Em meio a crise de saúde provocada pelo coronavírus, garantir às crianças o acesso a atividades e programações culturais é uma forma importante de sustentar os vínculos afetivos
Em meio a pandemia, passados quase 3 meses de isolamento social, além da crise de saúde que o Brasil vive, existe também um colapso na área da Cultura. Mais de 5 milhões de profissionais que trabalham no setor estão sem trabalho e sem perspectiva de retorno. Sem dúvida, vivemos uma falência do órgão Cultura - com letra maiúscula pra ficar claro que estamos falando de Governo. Em contrapartida, Instituições e profissionais autônomos têm rebolado nos 30, literalmente, para garantir acesso cultura a quem precisa. E as crianças são uma delas.
"A importância de garantir a programação cultural às crianças e às famílias é manter os vínculos afetivos", diz Rosana Abrunhosa, assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo. "O isolamento físico, a situação de incerteza quanto ao retorno às interações sociais externas, a insegurança sobre saúde e as exigências escolares dos filhos e filhas e de trabalho de adultos (seja a ausência dele ou o "home-office"), além das sobrecargas que a quarentena traz às famílias, como o cuidado com a casa, com as crianças, com os idosos próximos, tudo ampliado pelos cuidados extras de prevenção à COVID-19, tudo isso gera uma tensão em toda a família. Por isso, é importante uma contribuição externa para aliviar essas tensões e oferecer um olhar de fora para o que está acontecendo".
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Olhar de fora chamado cultura, que permite às crianças entender e elaborar muita das coisas que estão no mundo. Permite também se reconhecer como parte deste mundo. É o lugar de pertencimento, onde a diversidade e a pluralidade cultural são fontes inesgotáveis da arte e da imaginação. É dos lugares mais ricos e possíveis de se encontrar e reconhecer. Cultura é onde existe olhar social para a educação infantil (adolescentes, jovens e adultos também, claro).
Brincar é um exercício cultural importante na infância. Tão importante que está lá como Garantia de Direito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completa 30 anos. Semana passada, foi a Semana Mundial do Brincar e uma série de programações e eventos foram lançados na internet às crianças e famílias. O que fazer com as crianças durante o isolamento social tem sido uma pergunta frequente e entre algumas opções e lugares, o SESC tem se dedicado a uma programação exime.
"O brincar é uma forma de expressão genuína da criança e é por ele que a criança vai elaborar seus sentimentos, suas emoções para lidar com esse momento atípico. Os adultos precisam estar atentos a esses sinais e entender esse fluxo, seja por meio dos especialistas em uma roda de conversa, seja na percepção quando da interação entre criança e adulto durante uma atividade lúdica", fala Rosana, do SESC.
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Com uma ampla programação cultural na internet tem oferecido shows de música, teatro e debates, com a série Crianças que estreou sábado passado com a Palhaça Rubra (Lu Lopes) que apresentou o espetáculo "Rubra e as Criaturas". Com brincadeiras, musicalização, montagem de espaços para brincar, oficinas, contações de histórias, investigações sensoriais, rodas de conversa, em diversos formatos, como textos, vídeos e ações ao vivo, a Semana traz a proposta de exercitar o brincar dentro de casa e convoca o cuidado dos adultos para que elas brinquem nesses espaços domésticos com segurança e afeto.
A ideia é chamar a atenção para proteger e cultivar a imaginação e o devaneio da criança, reconhecendo que estes estão conectados e se alimentam do ser e o estar no universo da infância. E as apresentações dedicadas ao público infantil, de todas as idades, têm dia e horário certos: sempre aos sábados, às 12h, com transmissão pelo YouTube, do Sesc São Paulo e Instagram do Sesc ao Vivo.
As programações, elaboradas com o cuidado de educadores, dão suporte às famílias para lidar com o confinamento porque trazem, também, informações e dicas que podem aliviar essa tensão. "São momentos compartilhados de harmonia, de descompressão e, muitas vezes, trazem também trocas entre as pessoas e profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, que oferecem algumas respostas e alternativas para as suas questões", conta Rosana.
E pela singularidade do contexto, as telas são meio, mas não foco, para viabilizar o brincar no concreto e para que as propostas alcancem as crianças. "O uso das tecnologias, neste sentido, é indicado com a mediação de qualidade de um adulto que acompanhará a criança", afirma Rosana.
Está aí uma bela, e importante, oportunidade de garantir o acesso a cultura às crianças, em meio a pandemia. Ela reforça e fortalece os vínculos afetivos entre todos que estão num mesmo espaço de confinamento com crianças. E ainda garante, e reitera, a importância de todos profissionais e Instituições culturais. São mais de 5 milhões de profissionais que dependem do público e o público, somos nós.