo de que o Goma é um passo importante em direção ao aumento da diversidade nas empresas", diz o diretor-geral do Facebook no Brasil, Conrado Leister.

Uma maneira de ajudar a combater a desigualdade racial, na visão deles, está na mentoria, que, como explica Patrícia Santos, não passa de um processo de aconselhamento para que o profissional aprimore competências pessoais, sociais e técnicas. “Quando falamos no crescimento profissional de pessoas negras, falamos das dificuldades geradas pelo racismo institucional. Então, a mentoria para trabalhadores negros faz esse recorte, considera sua cor e raça”, destaca. 

Desde a criação da EmpregueAfro, consultoria em recursos humanos focada em diversidade étnico-racial, no final de 2004, Patrícia avalia haver “pouquíssimas” empresas que façam mentorias focadas em profissionais negros. Esse pequeno número de companhias, na visão dela, aconselham os trabalhadores “sem muito embasamento”.

Vitor Miguel, da agência WMcCann, hoje usa seu cargo de liderança para ajudar a orientar e mentorar profissionais. Foto: Beatriz Lopes

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Hoje diretor de performance da agência WMcCann, Vitor Miguel, de 32 anos, diz que, enquanto profissional negro, viveu situações parecidas com a descrita por Patrícia: os supervisores queriam ajudar, mas faltava conhecimento. “Eles tinham uma qualidade, que eu vejo como fundamental, que é a empatia. Me deram esse apoio de direcionar esse caminho: ‘Estuda isso’, ‘Vai por esse caminho’. Não acredito que eles tenham tido um treinamento específico para guiar um profissional negro dentro do mercado de trabalho”, conta. 

Agora que se encontra em um cargo de liderança, Miguel busca orientar a todos os profissionais que consegue, por meio de aulas e workshops. O projeto Goma, para Patrícia, soluciona essa falta de informações e vai ajudar empresas a montarem seus próprios programas de mentoria. “Espero que possamos estimular a próxima geração de líderes negros. Em 20 anos, quero poder fechar a EmpregueAfro. Espero que a gente não precise existir daqui 20 anos.”

Ser negro no mercado

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A mentoria, explica Patrícia, vem para corrigir as dificuldades geradas pelo racismo estrutural que impedem negros de ascenderem profissionalmente. A CEO da EmpregueAfro afirma que tudo começa com a dificuldade de o trabalhador se enxergar na empresa, quando vê um espaço majoritariamente branco.

Depois, quando consegue a vaga, aparece o que Patrícia chama de “síndrome do impostor”. “Você conseguiu a vaga e sente que não é suficiente, que foi só sorte, você nem deveria estar ali. Aí, o trabalhador passa por situações de autossabotagem, de não conseguir concluir as tarefas, de se cobrar demais”, diz.

“O mundo não foi arquitetado para pessoas negras”, declara Daniele Jesus, de 39 anos. Fala isso ao lembrar que, em 2019, antes de entrar para a equipe da Unilever, membro do Conselho de Clientes do Facebook, ela não conseguia se imaginar dentro da companhia. Hoje, é coordenadora de desenvolvimento de marcas.

Daniele Jesus, da Unilever, é uma das líderes do Programa Prontidão, projeto de aceleração de carreiras de pessoas negras dentro da companhia. Foto: Autorretrato

Depois de contratada, vieram os questionamentos: “Será que eles estão vendo que é uma mulher preta periférica que está aqui?”. As questões vinham de experiências anteriores no mercado de trabalho. “Tinha passado por empresas que me silenciavam muito e eu não podia falar das questões raciais.”

Daniele percebeu que, na Unilever, as pessoas estavam dispostas a escutá-la e a aprender com ela. Em 2020, inclusive, foi chamada para ser uma das líderes do Programa Prontidão, projeto de aceleração de carreiras de pessoas negras dentro da companhia. 

“Quando olhamos para o programa, pensamos: o que a gente vai oferecer para as pessoas negras que estão dentro da companhia? O primeiro ponto foi falar sobre nós, contar a nossa história com vozes negras. Oferecemos letramento racial para pessoas negras, que é o que a gente chama de quilombismo. A intenção é despertar a potência das pessoas negras, ressignificando o nosso campo de partida.”

Ao tentar sanar os problemas de desigualdade racial no mercado de trabalho, as empresas também ganham. Em um primeiro momento, defende Patrícia, em market share, uma vez que, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), negros representam mais de metade (54%) da população brasileira. Essa parcela significativa de consumidores seria atraída, então, pelo fato da corporação estar cumprindo com sua função social. 

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O maior ganho, no entanto, para ela, está na gestão de pessoas: “Times diversos produzem produtos diversos, resultados diversos, que alcançam clientes diversos. Em 2021, não dá mais para a gente vender para as mesmas pessoas, para os mesmos lugares”, conclui a CEO da EmpregueAfro.

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