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Expulsos das redes, trumpistas usam aplicativos onde é mais difícil rastreá-los

Grupos organizam protestos armados para os dias até a posse de Biden; Twitter anunciou banimento de mais de 70 mil contas relacionadas à teoria da conspiração QAnon

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON — Diante das ações das redes sociais para conter conteúdos que possam incitar a violência, os seguidores mais radicais do presidente Donald Trump se espalham por cantos menos populares da internet.

Se sites como o Gab e o 4chan viraram novos pólos, o mesmo vale para aplicativos de mensagem encriptados, como o Telegram e o Signal, onde o monitoramento é mais difícil.

Fantasiado, seguidor de Donald Trumpque invadiu o Capitólio, foi confundido com Jay Kay, do Jamiroquai Foto: Stephanie Keith/ Reuters

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Desde a invasão do Capitólio por grupos pró-Trump, no último dia 6, seguidores do presidente recorrem a essas plataformas para planejar novas mobilizações. É possível encontrar múltiplas convocaçõs para atos armados nos dias até a posse de Joe Biden, em 20 de janeiro, o que complica a compreensão de suas intenções e dimensões.

A descentralização, no entanto, não tem sido um obstáculo: na segunda-feira, o FBI alertou para a possibilidade de violência nos 50 estados, além do Distrito de Colúmbia, afirmou o canal ABC News.

A migração é uma resposta à ofensiva das gigantes do Vale do Silício para conter discursos que incitam a violência, após serem usadas por grupos pró-Trump para orquestrar a invasão do Capitólio, que deixou cinco mortos em 6 de janeiro. Na semana passada, o Twitter e o Facebook suspenderam o presidente que os usava como seu principal megafone antes mesmo de anunciar que concorreria à Presidência, em 2015.

O Parler, rede social popular entre grupos trumpistas, saiu do ar na segunda-feira após a Amazon afirmar que não iria mais hospedá-la — anteriormente, a Apple e o Google já haviam deletado a plataforma de suas lojas de aplicativos. Até o momento, a plataforma ainda não encontrou nenhum serviço de hospedagem suficientemente grande que esteja disposto a abrigá-la.

A Amazon cessou o contrato com a rede social Parler Foto: Olivier Douliery/AFP

Na noite de segunda, o Twitter anunciou a suspensão de mais de 70 mil contas ligadas à teoria da conspiração QAnon, segundo a qual pedófilos satanistas controlam o Partido Democrata e as principais instituições dos EUA. Muitos usuários, disse a empresa do Vale do Silício, administravam diversas contas simultaneamente.

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"As contas estavam envolvidas no compartilhamento em grande escala de conteúdo prejudicial associado à QAnon e eram principalmente dedicadas à propagação dessa teoria da conspiração por toda a plataforma", disse a rede social em seu blog.

A empresa também anunciou que irá aumentar o controle sobre postagens que contenham informações falsas sobre a eleição presidencial ou desencorajam o voto, deixando seus usuários passíveis de suspensão permanente. Nos últimos meses, diversos tuítes de Trump e de seus aliados foram sinalizados por propagarem mentiras sobre o pleito, mas foram mantidos no ar.

O Facebook, por sua vez, disse que irá bloquear qualquer conteúdo com a expressão "Stop the Steal" (parem o roubo), usada por grupos pró-Trump que acreditam nas acusações falsas de que o pleito de novembro foi fraudado.

Outras redes sociais importantes, como o Reddit e o Snapchat, também puseram novos freios para conter conteúdos que incitem a violência.

Esperava-se que, com sua suspensão do Twitter, Trump migrasse para o Parler ou para o Gab, outra plataforma popular na extrema direita.

Isto, até o momento, não aconteceu: uma plataforma foi retirada do ar e a outra enfrenta problemas para lidar com o aumento de público.

A ausência do presidente, no entanto, não é um impedimento para seus seguidores. No Telegram, há convocações para marchas armadas nas capitais estaduais e em frente aos escritórios das gigantes do Vale do Silício.

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Canais populares dos Proud Boys e de outros grupos de extrema direita, que chegam a reunir dezenas de milhares de pessoas, realizam convocações para as marchas no próximo sábado, dia 16. Lá, circulam os endereços das sedes de empresas como Apple, Google e Facebook.

“Nossos termos de serviço proíbem expressamente apelos públicos à violência”, disse Victor Espinoza, porta-voz do Telegram. “Nós estamos examinando cuidadosamente todos os relatos e acompanharemos a situação de perto.”

Em várias plataformas, há discussões sobre as limitações à posse de armas em cada estado e como transportá-las e escondê-las ao cruzar fronteiras estaduais. Uma coalizão de sete grupos milicianos, por sua vez, divulgou em seu site que está disposto a fazer "o que for necessário para impedir que Biden seja presidente".

Membros do movimento Boogaloo, outro grupo de extrema direita, convocam para atos no dia 17. Em chats como o 4chan, é possível encontrar diversas convocações para atos no dia 20, orquestrados para coincidir com a posse de Biden. Sites menores, como o MeWee e o CloutHub, também receberam alguns destes grupos.

Diante da confusão, alguns grupos de extrema direita começaram a pedir para que seus adeptos fiquem em casa, com discussões sobre o aumento do efetivo policial na capital e as prisões dos invasores do Capitólio. Sua dimensão, no entanto, ainda parece ser pequena.

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