Decisão de Bolsonaro de visitar Biden tem motivações internas e externas; leia análise

Presidente irá à Cúpula das Américas e terá reunião bilateral com Joe Biden

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Por Rubens Barbosa*

A decisão de aceitar o convite para a Cúpula das Américas tem de ser vista por dois aspectos. O primeiro é a política interna brasileira. O segundo é a política externa hemisférica. Na primeira, o presidente Jair Bolsonaro tinha interesse em não parecer isolado, e ele então resolveu aceitar esse convite dos EUA para poder se encontrar bilateralmente com Joe Biden.

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Outros presidentes estão ameaçando não ir, como Andrés Manuel López Obrador, do México, assim como os de Bolívia e Guatemala. Então, a primeira coisa tem a ver com a política interna brasileira, para ele não parecer isolado e não ter nunca falado com o presidente Biden antes da eleição.

O segundo aspecto é a Cúpula das Américas em si. É uma reunião que ocorre a cada quatro anos e à qual o Brasil sempre compareceu. O Itamaraty sempre foi favorável à ida do Bolsonaro a essa reunião. O presidente é que estava hesitando.

O assessor especial da Cúpula das Américas, Chris Dodd, deixa o Palácio do Planalto, em 24 de maio. Foto: Wilton Junior/Estadão Foto: Wilton Junior/Estadão

Essa cúpula é importante porque vai discutir algumas tendências, questões como democracia, meio ambiente, imigração, segurança. São os principais temas que serão tratados, e o Brasil tem interesse em todos.

Na conversa bilateral, certamente, serão mencionadas as questões das eleições no Brasil e o meio ambiente. Todas as autoridades falam sobre a necessidade de o Brasil não permitir que a Amazônia seja desmatada. Esses dois temas estarão presentes no encontro bilateral, mas não no multilateral.

Para o Brasil, tão importante na reunião bilateral quanto na multilateral, será discutir essa nova realidade, a questão das cadeias produtivas, que os americanos querem tirar da China e colocar em outros lugares. O Brasil pode ser uma área importante para atrair investimentos para essas cadeias produtivas.

Aceitar comparecer à reunião, que ocorrerá em Los Angeles, foi uma decisão importante que, de certa maneira, também favorece o presidente Biden. Ele mandou seu representante a Brasília, Christopher Dodd, porque, se o Brasil não fosse ao encontro, a Cúpula das Américas ficaria esvaziada. Sem México e Brasil, Biden ficaria numa posição mais frágil.

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* Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

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