Brasileiro planejou ser preso na Venezuela para chamar atenção

Jonatan Moisés Diniz, que ficou 11 dias em prisão no país caribenho acusado de tramar contra o governo de Nicolás Maduro, afirma que premeditou detenção para colocar foco nas crianças que 'morrem de fome diariamente no país'

PUBLICIDADE

Por Murillo Ferrari
Atualização:

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, afirmou que sua prisão pelo governo da Venezuela foi planejada para chamar atenção para as ações de sua ONG, a Time to Change the Earth (Hora de mudar a Terra, em tradução livre). Ele ficou 11 dias em uma prisão do país caribenho, sem contato com advogados ou com diplomatas brasileiros.

Brasileiro preso pelo chavismo relata violência psicológica, mas nega ter sofrido abuso

A revelação foi feita em um vídeo de pouco mais de cinco minutos exibido pela ONG durante apresentação em Balneário Camboriú, sua cidade sede, e confirmada ao Estado nesta quinta-feira pela presidente da Organização, Veridiana Maraschin.

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, que foi preso em Caracas acusado de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro Foto: Reprodução / Jonatan Diniz / Facebook

PUBLICIDADE

"O que eu vou falar aqui é bomba", diz Jonatan no começo da gravação. "Se eu fui pra lá e fui preso é porque eu incitei ser preso. Eu planejei ir para a Venezuela, chamar atenção e ser preso. Realmente, admito aqui que sozinho, com o dinheiro que eu tinha e com o dinheiro dos meus amigos, não daria pra salvar muita gente. Não daria pra salvar nem cem crianças", justifica Diniz.

"Num ato não desesperado, mas num ato sem medo eu fui para a Venezuela e ajudei o máximo possível de pessoas", afirma.

Crise se agrava e crianças morrem de fome na Venezuela

Sobre a tática de Diniz, Veridiana diz que a ONG só tomou conhecimento depois da revelação feita no vídeo e por isso "não aprova nem desaprova", mas que apoia decisões que "tragam resultados positivos para as crianças"."(A decisão) foi arriscada, mas nós acreditamos que essa foi uma estratégia que vai ajudar nossa causa, as crianças precisam ser vistas e foi um meio pra que isso acontecesse", explicou.

Publicidade

"Os olhares precisam ser desviados para elas e não terem foco no Jonatan. O objetivo da ONG é fazer com que as pessoas doem e se doem mais, independente do local em que se encontram", afirmou.

Veridiana também questionou a informação de que Diniz teria um histórico de problemas psiquiátricos. "Conheço o Jonatan há anos e tenho certeza que se isso fosse verdade ele, assim como a sua família, teria me contado", afirmou.

O plano

Ainda no vídeo, brasileiro afirma que com sua ação "enfrentou de cara" pessoas poderosas no país, que são ligadas ao presidente (Nicolás Maduro) e às Forças Armadas. "Como eu já esperava, iam me colocar na cadeira."

PUBLICIDADE

"Eu fui pra cadeia porque queria, justamente para acontecer essa repercussão, pra vocês prestarem atenção que tem crianças morrendo de fome lá. Sozinho, minha voz não teria poder para chegar a essa gente e tentar salvar essas crianças", continua Diniz.

+ Brasileiro preso pelo chavismo foi confundido com americano, diz família

"O plano deu absolutamente certo. Me desculpem por deixar as pessoas ansiosas, mas eu digo assim: os fins justificam os meios. Foram 11 dias de apreensão, 11 dias de orações e eu sei que muita gente se preocupou. Só que minha vida não é nada. Tem criança morrendo todo santo dia lá."

Publicidade

Já perto do fim da mensagem, o brasileiro diz ter provas de que antes de viajar à Venezuela avisou uma ex-namorada sobre o plano - segundo ele, ela era única que sabia de suas intenções. "O que eu fiz foi por mim, pelas crianças, para espalhar notícias boas."

Na terça-feira, em longa mensagem publicada em sua conta no Facebook, Diniz relatou detalhes de seu cárcere e sua visão sobre ocorrido. Entre outras coisas, ele afirmou que não sofreu abusos sexuais enquanto esteve preso em uma cela de 8 metros quadrados com outros 8 venezuelanos, apesar de ter sido obrigado a ficar nu em várias ocasiões.

Diniz esclareceu ainda que, na véspera de sua libertação, foi levado até o Serviço Administrativo de Identificação, Migração e Estrangeiros (Saime), órgão público responsável pela emissão de documentos para venezuelanos e estrangeiros no país, onde foi obrigado a assinar sua expulsão e um documento que o proíbe de voltar à Venezuela pelos próximos dez anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.