Distrito do Texas remove Bíblia e Diário de Anne Frank das salas de aula e bibliotecas

A contestação e análise de livros é cada vez mais comum nos EUA, uma das várias mudanças nas escolas americanas que vão restringir o acesso dos alunos à diversas obras

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Por Redação
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THE NEW YORK TIMES - Um distrito escolar do norte do Texas, nos Estados Unidos, ordenou que diretores e bibliotecários retirem a Bíblia e uma adaptação gráfica de O Diário de uma Jovem, de Anne Frank, das bibliotecas e salas de aula. A ordem foi expedida na terça-feira, 16, um dia antes dos alunos retornarem às aulas.

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Os dois livros estão entre 41 obras contestadas durante o ano letivo anterior pelos familiares de alunos no Distrito Escolar Independente de Keller. A lista foi revisada, mas uma política aprovada pelo conselho de administração do local na semana passada exige que os funcionários os removam até passarem por uma nova revisão.

A varredura de livros feita de última hora é uma das várias mudanças nas escolas americanas que restringirão o acesso dos alunos às obras. Pais, funcionários do conselho escolar e legisladores têm contestado livros em um ritmo nunca visto em anos. Entre os mais examinados, estão aqueles que lidam com temas como identidade sexual e racial.

Edição em japonês do livro 'Diário de uma jovem', de Anne Frank, é vandalizado em livraria de Tóquio. Foto: Kyodo/ REUTERS - 22/02/2014

O distrito escolar de Keller atende a mais de 35 mil alunos em uma parte da cidade de Fort Worth e em outras cidades do norte do Texas. O primeiro dia de aula do distrito foi na quarta-feira, 17.

Além da Bíblia e do Diário de Anne Frank, o livro O Olho Mais Azul, de Toni Morrison, também estava na lista. Morrison é a única escritora negra da história a receber um prêmio Nobel de Literatura.

Os livros já haviam sido contestados no último ano letivo, mas permaneceram nas bibliotecas e escolas após a aprovação e autorização de um comitê. Outros livros, incluindo Gender Queer, de Maia Kobab, foram retirados da coleção do distrito ou permitidos apenas nas bibliotecas do ensino médio ou em partes específicas do campus após a revisão inicial.

Os livros serão revisados novamente. O conselho de curadores do distrito, composto por sete membros, adotou uma nova norma em 8 de agosto que exige que o distrito reconsidere todos os livros contestados no ano anterior. O distrito disse em comunicado que as diretrizes - que serão usadas para determinar se os livros são permitidos nas prateleiras - serão consideradas pelo conselho em sua próxima reunião, marcada para 22 de agosto.

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“Uma vez no lugar, nossos bibliotecários poderão usar essas diretrizes para revisar os livros que foram contestados”, disse o comunicado. “Assim que um livro for aprovado pelas novas diretrizes, ele será devolvido à estante”. O distrito disse que os curadores não estavam disponíveis para entrevistas.

Charles Randklev, presidente do conselho de administração, disse em um post no Facebook que a revisão era necessária “para proteger as crianças de conteúdo sexualmente explícito”. Ele escreveu que o processo de revisão anterior “expôs as crianças a material pornográfico”.

“O processo de contestação desses materiais passará por um comitê composto por membros da comunidade e da equipe, que será aberto ao público e gravado em vídeo e áudio”, escreveu Randklev.

Laney Hawes, mãe de quatro filhos no distrito, disse que ela era uma das sete ou oito pessoas no comitê de revisão da graphic novel de Anne Frank. Os membros do comitê leram o livro, reuniram-se para falar sobre seu conteúdo por cerca de 40 minutos e decidiram por unanimidade que deveria permanecer nas prateleiras das escolas, disse ela.

Saímos daquela sala pensando que o salvamos, salvamos este livro. Apenas depois de muitos meses para voltar e ouvir: ‘Não, não gostamos do resultado, então agora vamos rever cada livro de acordo com nossa lista estrita de requisitos

Laney Hawes

Campanha antilivros

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Esforços para retirar livros de bibliotecas, livrarias e escolas sempre estiveram presentes, mas educadores, bibliotecários, pais e políticos disseram que as proibições de livros estão se tornando mais frequentes. As táticas também mudaram, com grupos conservadores em particular apoiando esses esforços nas disputas políticas.

No norte do Texas, o Patriot Mobile Action, um novo comitê cristão de ação política, endossou 11 candidatos ao conselho escolar que venceram suas eleições. Três desses candidatos começaram a servir no conselho do distrito escolar de Keller em maio de 2022.

Jonathan Friedman, diretor de programas de liberdade de expressão e educação da PEN America, a organização de liberdade de expressão, disse em comunicado que a decisão do conselho escolar de Keller foi uma “afronta terrível aos direitos da Primeira Emenda dos alunos”.

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“É praticamente impossível administrar uma escola ou biblioteca que purgue livros em resposta a qualquer reclamação de qualquer canto”, disse Friedman.

Nas próximas semanas, estudantes de todo o país voltarão às aulas e vão se deparar com educadores enfrentando novas restrições nascidas do renovado esforço para proibir os livros.

Na Flórida, algumas escolas estão debatendo como certos livros cumprem uma nova lei, conhecida como “Don’t Say Gay” pelos oponentes, que restringe o ensino em sala de aula e a discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero.

Em um distrito escolar na Virgínia, os pais receberão uma notificação quando seus filhos retirarem um livro da biblioteca da escola e serão solicitados a assinar um formulário de consentimento após receber um programa de estudos que lista a leitura designada.

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