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Fórmula 1 e além: como Miami se tornou um polo esportivo com Messi, Butler e outras estrelas

Bilionários da Flórida investem no esporte e ampliam leque turístico e comercial da cidade, com futebol, tênis, automobilismo, basquete e futebol americano

Foto do author Marcos Antomil
Por Marcos Antomil

A Flórida, nos Estados Unidos, é um dos destinos mais procurados por viajantes brasileiros. De acordo com uma pesquisa da plataforma Kayak referente a 2023, Orlando e Miami estão no pódio das cidades mais pesquisadas, ao lado de Lisboa. Orlando é a sede dos parques da Disney, enquanto Miami, conhecida pelas praias e atrações aquáticas, se destaca pelo seu envolvimento com o mundo dos esportes, abrigando competições de diversas modalidades, como Fórmula 1, tênis e UFC, e se tornando a casa de estrelas, como Lionel Messi e Jimmy Butler.

Max Verstappen é tricampeão de Fórmula 1 e corre neste domingo o GP de Miami. Foto: Mark Thompson/AFP

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No futebol, os empresários de origem familiar cubana, Jorge e José Mas, em parceria com o ex-jogador David Beckham, fizeram do Inter Miami uma das potência do futebol nos Estados Unidos. Tudo graças às contratações de astros do esporte. O campeão mundial com a seleção argentina, Messi, foi seguido por ex-companheiros de Barcelona e hoje lidera uma constelação, formada por Luis Suárez, Sergio Busquets e Jordi Alba. Em breve, Ángel Di María pode ser o próximo a se juntar ao grupo. O próximo passo é a construção do novo estádio para a equipe.

A fortuna de Jorge Mas, segundo a revista Forbes, é estimada em US$ 1,8 bilhão, aproximadamente R$ 9,1 bilhões. Seu pai, Jorge Mas Canosa, se exilou nos Estados Unidos após se contrapor ao regime do comandante Fidel Castro em Cuba. Morto em 1997 por causa de um câncer de pulmão, Canosa teve papel relevante na articulação americana de movimentos contra seu país natal e se tornou um importante empresário do ramo da engenharia, infraestrutura, energia e comunicações.

Jordi Alba, Lionel Messi, Sergio Busquets e Luis Suárez, do Inter Miami, acompanha o jogo entre Miami Heat e Boston Celtics, pela NBA. Foto: Megan Briggs/AFP

No basquete, o Miami Heat, é propriedade do bilionário (fortuna de US$ 7,8 bilhão, R$ 40 bilhões) do ramo de cruzeiros marítimos Micky Arison. Eliminada pelo Boston Celtics nas quartas de final do playoffs da Conferência Leste da NBA, a franquia conta com jogadores de alto nível, sendo o principal deles Jimmy Butler, que é amigo de Neymar. Bam Adebayo, Nikola Jović e Tyler Herro também se destacam.

Complexo esportivo em Miami Gardens

Em Miami Gardens, cidade vizinha a Miami, o grande centro esportivo da Flórida se contrói no entorno do Hard Rock Stadium, casa do Miami Dolphins, equipe de futebol americano que disputa a NFL. Esse complexo e a franquia pertencem ao empresário da construção civil Stephen M. Ross, cuja fortuna é estimada em US$ 10,1 bilhões (R$ 51 bilhões). O local recebe o Grande Prêmio de Miami de Fórmula 1 e o Aberto de Miami, de tênis. O estádio já foi escolhido para sediar a final da Copa América de futebol de 2024 - que acontece entre 20 de junho e 14 de julho -, além da decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo de 2026, incluindo, obviamente, outros jogos das demais fases dessas competições.

“Diversos fatores explicam o motivo de Miami ter se tornado um polo esportivo. O clima ajuda muito. pois são quase oito meses com dias ensolarados e temperatura amena na cidade. As instalações esportivas são modernas e bem equipadas. Miami cresceu muito após a pandemia, pois se beneficiou da descentralização causada pela crise mundial na época. A cidade se destaca como a Dubai do Hemisfério Ocidental, atraindo pessoas, principalmente empresários latino-americanos e ultrarricos de todo o mundo, em busca de sol, luxo, estilo de vida e impostos mais baixos”, afirma Daniel Ickowicz, diretor da Elite International Realty, consultoria imobiliária internacional.

