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Ideb: o que fizeram os 3 Estados que tiveram os maiores avanços no ensino médio?

Pará, Piauí e Mato Grosso avançam mais do que a média; aulas de reforço, recuperação bimestral e ensino em tempo integral estão entre as estratégias

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Foto do author Paula Ferreira

BRASÍLIA - Considerados um dos principais gargalos da educação básica, o ensino médio tem sido a prova de fogo para redes estaduais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Nesta edição, três Estados se destacaram entre os que mais avançaram na etapa em comparação com 2019, antes da pandemia: Pará, Mato Grosso e Piauí. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 14, pelo Ministério da Educação (MEC).

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Composto por dados de aprendizagem em Matemática e Língua Portuguesa e taxas de aprovação, o Ideb é o principal indicador de qualidade da educação brasileira. Em comum, esses Estados apostaram em aulas extras de Português e Matemática, foco na recomposição da aprendizagem de conteúdos que não foram suficientemente absorvidos e melhor avaliação dos estudantes.

Além desses três Estados, 13 obtiveram crescimento no Ideb; seis ficaram estagnados. Por outro lado, cinco unidades da federação apresentaram queda ante 2019: São Paulo (-0,1), Rio Grande do Sul (-0,1), Rio de Janeiro (-0,2), Mato Grosso do Sul (-0,3) e Distrito Federal (-0,3) baixaram a nota. Considerando a média brasileira, a rede estadual avançou 0,2 ponto percentual, ficando com Ideb 4,1.

Especialistas dizem que os dados referentes a 2021 não devem ser usados para comparação, já que foram afetados por causa das altas taxas de aprovação durante a crise sanitária. Na época, grande parte das redes adotou o “continuum curricular”, com a fusão dos anos letivos de 2020 e 2021. As notas das provas de Matemática e Língua Portuguesa (Saeb) também foram influenciadas pelo baixo comparecimento dos alunos.

Especialistas destacam também que é importante considerar que o Ideb não leva em conta dados sobre evasão escolar, ou seja, não é capaz de dar conta de todos os aspectos envolvidos em uma educação de qualidade.

“O Ideb não considera evasão. Se o aluno está no 1º ano do Ensino Médio, é aprovado e não se matricula no ano seguinte. Isso não conta no Ideb”, diz Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede). “E sabe-se que há grandes desafios para combater a evasão no ensino médio em regiões vulneráveis”, complementa.

O governo do Mato Grosso afirmou que trabalha com 30 políticas e mais de 150 ações no âmbito de um plano que projeta as metas para a educação em dez anos Foto: Seduc/MT

Salto inédito no Pará

O Estado com maior evolução nas notas do Ideb no ensino médio foi o Pará. Em comparação com 2019, a rede estadual paraense cresceu 1,1 ponto percentual. Um avanço que fez o Pará saltar do penúltimo lugar em 2019 para o 6º lugar em 2023.

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Para obter o resultado, a rede estadual investiu em algumas estratégias:

  • ampliar o número de aulas de Português e Matemática de três por semana para cinco em cada disciplina.
  • Para isso, o Estado contratou cerca de 3 mil professores. As mudanças foram feitas entre janeiro e abril de 2023.

“Priorizou as habilidades que precisávamos cuidar dentro do nosso nível. Estruturamos e escrevemos um material para fazer essa recomposição de aprendizagem focada na melhoria para os próximos níveis”, afirmou o secretário Rossieli Soares ao Estadão.

(É importante) Ter ciência, por exemplo, de que se o aluno está no ensino médio com aprendizado de nível do 6º ou do 9º ano, precisamos dar alguns passos atrás para apoiá-lo para que possa subir de nível. É como uma escada”, continuou ele, ex-ministro da Educação e ex-secretário da Educação de São Paulo.

  • As escolas, ainda segundo o secretário, passaram a focar no Saeb e o Estado ampliou sua participação na prova, chegando a 89% das escolas com resultados divulgados. O Estado também investiu em uma estratégia para corrigir o fluxo dos estudantes.

Dessa forma, conseguiu impacto na taxa de aprovação, que compõe o índice. A taxa de rendimento do Estado passou de 0,82 em 2019 para 0,99 em 2023. A taxa varia de 0 a 1.

  • Outra estratégia foi fazer a recuperação bimestral; não deixar só para o fim do ano.

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“Inclusive, mesmo alunos que eventualmente não conseguiram alcançar o que precisavam para passagem de ano. Chamamos todos os alunos reprovados para fazer recomposição da aprendizagem e recuperação, e fazer novamente provas para passar de ano”, conta o secretário.

