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Futebol popular? Altos custos afastam torcedores de jogos nas Eliminatórias na América do Sul

Preços elevados, baixos salários e economias instáveis no continente distanciam classes populares dos estádios

Por David Salazar

Na América do Sul, região onde nasceu o campeão mundial Lionel Messi, admirado tanto por ricos como por pobres, desfrutar do futebol da seleção nacional no estádio é um privilégio. Os altos preços dos ingressos para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo distanciam as classes populares de seus ídolos.

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Na primeira rodada, disputada em setembro, surgiram reclamações sobre preços altíssimos em países que vivem o futebol como uma religião. Os valores foram criticados pelo técnico Lionel Scaloni, da seleção argentina, pelo meia chileno Arturo Vidal, e especialmente pelos torcedores, que sobrevivem com baixos salários em economias instáveis e com inflação disparada, como a Colômbia, que vende, em Barranquilla, o segundo ingresso mais caro do continente, segundo cálculos da AFP.

O custo médio para assistir a uma partida da seleção colombiana em casa é de cerca de US$ 102 (cerca de R$ 516,80 na cotação atual), em um país com um salário mínimo de US$ 270 (R$ 1.368,00). Pablo González, trabalhador de uma universidade em Barranquilla, encarregado de serviços de manutenção e limpeza, já se conformou com o fato de que não poderá ver seu time na quinta-feira contra o Uruguai por falta de dinheiro.

Ídolo distante: cada vez menos classes populares têm acesso aos jogos da seleções na América do Sul por causa dos altos presos.  Foto: LUIS ROBAYO / AFP

“No caso pessoal (pagar) é algo impossível (…) há pessoas que têm um poder de compra muito elevado mas não se pode usufruir disso”, queixou-se o torcedor de 49 anos.

A partida de estreia da seleção brasileira nas Eliminatórias, contra a Bolívia, no Mangueirão, também foi alvo de críticas pelo alto custo dos ingressos. A entrada mais barata, nas arquibancadas, custou R$ 200, enquanto a mais cara, nos camarotes, chegou a R$ 1.600. O Brasil venceu por 5 a 1 diante de 43 mil pessoas em Belém. Para o jogo desta quinta-feira, contra a Venezuela, na Arena Pantanal, em Cuiabá, o preço dos ingressos variam entre R$ 200 e R$ 600.

‘Exclusivo’

A caminhada triunfante que a Argentina faz pelo continente pensando na próxima Copa do Mundo desperta paixões e frustrações entre os torcedores de um país com uma inflação anual de 120% e um índice de pobreza que ultrapassa os 40% da população.

Para a partida contra o Paraguai, a federação providenciou ingressos que custam em média 120 dólares pelo câmbio oficial (R$ 608,3). Dada a quantidade de torcedores que querem ver Messi e companhia, a entidade máxima do futebol argentino lançou o “AFA ID”, uma espécie de assinatura da seleção albiceleste que dá prioridade na compra de ingressos a quem o adquirir.

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Aquela que dá mais benefícios, chamada de categoria “Gold”, fica perto de R$ 14 mil, valor totalmente diferente do salário base de R$ 323. Sem condenar diretamente os preços fixados, o técnico Lionel Scaloni disse em setembro que gastou milhares de pesos argentinos em ingressos para sua família e sugeriu que os torcedores sofressem na vontade de acompanhar a “Scaloneta”.

Torcedor do Uruguai presente em partida contra o Equador pelas Eliminatórias.  Foto: ERNESTO RYAN / AFP

“Me custa muito, como a toda a gente. Mas não sou ninguém para definir o preço dos bilhetes”, disse em conferência de imprensa. “Se dependesse de mim, deixaria as pessoas irem de graça. (mas) O que posso fazer? Não posso fazer nada sobre isso”, disse ele.

Alguns preços “excluem algo popular como o futebol”, afirmou Candela Thompson em nota da agência estatal argentina Télam. No Brasil, os preços variam de acordo com a capacidade socioeconômica da cidade-sede das partidas, enquanto o desinteresse pela seleção cresce entre os brasileiros.

Arrependimento

Considerado um jogador de futebol do povo por sua origem humilde, o capitão Arturo Vidal foi o encarregado de se manifestar no Chile. “Os ingressos são caros. Já avisamos ao presidente (da federação chilena de futebol Pablo Milad) para baixá-los um pouco, porque são muito caros, precisamos do estádio cheio”, disse ele antes da partida contra a Colômbia, no dia 12 de setembro. em um stream do Twitch.

Segundo a imprensa chilena, ao contrário das eliminatórias anteriores, os torcedores da Roja demoraram vários dias para adquirir todos os ingressos para o estádio Monumental de Santiago.

Torcedores chilenos com máscaras dos jogadores Vidal, Alexis Sánchez e Medel antes de partida contra a Colômbia.  Foto: JAVIER TORRES / AFP

No Uruguai, os dirigentes fizeram um mea culpa pelos preços, o que impediu que o Centenário de Montevidéu fosse preenchido para a estreia oficial no banco de “El Loco” Marcelo Bielsa, no dia 8 de setembro com o triunfo celestial por 3 a 1 sobre o Chile.

“Cometemos um erro”, reconheceu o presidente da Federação Uruguaia de Futebol (AUF), Ignacio Alonso, em declarações à Esdrújula TV noticiadas pelo jornal El País. “A prova é que o estádio deveria ter tido uma venda de 40 mil bilhetes, que foi o que foi permitido naquele dia, e tivemos cerca de 31.500″, admitiu. “São 8.500 que não foram e isso responde à rejeição dos preços”, disse Alonso, que reduziu ligeiramente os custos da janela de qualificação em outubro. / AFP

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