Foi em alto nível que a vice-presidente e o presidente dos EUA, Kamala Harris e Joe Biden, deram início ao mais importante evento sobre mudanças climáticas desde a assinatura do Acordo de Paris. Após quatro anos de negacionismo trumpista, eles abriram a cúpula do clima visando dar novo impulso ao enfrentamento do aquecimento global.
Em seu discurso, Biden defendeu a ciência, enfatizou a necessidade de limitarmos o aquecimento global a 1,5°C em relação a níveis pré-revolução industrial, para evitarmos catástrofes mais frequentes e mais intensas, e convocou líderes de todas as grandes economias a acelerarem sua ação. “Todos nós, em especial os que representamos as maiores economias do mundo, temos que dar um passo à frente”, afirmou Biden.
Ele anunciou as novas metas climáticas: redução entre 50 e 52% das emissões de gases-estufa dos EUA até 2030, em relação a índices de 2005. Além disso, também se comprometeu a ajudar países mais pobres em seu desafio de desenvolvimento limpo e de enfrentamento dos eventos climáticos extremos com recursos. Biden foi elogiado por vários dos líderes que discursaram a seguir, como Angela Merkel, Emmanuel Macron, Ursula von der Leyen, Xi Jinping, Yoshihide Suga e Narendra Modi.
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O “neo-ex-negacionista” Jair Bolsonaro fez sua primeira participação em eventos sobre clima. Buscando conseguir um cheque em branco americano para proteger florestas que ele não protege, o presidente brasileiro fez um discurso sobre um país muito diferente da realidade de sua agenda anti-ambiental. Afirmou que “o Brasil está na vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global”, apesar de ter desmantelado a governança de clima do País, apresentado em 2020 metas climáticas piores que as de 2015 e aumentado a taxa de desmatamento da Amazônia em quase 50%. Disse ainda que determinou “o fortalecimento dos órgãos ambientais”, na mesma semana em que mais de 600 agentes do Ibama denunciaram a paralisação da fiscalização por mudanças em normas feitas pelo ministro Ricardo Salles.
Mas o efeito do discurso de Bolsonaro sobre Biden deve ser quase nenhum. O americano, que não assistiu ao discurso de Bolsonaro, recebeu recentemente inúmeras cartas assinadas por indígenas, ex-ministros, ambientalistas, artistas e até senadores democratas alertando-o sobre os riscos de os EUA se tornarem sócios da destruição da Amazônia se derem um cheque em branco para o governo brasileiro “proteger a floresta e seus povos.”
Como resultado, Biden convidou outra brasileira para participar do evento. Sineia do Vale, líder indígena wapichana falou da importância do conhecimento dos povos indígenas e o respeito a seus direitos, sob ataque na gestão Bolsonaro, para a proteção da Amazônia e o enfrentamento das mudanças climáticas. Este contraponto importante foi um enorme revés para Bolsonaro.
É DOUTOR EM BIOLOGIA TROPICAL PELO INPA (INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA) E SECRETÁRIO-EXECUTIVO DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA
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