  • O Pará criou ainda a figura do “Técnico de Acompanhamento Pedagógico”, professores especialistas que prestam assistência à escola.

Rossieli frisa que além dessas questões pontuais, um conjunto de mudanças na infraestrutura da rede foram importantes como o aumento dos valores investidos em merenda e no transporte público. “O que isso tem a ver? É que os alunos estão faltando menos”, diz.

Mato Grosso cita ICMS ligado a resultados e Piauí, ensino integral

Mato Grosso subiu 0,8 ponto no Ideb de 2023 em comparação com 2019. Os dados divulgados nesta quarta registram nota 4,2 para o Estado, acima dos 3,4 obtidos no período anterior à pandemia.

O governo afirmou ao Estadão que trabalha com 30 políticas e mais de 150 ações no âmbito de um plano que projeta as metas para educação em dez anos. Segundo a secretaria estadual da Educação, entre as medidas adotadas estão o investimento em novos recursos pedagógicos e humanos, tecnologia e infraestrutura.

  • Mato Grosso cita ainda ações para impulsionar outras etapas de ensino, como o fundamental. A pasta diz que fortaleceu o regime de colaboração com municípios e iniciou o repasse de 10% do imposto ICMS para municípios condicionados a resultados educacionais.

No Piauí, o crescimento do Ideb do ensino médio de 2019 até o ano passado foi de 0,6 ponto percentual, passando de uma média 3,7 para 4,3. O resultado fez com que o Estado saísse da 14ª posição para a 7ª. Segundo o secretário, Washington Bandeira, o resultado reflete mudanças implementadas na rede.

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  • Além de ampliar o número de aulas de Português e Matemática, e focar na recuperação de aprendizagens, como fez o Pará, o Piauí aposta na educação em tempo integral. Cerca de 70% das escolas da rede de ensino médio funcionam na modalidade. A meta é que o tempo integral seja universalizado na rede até o ano que vem.
  • O Estado também ampliou o número de avaliações.

Bandeira explica ao longo de cada trimestre são aplicados simulados do Saeb e do Exame Nacional d Ensino Médio (Enem), além de pequenos testes para avaliar o que é ensinado com foco na recuperação de aprendizagem. Por fim, as escolas também aplicam uma avaliação feita pelos próprios professores.

A secretaria criou metas para a secretaria de educação, as regionais de educação e objetivos específicos para cada escola. A partir disso, é feito um monitoramento para auxiliar as redes a aplicarem um “circuito de gestão”.

“A gente busca padronização de qualidade, mas mantendo a autonomia escolar. A gente quer que as escolas utilizem nossas diretrizes como o mínimo que podem fazer e usem a criatividade para criar novas ações e projetos”, diz Bandeira.

Etapa complexa

O ensino médio é uma das etapa das mais desafiadoras. A meta geral do País para as redes estaduais era chegar a 4,9 pontos em 2021. O cenário nacional mostra, no entanto, que o Brasil ainda está distante desse patamar, com 4,1 pontos.

“Será importante mergulhar mais a fundo nos dados para entender essas diferenças e extrair lições para o avanço no futuro. Sabemos que alguns Estados que investiram nesse período de forma efetiva em estratégias de recomposição de aprendizagem, como cargas horárias estendidas, tutorias ou práticas de nivelamento de grupos de alunos, conseguiram melhores resultados”, afirma Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.

Em 2017, a gestão Michel Temer (MDB) aprovou a reforma do ensino médio, que flexibiliza o currículo e propõe itinerários de aprofundamento de estudos ou cursos técnicos a serem escolhidos pelos alunos. Mas a implementação do modelo foi alvo de críticas por falta de estrutura e de preparação dos professores, em grande parte das redes, para oferecer a carga horária optativa, o que amplia as desigualdades.

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Após críticas de entidades de parte dos especialistas, entidades de professores e de alas da esquerda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs uma nova versão para o ensino médio, que foi aprovada em julho após intensa discussão. No início do mês, o governo sancionou o projeto de lei que altera a reforma do ensino médio de 2017 .

O novo desenho mantém aspectos centrais da etapa, como a progressão até a educação em tempo integral e a divisão da etapa em Formação Geral Básica e itinerários formativos. O estudante poderá escolher aprofundar os estudos em educação técnica profissional, ou em uma das quatro áreas do conhecimento (Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da natureza e suas tecnologias; Ciências humanas e sociais aplicadas).