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Membros do Conselho da Vale que não queriam mudar presidente temem ‘cartas marcadas’ na troca

Preocupação é que processo de headhunting seja apenas formal; empresa diz que seleção do novo comando terá apoio de empresa de “padrão internacional”

Foto do author Cristiane Barbieri
Por Cristiane Barbieri (Broadcast)
Atualização:

Em reunião na sexta-feira, 8, o Conselho de Administração da Vale decidiu renovar o contrato de seu CEO, Eduardo Bartolomeo, até 31 de dezembro de 2024. O mandato se encerraria em maio. Houve uma divisão no Conselho: um grupo queria que ele ficasse no cargo até o fim do ano, com a possibilidade de estender o mandato até o fim de 2025. Outro grupo defendeu sua permanência sem restrições. Motivo: há desconfiança de que os indicados por uma empresa de headhunting, como determina o estatuto da mineradora, sejam escolhidos num jogo de “cartas marcadas”.

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Uma fonte próxima ao Conselho usou essa expressão e colocou em dúvida a legitimidade da escolha de um novo presidente. Segundo essa fonte, há muitos episódios em que o headhunter faz uma articulação dos nomes e dá um referendo técnico à escolha, que já está conduzida. A Vale diz que vai ter apoio de empresa de “padrão internacional” para selecionar o novo presidente (veja mais sobre a posição da empresa no fim deste texto).

O governo Lula - representado no Conselho da Vale pela Previ, o fundo de empregados do Banco do Brasil, dono de 8,7% do capital da Vale -, tem feito pressão para a troca no comando da mineradora. Mesmo após a indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ter naufragado, as reclamações de Lula continuaram acontecendo. No ano, a mineradora perde 9,26% de seu valor de mercado.

O atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, que fica no cargo até o fim deste ano. Foto: Marcello Bravo/Vale - 2/5/2019

O grupo que defendeu a saída de Bartolomeo no fim do ano quer passar a ideia de demonstração de união pelo bem da companhia. Para o próprio Bartolomeo, a decisão seria considerada um ganho pessoal, uma vez que ele já era visto como carta fora do baralho e terá mais tempo de mostrar o trabalho que está fazendo na Vale da porta para dentro. Segundo fontes, ele é bem visto internamente por “gastar sola de sapato nas operações e falar a mesma língua dos funcionários”. Em seu LinkedIn, há diversas fotos abraçado aos empregados e em campo.

De toda forma, para os investidores de longo prazo, qualquer mudança é um peso a mais, numa balança na qual a Vale já perdeu muito. Isso porque as carteiras são montadas considerando-se as perspectivas dos setores, bem como a solidez e a importância das empresas, mas na primeira página está a governança da companhia.

Segundo a fonte ouvida pela reportagem, o investidor é muito pragmático e quer retorno para seus investimentos, mas esse movimento mexe exatamente nessa linha. A instabilidade faz parte do jogo, mas o que assusta quem investe em Vale e em Petrobras são as interferências desnecessárias e cotidianas do governo, de acordo com a fonte.

Para a fonte, não adiantam visitas oficiais a países estrangeiros para estabelecer políticas de boa vizinhança e de atração de investimentos se não for demonstrado na prática que o cumprimento de regras é sério, e as instituições sabem respeitar linhas divisórias, que deem tranquilidade e previsibilidade.

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Apesar de Lula ter ventilado a versão de que a indicação de Mantega ao comando da Vale era uma questão de “gratidão” ao ministro, que ficou a seu lado em momentos difíceis, pessoas próximas à empresa entendem que também essa indicação seria um jeito de a Vale atender mais a pautas do governo.

Não haveria impeditivos a atender essas demandas, mesmo caso a atual gestão fosse mantida, segundo a fonte. Isso, evidentemente, desde que os pedidos fossem em linha com os melhores interesses da companhia.

O momento é de ter habilidade, conversar com todos os stakeholders, de forma adequada e convencer que é possível gerar mais valor à companhia, diz a fonte. Isso incluiria resolver com rapidez os pedidos das vítimas das tragédias em Mariana e Brumadinho e que deram força aos argumentos do governo.

Vale diz considerar o “perfil necessário” para o novo presidente

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O Estadão procurou a Vale para comentar o receio de conselheiros de que haja “cartas marcadas” na escolha do novo presidente. A empresa não respondeu diretamente a essa questão, mas enviou a nota oficial sobre a decisão de fazer a troca no fim do ano.

Em um trecho da nota, a Vale diz que o processo de seleção do novo comando terá apoio de empresa de “padrão internacional”: “A definição do novo presidente da Vale deverá considerar os atributos e perfil necessários para a posição frente à estratégia e os desafios futuros da Companhia. O Conselho de Administração contará com o apoio de empresa de padrão internacional e a companhia apresentará seu novo Presidente uma vez concluído o processo sucessório.”

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