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Rio pegando fogo foi gravado na Austrália, não no Pantanal

Esta e outras imagens de queimadas circulam fora de contexto nas redes sociais

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Atualização:

Atenção: esta checagem contém imagens fortes.

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É falso que a foto de um rio em chamas tenha sido feita no Pantanal. A imagem foi tirada de um vídeo feito na Austrália por um deputado, que denunciava a exploração de gás de xisto. Essa e outras fotos circulam nas redes sociais fora de contexto, em meio às queimadas que podem já ter destruído 19% do bioma brasileiro. A postagem analisada recebeu 926 compartilhamentos no Facebook.


Imagens circulam fora de contexto nas redes sociais. Foto: Reprodução

"O pantanal está virando cinzas e muitos fingem que não sabem ou fingem que não vêem. Então, aqui algumas imagens para vocês, elas são fortes, mas é o que está acontecendo agora", diz a legenda da publicação. Ela acompanha 22 fotos, mas nem todas são atuais nem mostram a destruição que assola o Pantanal.

Para identificar a origem das fotografias utilizadas, o Estadão Verifica utilizou o mecanismo de busca reversa de imagens do Google. Ele permite identificar outras vezes em que as fotos foram utilizadas anteriormente.

A imagem de destaque mostra as águas de um rio em chamas, enquanto um homem dentro de um bote acompanha a cena. No entanto, o registro é da Austrália, em 2016. A gravação foi feita por Jeremy Buckingham, um ex-deputado do estado de New South Wales. Ele tem histórico de defesa do meio ambiente e neste vídeo denunciava os danos ao meio ambiente causados pela exploração do gás de xisto por meio de uma técnica chamada fracking.


Ex-deputado australiano denuncia impactos ambientais da exploração do gás de xisto. Foto: Reprodução

Outra imagem mostra fazendeiros salvando cavalos de um rancho que pega fogo ao norte de Los Angeles, no estado norte-americano da Califórnia. A foto, de Etienne Laurent, fotógrafo da agência de notícias EFE, foi publicada pelo jornal The Telegraph em 1º de novembro de 2019.

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 Foto: The Telegraph/Reprodução

Também foi tirada na Califórnia a terceira foto, clicada por Mark Ralston, da agência de notícias AFP, em 9 de dezembro de 2017. Ela mostra bombeiros combatendo incêndios na região de Ojai. Essa foto está disponível no banco de imagens Getty Images.


 Foto: Getty Images/Reprodução

A foto de um filhote de onça machucado não é recente. Ela foi publicada pelo jornal O Globo na reportagem "Animais fogem das queimadas no Pantanal e acabam atropelados em rodovias de Corumbá", de 23 de maio de 2009. O texto fala do perigo de atropelamento de animais que fogem das chamas. A imagem foi cedida por Nara Pontes, bióloga do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres de Campo Grande.


 Foto: O Globo/Reprodução

A foto de um filhote de anta com o corpo queimado foi tirada em setembro de 2016. O animal havia sido resgatado de um incêndio em plantio de cana de açúcar pela ONG Instituto Ayumi, que atua em Mineiros, cidade do Cerrado goiano. O filhote acabou não resistindo e morreu.

https://www.facebook.com/karolyne.almeidasouza/posts/1144548652279579

A foto do que parece ser um filhote de felino ferido tampouco é recente. O Estadão Verifica encontrou a imagem sendo utilizada ao menos desde 2016. Ela foi postada em um site de proteção animal e não possui indicação de autoria. O texto fala do risco de atropelamento de animais no Estado de Rondônia.


 Foto: Olhar Animal/Reprodução

Os animais sofrem com incêndios em outros Estados brasileiros. A imagem do tatu morto é de Castilho, cidade no interior de São Paulo. O animal morreu durante um incêndio que começou em canavial mas atingiu uma reserva ambiental. A foto foi publicada no portal G1 em 28 de agosto de 2019.


 Foto: G1/Reprodução

Também não são recentes as fotos de vacas mortas em um solo queimado. O Estadão Verifica identificou uma delas no site Agro Olhar em 18 de setembro de 2017. De acordo com a reportagem, propriedades rurais nas cidades de Nova Ubiratã (480 km de Cuiabá), Colíder (480 km da capital) e Nova Santa Helena (605 km de Cuiabá) acabaram com mais de 350 hectares de vegetação em um assentamento e levou à morte de vacas leiteiras e animais silvestres. As imagens foram retiradas do Facebook.

