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Não transforme o filho em seu boletim

É papel dos pais cobrar dos filhos que eles se esforcem, que aprendam na escola, que se comportem de maneira respeitosa. Mas cobrar é bem diferente de pressionar

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colunista convidado
Foto do author Rosely Sayão

Dias atrás, assistindo a um episódio de uma série, vi um personagem que faz o papel de pai dizer que o comportamento do filho é o boletim dos pais. De fato, essa tem sido a compreensão de muita gente. Quem já não ouviu críticas aos pais de crianças ou mesmo de adolescentes que cometeram algum tipo de transgressão ou que apresentaram comportamentos inadequados?

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Eu sempre ouço, dos próprios pais, declarações como “O que fiz – ou tenho feito – de errado para ela/ele se comportar assim?”. E, de quebra, os pais desenvolvem uma imensa culpa por conta de atos dos filhos, perto ou longe deles.

É claro que os pais afetam, e muito, a vida dos filhos e, consequentemente, seus atos. Aliás, muitas vezes interferem na vida do filho sem mesmo querer ou perceber. O relacionamento entre pais e filhos não se dá apenas no que é observável na realidade: acontece também na imaginação deles, nem sempre consciente. Os filhos são afetados por muitos outros fatores também.

Bem, voltemos aos boletins dos pais. Faz pouco tempo – umas duas décadas, mais ou menos – que os pais se sentem avaliados pelas performances dos filhos. E isso acontece também e principalmente em relação a aproveitamento escolar.

Nessas décadas, decidimos pensar que o resultado das avaliações escolares é uma previsão do futuro adulto dos mais novos. Não seria muito interessante buscar alunos que terminaram as séries nos primeiros lugares de décadas atrás para verificar o que aconteceu com eles? Isso já foi tema de uma reportagem muito antiga e nos mostrou que nada de diferente aconteceu em relação aos colegas de turma.

'Filhos aprendem com a sociedade que podem ter determinados comportamentos que sua família nunca ensinou nem aprova', escreve Rosely Sayão Foto: ROSLAN RAHMAN/AFP - 05/08/2022

A grande questão dos pais que entendem o filho como seu boletim é que isso, além de gerar a tal da culpa, resulta também em pressão sobre os mais novos, incluindo os adolescentes. Pressão essa que pode se tonar bem prejudicial.

É papel dos pais cobrar dos filhos que eles se esforcem, que aprendam na escola, que se comportem de maneira respeitosa com os outros e nos ambientes que frequentam, entre outras coisas. Mas cobrar é bem diferente de pressionar.

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E é preciso lembrar que os grupos familiares não são impermeáveis, ou seja, os filhos aprendem com a sociedade que podem ter determinados comportamentos que sua família nunca ensinou nem aprova. Isso sem falar das escolhas pessoais dos filhos, de seus interesses, de suas características e de suas possibilidades. Não transforme seu filho em seu boletim porque ele não se comporta apenas como reflexo do que recebe dos pais!

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