É antigo um vídeo no qual o ministro Alexandre de Moraes é vaiado na Avenida Paulista, em São Paulo. Uma postagem resgata as imagens com a legenda "Xandão fez o teste de popularidade e deu ruim". Sem informar que as imagens foram gravadas em 2016, a postagem passa a ideia a usuários de que seria um vídeo atual. Esse conteúdo foi compartilhado ao menos 1,4 mil vezes no Facebook.
O vídeo mostra imagens de Alexandre de Moraes andando pela Avenida Paulista enquanto é vaiado e xingado por manifestantes. Ele é escoltado por seguranças até um carro e vai embora. Duas pessoas chutam o carro em movimento.
No canto superior esquerdo do vídeo é possível ver a marca d'água da TV Folha, setoraudiovisual do jornal Folha de S. Paulo. Uma pesquisa no Google com as palavras-chave "TV Folha + Alexandre de Moraes + vaiado + Avenida Paulista" leva para uma reportagem do dia 17 de março de 2016 onde o vídeo foi originalmente publicado.
A matéria "Secretário da Segurança de SP é vaiado e deixa av. Paulista sob escolta policial" informa que Moraes - à época à frente da Segurança Pública no governo paulista - foi xingado de "fascista", "vagabundo" e "oportunista" por manifestantes contrários ao governo de Dilma Rousseff. Segundo a Folha, o secretárioAlexandre informou que a polícia desbloquearia a avenida ainda naquele dia, pois manifestações pró-governo estavam marcadas para o dia seguinte.
Confira o vídeo abaixo:
Como mostrou o Estadão, manifestantes fizeram vigília ao longo da noite contra a decisão de Dilma Rousseff de nomear o ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil. Lula teria como principal missão reorganizar a base política do governo e tentar evitar o andamento do processo de impeachment. No mesmo dia, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro divulgou interceptação telefônica entre Dilma e Lula que serviu para a oposição acusar o ex-presidente de usar a nomeação para ter foro privilegiado e deixar a jurisdição da Justiça Federal do Paraná.
O Estadão também registrou os ataques contra Alexandre de Moraes.
Postagem engana
A postagem analisada foi publicada em 2 de maio de 2022. Sem nenhuma informação de que o vídeo é antigo, leitores acreditaram ser uma gravação recente e interpretaram a reação a Alexandre de Moraes no contexto dos atuais embates entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Supremo Tribunal Federal.
Um usuário usou um termo pejorativo para se referir aos ministros do STF e questionou se eles "andarão nas ruas de peito aberto" quando deixarem a Corte. Outro opina que "pior ministro não existe", mas Moraes só foi indicado por Michel Temer (MDB) para o STF em 2017.
Postagens imprecisas que não informam o local ou a data em que o conteúdo foi produzido são enganosos porque não permitem ao usuário conhecer seu contexto original. Desconfie também de vídeos e fotos com baixa qualidade. Eles escondem detalhes nas imagens que permitiriam uma busca por mais informações para confirmar sua veracidade.
A Lupa e AFP Checamos também analisaram este conteúdo.
Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.
Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
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