Circuito da Fórmula 1 é montado no entorno do Hard Rock Stadium, em Miami Gardens. Foto: John David Mercer/USA TODAY Sports via Reuters

Sediar a Fórmula 1 em Miami exigiu muita negociação com moradores, que estavam preocupados com os impactos da categoria no trânsito, na poluição sonora e como isso poderia afetar até as aulas dos jovens e crianças da cidade. Em contrapartida, o GP de 2023, de acordo com a organização do evento, movimentou US$ 449 milhões na economia local, aproximadamente R$ 2,3 bilhões. Para efeito de comparação, em São Paulo, a corrida em Interlagos, gerou um impacto de R$ 1,64 bilhão no ano passado.

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“Há um aumento da aceitação por parte da população, principalmente ao perceber que esses eventos impactam diretamente a economia local e aos investidores. Como no ano passado foi apenas a segunda edição do GP na cidade, é normal que alguns transtornos, principalmente de logística, aconteçam e diminuam a partir de cada realização, ano após ano”, pontua Ickowicz, que também aponta a comunidade latina como um fator crucial para o desenvolvimento esportivo da região. De acordo com dados mais recentes, de 2020, 26,5% da população da Flórida é composta por hispânicos.

“Muitos empresários latino-americanos de sucesso se mudaram recentemente para Miami e muitos outros estão previstos para chegar. Essa migração impacta diretamente não só a economia local como um todo, mas também o esporte da região, pois o povo latino é um público que gosta e consome muito o esporte”, afirma Ickowicz.

Quais os impactos que eventos esportivos causam em uma cidade?

Eventos esportivos importantes, como Fórmula 1 e uma Copa do Mundo, obrigam a cidade a uma adaptação estrutural, o que movimenta os setores de hotelaria, alimentação, transporte e entretenimento. Essas esferas são fundamentais para fazer de uma cidade um destino turístico e comercial.

“Miami é um bom exemplo de como uma estratégia de parcerias público-privadas pode fazer do esporte uma ferramenta de desenvolvimento urbano e multiplicação de negócios. Foram essas parcerias que viabilizaram a construção de instalações de ponta, a organização de grandes eventos e a multiplicação de atividades ao ar livre, promovendo a cidade como destino turístico e consolidando a associação dela com estilos de vida saudáveis”, analisa Joaquim Lo Prete, country manager da Absolut Sport no Brasil, agência de experiências esportivas.

Corrida principal da Fórmula 1 em Miami acontece neste domingo, às 17h. Foto: Rebecca Blackwell/AP

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A cidade de São Paulo, por exemplo, tem um plano ambicioso para figurar como o principal polo esportivo da América Latina. Candidata a sediar os Jogos Pan-Americanos de 2031, a capital paulista vai receber no dia 6 de setembro o primeiro jogo da NFL no País. Na Neo Química Arena, Philadelphia Eagles e Green Bay Packers se enfrentarão. A cidade ainda ambiciona abrigar uma partida da NBA em breve. São Paulo já é a única do mundo a receber as três principais provas de automobilismo da FIA: Fórmula 1, Fórmula E e Mundial de Endurance (WEC).

No entanto, qualquer cidade do País está distante de viver a realidade de Miami, segundo Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento comandada pelo cantor Jay-Z. “O que se passa lá depende de vários aspectos inerentes a uma economia aberta, de incentivo ao empreendedorismo e valorização dos mais qualificados e dedicados. O Brasil representa o oposto de tudo isso. Não teremos, em pelo menos duas décadas, qualquer possibilidade de replicar seu sucesso”.

“Para que uma cidade se converta em um polo internacional nos esportes, artes, e eventos relacionados a esses, é preciso, antes de mais nada, ser uma cidade atrativa para imigrantes, para o fluxo de pessoas e ideias, ser uma cidade que faça com que pessoas de diferentes nacionalidades queiram viver nela, e nenhuma cidade no Brasil é interessante assim, nem mesmo São Paulo”, complementa Freitas. “Nossas cidades são inseguras, caras - por causa da oferta limitada de serviços, decorrente de elevados impostos e encargos - e três quartos da nossa população é incapaz de acompanhar o ritmo das inovações no mundo”.

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