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Elogio à pureza de linhas

Morada, no Jd. Paulista, sintetiza as idéias de arquitetura de Arthur Casas

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O projeto de Arthur Casas no Jardim Paulista para uma família de quatro pessoas tem um quê de grandioso. A fachada de recortes vem surpreendendo quem passa pela vizinhança: réguas grossas de cumaru prolongam-se no telhado apenas para provocar e jogar sombra no pátio interno. Assim, sem mais nem menos. Arquitetura artística. O piso de madeira de demolição cobre toda a área social. A iluminação fica por conta de rasgos finos no gesso do teto. Foto: Divulgação Para compreendê-la melhor, imagine uma casa cercada de verde por todos os lados, uma ilha de sossego no caos urbano. Essa arquitetura do morar "natural", que não relega o jardim a mero papel coadjuvante, é fórmula recorrente dos arquitetos paulistanos. Aqui não foi diferente: vindos do Pacaembu, os donos compraram o terreno e decidiram pôr abaixo a casa dos anos 70 que veio junto. "A habitação não dava conta dos sonhos da proprietária, arquiteta de formação e também artista plástica", explica Arthur. Eles compraram um lote anexo só para o paisagismo. "O jardim mudou a forma como eu estava conduzindo esse projeto", reconhece o arquiteto. Para fazer justiça ao jardim-vedete, Arthur resolveu "girar" a fachada original, para que a face principal estivesse à frente da piscina e do gramado. A casa observa o paisagismo de Gil Fialho através dos painéis de vidro que percorrem as laterais do living, do piso ao teto. O caixilho de madeira atua como moldura aos quadros de natural beleza, do lado de fora. Fialho trabalhou com liberdade no terreno de quase 500 m², ao recriar uma paisagem digna de Frans Post (pintor holandês que veio ao Brasil no século 17), misturando cores e texturas. E os painéis de vidro vão e vêm sobre os trilhos, o que favorece a circulação de ar. Arthur Casas gosta de dizer que sua arquitetura não é feita somente de integração. "Integrar ou não é uma escolha pessoal. As portas de correr estão lá para isso", define. Desde o início do projeto, em 2006, Arthur tinha em mente uma estrutura em dois blocos: a ala social concentrada no edifício maior e as três suítes, no menor. Concluída em 2008 e com 1.140 m² de área construída, a casa apresenta a retórica característica do arquiteto - muita madeira (cumaru da fachada, pela Legno Marcenaria, preço sob consulta), pureza de linhas e ausência de barreiras visuais entre o estar e a cozinha. Aqui, a cozinha aberta também se comunica com a sala de almoço, já no terraço coberto com teto de vidro. Truques do arquiteto O living, que é o coração da casa, impressiona. A parede que separa as salas de estar está recuada nos dois lados. Parece plantada ali sem função aparente, impedindo o passeio do olhar pelo espaço. A passagem está, sim, liberada nas laterais, com a adoção de uma circulação atípica, sem corredores. A lareira a gás instalada nessa parede pode ser aproveitada nos dois ambientes. Seu vão permite observar o que se passa do outro lado; além disso, com a "sobra" de parede perto do chão, surge um nicho para o aparador baixo. Eis aí alguns truques de Arthur. No piso, o arquiteto usou peroba-do-campo (madeira de demolição, pela Brasil Jacarandá, de R$ 330 a R$ 550 o m²), material que se estende por todo o térreo. O piso só muda na área externa, coberta de granito rústico (na Pedras Pagliotto, R$ 400 o m², chapas com 3 cm de espessura). Definir estratégias junto da proprietária arquiteta foi fácil? "Tem um lado bom, porque ela entende o vocabulário. Mas é também trabalhoso, porque cada um traz seu repertório. No fim, a personalidade dos donos é o que conta", admite. A decoração espartana (e elegante) ficou bem ao gosto de Arthur - móveis escandinavos e luminárias de design são outras de suas referências - e foi determinada pela dona, que também pediu um ateliê. Desejo atendido, assim como a criação do terceiro andar no bloco das suítes, onde há o que Arthur chama de family room, com home theater e sala de ginástica.

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