Existe uma grande quantidade de trabalhadores atuando sem contratos na economia mundial. Um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado neste ano mostra que 60,7% dos profissionais trabalham sem nenhum tipo de vínculo. Os dados apurados pela pesquisa também mostram que apenas 26,4% dos trabalhadores estão empregados com contratos permanentes e 13% têm seu contrato com base num vínculo temporário. “Quando o trabalhador não tem nenhum tipo de contrato, ele não pode defender os seu direitos. Ele está exposto a ser demitido a qualquer momento”, afirma Florence Bonnet, pesquisadora da OIT especializada em proteção social. De acordo com a pesquisa, na maioria dos casos, as pessoas sem contratos estão envolvidas em trabalhos por conta própria ou em atividades familiares. O levantamento da OIT foi realizado com base nos dados de 84% da população global empregada de 90 países. A quantidade de trabalhadores que atuam com contratos permanentes varia muito entre os países, mas, de forma geral, é maior ou menor de acordo com o nível do desenvolvimento do país. “Um contrato permanente ajuda no desenvolvimento de um país porque dá ao trabalhador acesso às políticas de proteção social e estabilidade, o que não ocorre quando há outras formas de contratação”, afirma Florence. “Uma parte da proteção social está associada às regras de trabalho.”
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Em países africanos, como no Togo, por exemplo, apenas 9,3% da população local empregada tem vínculos permanentes. Na América Latina, também há um vasto número de trabalhadores sem contratos, mas o porcentual dos latino-americanos com vínculos supera a média mundial. Segundo a OIT, na região, 30,7% dos trabalhadores têm contratos permanentes. No Peru, 17,8% estão nessa condição. Na Bolívia, são 23,8%. No recorte feito para a realidade do Brasil, a economia brasileira está acima da média: 47,7% trabalhadores têm contrato permanente. Os demais estão divididos da seguinte maneira: 23,9% têm um vínculo temporário e 28,4% não têm nenhum tipo de contrato. Na China e na Índia, a fatia de trabalhadores com contratos permanentes também é baixa e corresponde a 16,2% e 27,8% do total, respectivamente. O baixo nível de formalização nas duas economias mais populosas do mundo ajuda a explicar a baixa média mundial de trabalhadores sem vínculos. Nos países com elevado nível de desenvolvimento humano, a realidade é oposta. Na Austrália, 94,1% dos trabalhadores têm contratos permanentes. No Reino Unido, essa fatia é de 90,3% e no Canadá, 86,6%. Os números da OIT também mostram que os caminhos trilhados pelos países têm sido diferentes nos últimos anos. Em alguns mercados, como Áustria e Reino Unido, houve uma queda na fatia dos trabalhadores com contratos permanentes. Já na Austrália e na Coreia do Sul houve um crescimento dos vínculos permanentes. “É difícil prever como os países vão se comportar no futuro, vai depender de cada economia”, afirma a pesquisadora da OIT. “Na Europa, por exemplo, houve um crescimento dos trabalhadores em meio período por causa da crise.”Legislação. A fatia de trabalhadores com contratos permanentes também é influenciada diretamente pela legislação trabalhista. Nos Estados Unidos, por exemplo, 95,8% dos trabalhadores têm contrato permanente. Esse índice elevado pode ser explicado, em parte, pelo fato de a legislação trabalhista americana ser pouco rígida, o que acaba tornando um possível desligamento menos custoso para as empresas. “A legislação americana regula basicamente o salário mínimo, a jornada semanal, e o pagamento de horas extras”, afirma Fernando Peluso, professor do Insper Direito.
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DUAS PERGUNTAS PARA...Fernando Peluso, professor do Insper Direito
1.Qual o país mais liberal nas relações trabalhistas? Se a gente for analisar os chamados países de primeiro mundo, eu diria que os Estados Unidos são o mais liberal. A legislação trabalhista regula basicamente o salário mínimo, a jornada semanal, e o pagamento de horas extras. Não tem legislação sobre férias e licença maternidade. Não tem aviso prévio. Basicamente, poderíamos dizer que a legislação americana tem três artigos. Do ponto de vista do trabalhador, como fica? Não tem férias, não tem licença-maternidade? Tem, mas de acordo com uma negociação entre empregado e empregador. 2. E exemplos de países com proteção mais rígida? s exemplos mais clássico são França, Bélgica e Suécia. Na comparação com o que ocorre no Brasil, a legislação desses países seria mais protecionista. Basicamente, esses países têm a mesma proteção que existe no Brasil, com legislação de férias e licença-maternidade. Só que muitas dessas legislações são mais favoráveis ao trabalhador do que a brasileira. Na Suécia, por exemplo, a licença-maternidade é de quase um ano e meio. E essa licença tem de ser compartilhada – numa parte do período, a licença é da mulher e, na outra parte, do homem. Eu acho que o principal ponto em que essas legislações diferem está na rescisão do contrato. Enquanto no Brasil as empresas podem rescindir o contrato de qualquer trabalhador mediante um aviso prévio e uma multa de 40% sobre o FGTS, nesses países existe uma proteção de rescisão. O empregador precisa de um motivo técnico ou financeiro para encerrar o contrato de trabalho.