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Por que as trocas de jogadores entre clubes caíram em desuso no futebol brasileiro?

Sem dinheiro, equipes como o Santos e Corinthians voltam a recorrer a esse artifício no mercado da bola para renovar seus elencos para 2024

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Foto do author Ricardo Magatti
Foto do author Marcos Antomil
Atualização:

Movimento comum no futebol brasileiro, as trocam de atletas diminuíram nos últimos anos. No entanto, sem dinheiro, alguns clubes acenam para a retomada desse instrumento no mercado da bola. Rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro, o Santos é um dos que avaliam trocar atletas para renovar seu elenco para a disputa da segunda divisão em 2024.

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O time da Vila Belmiro tentou, sem sucesso, trazer o técnico Thiago Carpini. Para isso, propôs ao Juventude envolver jogadores de seu plantel para abater o valor da multa rescisória do treinador, que, por ora, decidiu ficar na equipe gaúcha. Agora, o plano do Santos é se livrar do atacante Lucas Braga. O clube quer mandá-lo para o Corinthians e, em troca, receber o goleiro Ivan, que está emprestado ao Vasco, mas que busca outro time para ser titular e poder se destacar, já que atuou em apenas três partidas em 2023 na equipe do Rio.

O artifício a que recorre o Santos nesta janela de transferências para montar um novo elenco é antigo, foi muito usado por pequenos e grandes clubes no passado, mas, nos últimos anos, praticamente caiu em desuso pelos principais times do País.

“O momento atual do futebol dificulta esse tipo de negociação porque há mais variáveis envolvidas hoje em uma mudança de um jogador para outro clube. Tem os empresários, salário que cada um ganha, o valor de mercado, às vezes também algo relacionado à rivalidade”, analisa Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.

“Às vezes os times até têm bons relacionamentos e fazem negócios em momentos distintos, vendendo, comprando ou emprestando jogadores, mas a troca direta, como já ocorre muito, realmente tem se reduzido”, constata o mandatário.

VEJA ALGUMAS DAS PRINCIPAIS TROCAS DO FUTEBOL BRASILEIRO

Lucas Braga pode ser envolvido em troca pelo Santos. Foto: Carla Carniel/ Reuters

Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que gerencia as carreiras de Vini Jr, Lucas Paquetá, Endrick e Gabriel Martinelli, aponta que, no passado, os atletas eram mais dependentes dos cartolas para renovar seus contratos ou encontrar novos destinos. A realidade atual é diferente.

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“É praticamente impossível encontrar um atleta que não tenha um representante entre os de alto nível. Isso faz com que o tempo restante de contrato de um atleta seja um ativo que vai se transferindo do clube para o atleta, até próximo de ficar livre do vínculo que tem, passa a poder exigir mais para renovar esse vínculo, ou receber mais como ‘luvas’, de quem busca contratá-lo sem custo, já ao fim do seu acordo. Isso faz com que os atletas não aceitem mais, como aceitavam, trocas idealizadas ou conduzidas pelos dirigentes dos clubes”, avalia.

‘Equivalência econômica e reciprocidade esportiva’

Outro clube com pouco dinheiro em caixa e com muitos atletas considerados “dispensáveis”, o São Paulo queria o meio-campista argentino Emmanuel Martínez. Por isso, sugeriu ao América Mineiro uma troca, mas o time mineiro reprovou os nomes oferecidos e não houve acordo. Nesse caso, também é cada vez mais natural o atleta dar a sua opinião, se ele quer ou não ser trocado com outro clube.

“Uma operação de troca de atletas só é viabilizada quando se materializa uma equivalência econômica e uma reciprocidade esportiva grande entre os atores da negociação”, lembra Guilherme Falcão, membro do Comitê de Gestão do futebol do Sport. “Aquele que detém o jogador alvo precisa estar confortável em negociar o seu ativo em troca de um outro atleta que ele entende que lhe dará retorno esportivo. É quase o alinhamento dos astros”, observa o dirigente.

Esse alinhamento aconteceu, por exemplo, com operações entre arquirrivais. Em 2014, Alexandre Pato estava sem clima no Corinthians e Jadson queria deixar o São Paulo. As diretorias entraram em acordo e o negócio acabou se revelando bom para ambas as partes. O atacante caiu nas graças da torcida são-paulina e o meio-campista foi importante para a equipe alvinegra ganhar duas vezes o Brasileirão, em 2015 e 2017. Eles acabaram se identificando com as novas bandeiras.

Jadson e Alexandre Pato foram envolvidos em troca por Corinthians e São Paulo em 2014. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Um dos principais jogadores do atual elenco do São Paulo só veio graças a uma troca. Em agosto de 2020, o clube paulista mandou Everton para o Grêmio e recebeu Luciano. Para o São Paulo, a operação foi bastante positiva.

O atacante levou pouco tempo para criar identificação com a torcida e virou ídolo de muitos são-paulinos com gols e apresentações decisivas para o título do Paulistão de 2021 e o da Copa do Brasil de 2023. Para o Grêmio, não foi uma boa escolha. Everton não emplacou. Foram apenas dois gols com a camisa do time gaúcho. Hoje, ele defende a Ponte Preta.

Resposta apenas em campo

Sob nova direção, o Corinthians também tem especulado junto ao mercado neste fim de ano e sob nova administração a possibilidade de ofertar atletas em troca de reforços. A ideia do presidente Augusto Melo, que assume o posto em janeiro, é qualificar seu elenco mantendo a folha salarial, orçada atualmente em cerca de R$ 20 milhões por mês. Alguns nomes são ventilados para incorporar as negociações. O volante argentino Fausto Vera é um ativo do clube alvinegro que pode ser usado como moeda de troca.

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As condições para se concretizar uma troca envolvem uma série de fatores. Necessidades do elenco, vontade do jogador, situação financeira do clube e o valor dos atletas envolvidos devem ser equilibradas. No entanto, por mais que o cálculo seja equilibrado, quando o atleta pisa em campo é que realmente se encontra uma resposta se a troca valeu a pena.

“De certa forma, existe uma organização melhor na construção dos elencos. Na área de recrutamento, há uma redução, uma minimização dos erros na escolha de um jogador. Isso possibilita que seja difícil que a maioria dos clubes se arrependa dos jogadores contratados”, opina Sandro Orlandelli, membro da Uefa Academy e especialista na identificação de talentos da Federação Inglesa de Futebol. Ele trabalhou em Arsenal, Manchester United e seleção brasileira.

O próprio Corinthians já experimentou essa situação no fim da década de 1980 com o arquirrival Palmeiras. O clube alvinegro trouxe para seu plantel o meia Neto e o lateral Denys e mandou para o time alviverde o meia Ribamar e o lateral Dida. Neto se tornou ídolo no time do Parque São Jorge, enquanto Ribamar e Dida passaram sem qualquer brilho na história palmeirense.

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