Caso o presidente Donald Trump perca a reeleição e o democrata Joe Biden assuma a liderança dos Estados Unidos após a eleição de terça-feira, 3 - marcada por uma apuração mais lenta em consequência do alto número de votos pelos correios por conta da pandemia do novo coronavírus -, uma das perguntas sobre o futuro do republicano é se ele tentará retornar à Casa Branca em 2024.
A Constituição americana impede que um presidente exerça mais de dois mandatos consecutivos, mas abre caminho para mais de um mandato com intervalos. "A Constituição fala em mandatos e não eleições. Ou seja, se Trump não ganhar (agora), pode participar de uma nova eleição para mais um mandato", explica a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker.
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Ela lembra que situação semelhante já ocorreu nos EUA. "Em 1884, o democrata Grover Cleveland ganhou a eleição e perdeu a reeleição quatro anos depois. Ele saiu candidato contra Benjamin Harrison e ganhou em 1892."
Politicamente, analistas avaliam que Trump teria forças para ser um candidato viável em razão da força mostrada na votação deste ano. A "onda azul" que era esperada pelos democratas não ocorreu e a eleição está apertada, será decidida por poucos votos.
Em 2008, por exemplo, o democrata Barack Obama venceu com 365 votos no colégio eleitoral a disputa com o republicano John McCain. Em 2012, a reeleição do democrata foi com 332 votos no colégio eleitoral contra Mitt Romney.
Em 2016, Trump chegou à presidência, contrariando diversos institutos de pesquisa, com 304 votos no colégio eleitoral contra a democrata Hillary Clinton. E vencer em Estados tradicionalmente democratas, como Michigan e Wisconsin, foi determinante para a vitória.
Para o professor de relações internacionais da FAAP Lucas Leite, o "trumpismo" não acaba com a eleição de 2020. "A polarização política, o negacionismo, elementos típicos desse conservadorismo e desse fervor religioso estão muito presentes", avalia. "Eles se apresentaram nessa eleição e inclusive em grupos que não imaginávamos que teriam tanta atração a esse tipo de discurso".
"A questão da extrema direita permanece, está muito forte, consegue sustentar posição junto a alguns grupos. Os ressentidos nos EUA não sumiram ainda. Muitos ainda se sentem abandonados, deixados à revelia em detrimento dos outros", afirma Leite.
Mas o professor acredita ser cedo para, em caso de derrota de Trump, traçar um eventual cenário de volta em 2024, principalmente pelo fato de o presidente ter uma personalidade imprevisível, personalista e o hábito de levar as situações para o lado pessoal. "Ele toma para si as questões como se fossem ataques a ele mesmo enquanto indivíduo. Mas é uma possibilidade, a depender de como for construída uma eventual derrota e como os republicanos se organizem para os próximos anos".
O diplomata Rubens Ricupero, que foi embaixador do Brasil nos EUA na década de 1990, concorda que causas da divisão da sociedade americana são mais profundas e não desapareceram nesta eleição.
Ele acrescenta que a disputa não trouxe a reversão que se imaginava, tendo sido, na verdade, um replay de 2016 em muitas regiões. "Trump não foi, como muita gente pensava, algo passageiro. Vê-se que tem apoio muito sólido e muitos lugares em que se dizia que haveria virada, não houve", avalia.