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Phil Jackson ganha seguidores no Clube dos Paraplégicos de São Paulo

Com sistema dos triângulos, tradicional equipe paulistana tenta elevar seu nível no basquete em cadeira de rodas

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Por Alessandro Lucchetti
Atualização:

SÃO PAULO - O New York Knicks, que agora tem como presidente de operações Phil Jackson, já começa a praticar o chamado "system basketball", segundo o técnico e ex-jogador Marcel de Souza, um dos mais ardorosos fãs do sistema dos triângulos. "Qualquer jogador, em qualquer nível, é sensível a uma orientação que realmente lhe ajude", escreveu Marcel num editorial de seu site, o Data Basket.Levando a sério essa premissa, Júlio Malfi, que foi auxiliar de Marcel em São Bernardo, está implantando o sistema no time de basquete sobre cadeiras de rodas do Clube dos Paraplégicos de São Paulo. Malfi acredita que é a primeira vez que o "triangle offence" é utilizado no basquete paralímpico. "Tudo está sendo filmado e documentado. Vamos enviar este material ao Phil Jackson e a Tex Winter", diz Malfi, referindo-se ao criador do sistema, que foi auxiliar de Jackson no Chicago Bulls e no Los Angeles Lakers.Fundado em 1958, com a participação de Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação brasileira nas Copas de 58 e 62 que entrou para a história como o "Marechal da Vitória", o Clube dos Paraplégicos de São Paulo é o local onde o basquete em cadeira de rodas foi introduzido no Brasil.O sistema dos triângulos exige que os jogadores pensem o tempo todo, e também lhes dá liberadade decisória. "O jogador tem que tomar muitas decisões ao longo da partida, e aqui eles não estão acostumados a isso. Eles gostam de receber ordens", afirma Malfi.Os treinadores do basquete em cadeiras de rodas normalmente são ex-atletas, ex-árbitros ou professores de educação física que ficam fora do mercado do basquete convencional. Contratar um técnico com experiência em equipes de alto nível foi uma jogada do experiente dirigente Braz Haro, que trabalhou na Federação Paulista de Basquete por 35 anos.

LENCINHOO nível de exigência nos treinos subiu bastante. Já não são mais tolerados passes-balão, que são mais lentos e facilmente interceptados. A insistência em antigos padrões de treino é acompanhada por severas broncas."Você quer que eu compre um lencinho pra você chorar?", grita Malfi, tentando despertar os brios de um dos jogadores no treino no Centro Educacional e Esportivo Mané Garrincha, na Vila Clementino.Nem todos os jogadores absorvem bem as broncas, mas Malfi também elogia seus comandados. "Eles têm um amor pelo basquete que poucas vezes vi na minha vida. Com eles eu me sinto um moleque aprendendo o jogo novamente", diz o treinador, que já comandou Israel na Hebraica, clube no qual ajudou a revelar nomes que agora fazem sucesso no NBB, como Fernando Fischer, Jefferson William e William Drudi.O Clube dos Paraplégicos caiu por ter interrompido sua atividade no basquete recentemente. Frequenta agora a Quarta Divisão nacional e a A-2 estadual. Mas há planos para contratação de reforços. Ofertas de salários de R$ 1,2 mil a R$ 1,4 mil devem ser suficientes para trazer três bons jogadores, na avaliação de Haro.Enquanto isso, os atuais jogadores procuram estudar o sistema de Winter, a fim de se adaptar às exigências de Malfi. "Vários atletas estão usando todo o tempo livre para ver vídeos e falar com pessoas que já jogaram nesse sistema. O pessoal está engajado para aprender", diz o jogador Diego Madeira, que tem no currículo a participação em dois jogos-treino da equipe de basquete em cadeira de rodas do Orlando Magic, durante uma viagem à Flórida.Motivado, Malfi pretende cavar um espaço para dirigir a seleção brasileira da modalidade nos Jogos Paralímpicos de 2016. "Quando fui convidado para este cargo, fiquei em dúvida, porque não tenho experiência nisto. Mas depois me senti completamente seduzido com a perspectiva de participar de uma Paralimpíada no meu país. Este pessoal tem uma força de vontade enorme, que me motiva também".

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