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 Foto: Agro Olhar/Reprodução

Já a segunda imagem mostra animais que foram pegos por uma queimada em Jataí, na região sudoeste de Goiás. A foto foi publicada pelo portal G1 em 17 de setembro de 2019 na matéria "Vídeo mostras 13 cabeças de gado carbonizadas após queimada atingir assentamento em Jataí".


 Foto: G1/Reprodução

A imagem de uma espécie de réptil foi tirada em Mato Grosso do Sul, mas não é recente. Ela foi clicada por Chico Ribeiro, fotógrafo do governo do Estado, em 5 de novembro de 2019 e mostra as consequências de incêndios florestais às margens das rodovias BR 262 e MS 184.


 Foto: Fotos Públicas/Reprodução

O fotógrafo Ricardo Funari, da agência Brazil Photos, retratou a exploração de madeira na Floresta Amazônica em novembro de 2014. A foto mostra um homem cortando o tronco de uma árvore com uma serra elétrica. A imagem está disponível no banco de imagens da Getty Images.


 Foto: Getty Images/Reprodução

É de 2019 a foto de um brigadista do programa de combate a incêndios florestais (Prevfogo) do Ibama segurando um tatu morto. Ela foi cedida ao portal Amazônia Real pela equipe do Prevfogo em Apuí, no Amazonas, para matéria sobre morte de animais em incêndios florestais na floresta amazônica.


 Foto: Amazônia Real/Reprodução

A imagem de um tamanduá-mirim cego em posição de defesa rodou o mundo. Ela foi clicada pelo fotógrafo Araquém Alcântara em 2019. Ao Estadão, contou que a foto reflete seu "sentimento de revolta pelo que vem acontecendo". O registro foi feito enquanto ele passava pela BR Cuiabá-Santarém: "Eu pulei a cerca e vi um bicho saindo da queimada. Quando ele sentiu eu me aproximar, tentou se defender abrindo os braços, essa é uma atitude de defesa dos tamanduás. Trata-se de um crime inominável. Essas são imagens muito fortes na minha vida."

Nem todas as imagens foram tiradas de contexto

As queimadas já destruíram ao menos 19% de todo o bioma pantaneiro. O Estadão esteve na região e encontrou um cemitério de animais a céu aberto, além de um dos últimos redutos de onças-pintadas ameaçado. Além disso, a economia local será afetada e a produção de bezerros deve diminuir. A Polícia Federal analisou imagens de satélite para determinar a origem dos incêndios e investiga a responsabilidade de cinco fazendeiros.

Uma das imagens utilizadas pela postagem mostra bois e tuiuiús em meio a uma área que já foi consumida pelo fogo. Ela foi clicada pelo fotógrafo Saul Schramm na Estância Caiman, na cidade de Miranda, no Mato Grosso do Sul, onde o fogo consumiu 60% da vegetação nativa. Esta imagem pode ser encontrada no site de Fotos Públicas.

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 Foto: Fotos Públicas/Reprodução

Já no vizinho Mato Grosso, próximo à cidade de Poconé, o fotógrafo João Paulo Guimarães registrou uma jaguatirica morta em uma estrada. A imagem foi publicada junto com o relato pessoal de Guimarães, "Ninguém quer ver de perto a morte que o fogo traz para o Pantanal. Eu vi", no site Repórter Brasil.


 Foto: Repórter Brasil/Reprodução

Na mesma viagem, Guimarães registrou um cervo pantaneiro: "Observar cervos pantaneiros é uma das atrações do ecoturismo local, que vem sendo ameaçada pelas queimadas."


 Foto: Repórter Brasil/Reprodução

Na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, o fotógrafo Lalo de Almeida, da Folhapress, encontrou a carcaça de um macaco-prego em meio à área queimada. A foto foi publicada pelo portal UOL.


 Foto: UOL/Reprodução

Em Poconé, a fotógrafa Amanda Perobelli flagrou a carcaça de um jacaré. A imagem está publica em matéria da Reuters "Não é apenas a Amazônia que queima no Brasil; a maior planície alagada do mundo também".


 Foto: Reuters/Reprodução

A última foto, uma imagem área mostra a dimensão da devastação. Ela foi publicada no Facebook pelo Instituto SOS Pantanal em 16 de setembro. Ela mostra a região de Porto Jofre, uma das mais afetadas.

https://www.facebook.com/institutosos.pantanal/photos/a.1590854391088115/1933353943504823

Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

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Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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