Análise:O Santos resgatou algo tão óbvio no futebol, mas que parece relegado a segundo plano pela maioria das equipes: a obsessão pelo gol. Marca três, quatro, cinco e sempre busca mais. Não se contenta em fazer 1 ou 2 a 0, garantir a vitória e depois "poupar as energias" para a rodada seguinte, o lugar-comum dos tempos modernos. O São Paulo, por exemplo, usou o jogo de quinta-feira à noite, contra o paraguaio Nacional, no Morumbi, para explicar o rendimento modesto na vitória de anteontem sobre o Mogi. Assegurou o resultado e depois abdicou de jogar. Os Meninos da Vila, também na quinta, fizeram quatro contra o Remo, no Pará. Chegaram a São Paulo na sexta, treinaram no sábado e marcaram mais nove contra o Ituano.Há, realmente, quem se poupe. O problema maior, porém, é outro: falta talento. O Palmeiras talvez seja quem mais sofre dessa carência entre os "grandes". Os santistas jogam com cinco, seis ou sete atletas atacando, marcam sob pressão a saída de bola do adversário e têm variação surpreendente de jogadas numa época em que prevalece o pragmatismo. Acuam o oponente chegando pelas pontas, tocando pelo meio, armando contra-ataques rápidos, fazendo cruzamentos na área e usando seus bons cobradores de falta.Mesmo em derrotas, como contra o Palmeiras, os Meninos proporcionam diversão ao público. O que parecia presunção de seu presidente, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, hoje vem se confirmando na prática: a comparação com o Cirque du Soleil. O Santos é o único que proporciona momentos de circo no Brasil. Tem jogadores técnicos (Marquinhos e Paulo Henrique Ganso), rápidos e habilidosos (Neymar e Robinho), além de goleadores (Neymar e André). Dorival Jr. conseguiu unir as peças e transformar o bom elenco num grande time, mesmo expondo a defesa e frequentemente sofrendo gols.Numa fase decisiva, a equipe pode até ser superada pela força de marcação de um Corinthians ou São Paulo. Mas os Meninos da Vila já podem se considerar os vencedores deste primeiro semestre.