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Rigor sem perder a poesia

Arik Levy tem uma obsessão: definir a estética de uma marca, aliando o essencial ao desejado

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Arik Levy é um designer pragmático. Desenhar, para ele, é apenas a última fase de um trabalho que começa, invariavelmente, pela imersão no universo particular de cada um de seus clientes, para dele absorver o que considera o "código genético" de cada marca: o conjunto de suas potencialidades - mas também limitações - tomado por ele com um rigor quase científico. "Só então me sinto capaz de inserir um dado relevante à história de cada empresa", afirma. Tal enfoque analítico, quase obsessivo nas questões que envolvem cada etapa do projeto, pode até ter contribuído para uma certa aura de austeridade, de economia de meios, que tem caracterizado sua produção aos olhos do público. Nada, porém, que a torne menos virtuosa e desejada: em meio a formas reduzidas ao essencial, se escondem objetos carregados de intensidade poética. "Essa sublime matéria-prima, capaz de exibir a aparência de um líquido - e a dureza comparável à da pedra - e, na qual, a luz ainda pode se mover livremente, mudou a própria maneira com que passei a olhar para a areia da praia, na Grécia, onde costumo passar o verão", confidenciou um tímido Levy, durante o lançamento de sua coleção de cristais Intangible, desenhada para a Baccarat francesa. Graduado em design na Suíça, Arik Levy nasceu em Tel-Aviv, em 1963, mas vive na França há mais de duas décadas. Seu senso de observação - aliado a um conhecimento das potencialidades de cada material - tem sido apontado como responsável pelo prestígio internacional, conquistado, em pouco mais de dez anos, junto a empresas do primeiro time, como Vitra, Zanotta e Gaia & Gino, além da célebre manufatura de cristais. "Para mim, o corte e o design já estavam escritos no interior do cristal. Minha obsessão estava em descobri-los e trazê-los para fora", explica o designer, que buscou inspiração nas técnicas de corte e jateamento empregadas há séculos pelos mestres vidraceiros da maison para desenvolver uma linha assinada de objetos, incluindo vasos, copos, garrafas, candelabros e até mesmo o "embrião" de um lustre. Protagonistas do espaço "Parti do passado para construir uma ponte entre Baccarat e o mundo contemporâneo. Sem alterar o formato arquetípico das peças, defini uma série de inserções no cristal em cortes que sugerissem vitalidade e modernidade", detalha. Caso, por exemplo, do desenho de seu candelabro - estrutura móvel, formada por blocos de cristal, na qual a referência à arquitetura, uma de suas maiores influências, é explícita. Como acontece, aliás, na maioria de seus móveis produzidos pela Zanotta italiana. "Um puzzle tridimensional, capaz de se converter em objeto arquitetônico, que parte de uma estrutura simples, mas, tal qual um edifício, tem todas as condições de interferir na paisagem doméstica", ao se referir à estante Level. "Uma vez que os livros estão posicionados nos nichos, eles se transformam nos protagonistas do espaço." Ou ainda nas mesas Wire, onde Levy recorreu ao mundo cibernético para criar objetos interconectáveis, prontos para se multiplicar e preencher o espaço circundante. "São objetos de alto impacto. Capazes de sugerir a ilusão de que podem se expandir na medida do nosso desejo", explica o designer, lançando mão de mais um de seus trunfos: o aspecto lúdico ligado ao design. Uma vertente explorada, por exemplo, em Balance, misto de candelabro e vaso, em metal cromado, que integra sua mais recente coleção para a marca turca Gaia & Gino, apresentada, em setembro, na última edição da Maison & Objet, em Paris. "Nele, nada existe de definitivo. Nem a posição da vela, nem da flor, nem a estabilidade do conjunto. Tudo vai depender da vontade do consumidor: o protagonista do sistema design", conclui. (marcelo.lima.antena@estadao.com.br)

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