Brasil rejeita tentativa de Grupo de Lima de punir chavismo na ONU
O governo brasileiro não aderiu a um projeto de resolução que países latino-americanos entregaram nesta segunda-feira, 3, aos membros da ONU para condenar as violações de direitos humanos na Venezuela
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Por Jamil Chade, CORRESPONDENTE e GENEBRA
3 min de leitura
O governo brasileiro não aderiu a um projeto de resolução que o Grupo de Lima entregou nesta segunda-feira, 3, aos membros da ONU para condenar as violações de direitos humanos na Venezuela. O Estado apurou que, desde a semana passada, os países latino-americanos do Conselho de Direitos Humanos da ONU iniciaram consultas para usar a nova reunião do órgão, na semana que vem, para pressionar o regime de Nicolas Maduro.
Maduro tem acusado Washington de agir ativamente para obter sua deposição Foto: Palácio Miraflores / Reuters
O projeto de resolução condena os abusos do governo e pede que a ONU realize de forma periódica avaliações sobre crimes cometidos pela Venezuela. A resolução, se aprovada, seria uma forma incrementar os ataques internacionais contra o regime, ampliando seu isolamento.
Apesar de o Grupo de Lima estar unido na pressão contra Maduro, os diplomatas latino-americanos foram pegos de surpresa com a decisão do Brasil de não se juntar à iniciativa. A recusa em apoiar o texto também chamou a atenção dos europeus, que acreditavam que o maior país da América Latina teria um peso importante na pressão sobre o chavismo.
O gesto brasileiro foi interpretado como um sinal de que, em plena campanha eleitoral, o governo de Michel Temer teria outras prioridades. Além do Brasil, fazem parte do Grupo de Lima Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru.
Inflação: Quanto se gasta para fazer compras na Venezuela
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Queijo: 7,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 1,14 e foi registrado em um mini-mercado em Caracas, capital da Venezuela, em 16 de agosto. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Pacote de absorventes: 3,5 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado na vizinhança de Catia, em Caracas, e corresponde a US$ 0,53. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Um quilo de arroz: 2,5 milhões de bolívares
O preço corresponde a US$ 0,38 e foi registrado em 16 de agosto, na capital Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
500 g de margarina: 3 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado informal na vizinhança de Catia, de baixa renda, em Caracas. O custo do produto corresponde a US$ 0,46. Foto:
1 quilo de cenouras: 3 milhões de bolívares
O custo corresponde a US$ 0,46 e foi registrado em um mercado informal em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de farinha de milho: 2,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 0,38. O registro foi feito no dia 16 de agosto, em um mercado de Catia, região de baixa renda em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Sabonete: 3,5 milhões de bolívares
No dia 16 de agosto, o preço foi registrado em um mini-mercado da capital venezuelana. O preço corresponde a US$ 0,53. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Pacote de fraldas: 8 milhões de bolívares
O custo equivale a US$ 1,22 e foi registrado no dia 16 de agosto, em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
2,4 quilos de frango: 14,6 milhões de bolívares
O preço é o equivalente a US$ 2,22 e seu registro foi realizado no dia 16 de agosto. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Um rolo de papel higiênico: 2,6 milhões de bolívares
O preço foi registrado em um mini-mercado informal de um bairro de baixa renda, em Caracas. O valor corresponde a US$ 0,40. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de macarrão: 2,5 milhões de bolívares
O valor é equivalente a US$ 0,38 e foi registrado no dia 16 de agosto, em um mini-mercado informal. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de carne vermelha: 9,5 milhões de bolívares
O preço equivale a US$ 1,45 e foi registrado em mercado informal de Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
1 quilo de tomates: 5 milhões de bolívares
Preço é o equivalente a US$ 0,76 e foi registrado em um pequeno mercado informal no bairro de Catia, em Caracas. Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Oficialmente, o Itamaraty explicou ao Estado que o motivo de não aderir ao projeto era outro, mas tampouco esclareceu de forma detalhada quais eram as razões. “O Brasil não é do núcleo duro da resolução e, portanto, não patrocinará a iniciativa, pois está concentrando seus esforços, no momento, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA)”, disse a chancelaria brasileira em nota enviada à reportagem.
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“Estamos acompanhando com atenção e interesse as tratativas em Genebra para determinar nossa posição”, ponderou. “Esse fato, porém, não significa que o Brasil tenha deixado de ter grande preocupação, já externada, com a situação dos direitos humanos na Venezuela”, garantiu a diplomacia do Brasil.
Direitos Humanos na Venezuela
Desde o início da crise na Venezuela, é apenas a segunda vez que os governos conseguem chegar a um acordo sobre uma resolução para ser apresentada na ONU. No início do ano passado, coube ao Paraguai apresentar um projeto. O governo paraguaio foi acusado por Maduro de agir em nome dos EUA.
Crise se agrava e crianças morrem de fome na Venezuela
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O bebê Esteban Granadillo, de 18 dias, tem menos de 2 quilos. Salas de emergência ao redor do país têm lidado cada vez mais com casos de desnutrição. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Situação já era ruim no país, mas piorou nos últimos meses. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Médico examine Rusneidy Rodríguez, de um mês, com desnutrição severa. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Segundo a ONU, 815 milhões de pessoas vivem em estado de insegurança alimentar no planeta. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Kenyerber Aquino Merchán, de apenas 17 meses, teve morte por insuficiência cardíaca. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Mulheres de 25 a 32 anos em espera para serem esterelizadas porque a crise econômica tem impossibilitado criar filhos. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
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Wuendy Perez, mãe de cinco filhos, com a mais nova. O colapso econômico reduziu drasticamente o poder de compra dos consumidores. Foto: Meridith Kohut/The New York Times
Como representante do grupo de países não alinhados, a Venezuela conseguiu o apoio de russos, chineses, africanos e de ditaduras pelo mundo para impedir, com sucesso, que o texto paraguaio fosse aprovado.
Desta vez, com a crise se ampliando e uma maior visibilidade internacional, a esperança do Grupo de Lima é de que o texto seja aprovado. Mas Caracas promete não ficar em silêncio. O Estado apurou que Maduro usará o mesmo encontro da ONU para propor uma resolução que condene qualquer ingerência externa em assuntos considerados domésticos.